A experiência do Fleury com o diagnóstico da gripe suína | Revista Médica Ed. 10 - 2009

O declínio nas solicitações do teste pode indicar menor circulação do vírus, porém o H1N1 não deve ser esquecido.


O declínio nas solicitações do teste pode indicar menor circulação do vírus, porém o H1N1 não deve ser esquecido.


Depois de cinco meses de experiência com o diagnóstico do vírus influenza A (H1N1) por teste molecular, o Fleury pôde confirmar alguns aspectos observados no decorrer da epidemia no Brasil e traçar algumas tendências, embora esses dados não reflitam exatamente o que aconteceu no País como um todo. De 23 de julho de 2009, quando a pesquisa do RNA do H1N1 entrou em rotina no Fleury, até a primeira quinzena de novembro, 3.200 testes foram realizados para a detecção do novo vírus em pacientes atendidos por cinco hospitais de São Paulo, com 33% de resultados positivos.

Como era de esperar, o pico de solicitações ocorreu em agosto, por conta da maior prevalência de vírus respiratórios nesse período, sobretudo entre as crianças até os 10 anos, que mais frequentemente são acometidas por infecções respiratórias quando a temperatura cai. Nessa faixa etária, a maioria (44%) tinha até 2 anos de idade, um dos grupos em que o Ministério da Saúde recomenda a realização do teste para H1N1. Apesar disso, o maior percentual de positividade (60%) foi mesmo observado dos 10 aos 20 anos e o menor (12%), nas pessoas com mais de 60 anos. Esses dados corroboram o fato de que, diferentemente da gripe sazonal, a infecção pelo novo vírus afeta com muita frequência os jovens. Os idosos foram menos infectados pelo H1N1 – e tiveram infecções menos graves – provavelmente por um contato anterior com vírus de características semelhantes.

A positividade dos testes vem caindo, já que a circulação desse agente diminuiu nos meses mais quentes, e tende a se manter em declínio durante o verão. Para ter uma ideia, das amostras testadas no Fleury até agora, 51,5% foram positivas em julho e apenas 18,5% em novembro. Contudo, o H1N1 continua circulando e é hoje o principal agente etiológico da gripe, a ponto de responder atualmente por 80% dos quadros gripais no Hemisfério Norte, segundo os Centers for Disease Control and Prevention. Por isso, os casos suspeitos ainda devem ser investigados e, se confirmados, tratados como antes – não custa lembrar que a letalidade das infecções muitas vezes aumenta no fim de epidemias devido à diminuição do índice de suspeição clínica e à consequente demora no diagnóstico e no tratamento.

Mesmo que a experiência de ter enfrentado uma epidemia facilite as ações diante de uma nova ameaça e que a expectativa da vacinação atenue as preocupações gerais, o próximo ano vai começar com questões que permanecem sem resposta: 1) O H1N1 sofrerá mutações que poderão aumentar sua virulência? 2) Quais serão as reais eficácia e segurança das vacinas que estarão disponíveis? 3) Quem será vacinado? Esperamos que, já no início de 2010, essas dúvidas sejam esclarecidas para que possamos oferecer aos pacientes as orientações e o suporte que a situação requer.

Como o influenza A (H1N1) é pesquisado

O Fleury desenvolveu um teste molecular para a pesquisa do influenza A (H1N1) em raspado nasofaríngeo com base no protocolo publicado em 28 de abril de 2009 pelos Centers for Disease Control and Prevention. O exame compreende uma reação de transcrição do RNA do vírus, seguida da amplificação, por PCR, de três regiões distintas, duas delas específicas para o influenza A (H1N1) de linhagem suína – o nucleocapsídeo e a hemaglutinina. Em estudo recente, feito com 204 amostras, a equipe de desenvolvimento do novo teste comparou a performance da PCR com a da imunofluorescência direta, usada no começo da epidemia para a triagem dos casos que deveriam ser submetidos ao exame molecular. De acordo com os resultados, a pesquisa direta de vírus respiratórios por imunofluorescência tem baixa sensibilidade (52,1%) e baixo valor preditivo negativo (85%), o que significa que um resultado negativo por essa técnica não afasta a possibilidade de infecção pelo H1N1.

Assessoria Médica
Assessoria Científica
Rodrigo Proto-Siqueira
Dr. Celso Granato: [email protected]