Alergia à proteína do leite de vaca ou intolerância à lactose? | Revista Médica Ed. 1 - 2013

Fazer a distinção entre essas duas condições exige habilidade clínica, com a complementação de alguns testes laboratoriais.

Fazer a distinção entre essas duas condições exige habilidade clínica, com a complementação de alguns testes laboratoriais.

A diferença entre a alergia às proteínas do leite de vaca (APLV) e a intolerância à lactose começa logo na epidemiologia. Enquanto a primeira tem baixa prevalência e acomete preferencialmente as crianças, a segunda é muito frequente e envolve mais os adultos. Já os sintomas gastrointestinais podem ser comuns às duas entidades, mas, se ficam restritos ao sistema digestório na má absorção da lactose, vão além na alergia, envolvendo ainda manifestações cutâneas, sistêmicas e respiratórias.

A investigação exige uma boa anamnese e um exame clínico minucioso em ambos os casos. Se, na criança, alguns dos sinais presentes não puderem ser explicados por outra causa, convém pensar em APLV. Vale lembrar que o início dos sintomas costuma coincidir com o da introdução de leite de vaca, embora, mesmo quando em aleitamento materno exclusivo, o lactente possa ser sensibilizado devido ao consumo de leite pela mãe.

Na prática, o diagnóstico de APLV baseia-se na suspeita clínica, na melhora dos sintomas após a exclusão do antígeno da dieta e no retorno das manifestações numa nova exposição, ou teste de provocação oral, para desencadeamento – o qual deve ser evitado em pacientes com anafilaxia após ingestão do alimento isolado e associado à presença do respectivo anticorpo IgE específico, mas que, se necessário, pode ser feito por médico treinado, em ambiente hospitalar, com condições que possibilitem socorro imediato. De qualquer modo, o teste cutâneo de leitura imediata, conhecido como prick test, e a dosagem de IgE específica podem ser úteis nesse contexto, pois, quando positivos, apontam a existência de subsídio imunológico para o diagnóstico.

Contudo, os resultados negativos não afastam tal hipótese porque a alergia nem sempre é IgE-mediada, razão pela qual esses casos requerem uma interpretação conjunta com história e quadro clínico. Diante de sintomas persistentes, baixo ganho de peso e anemia ferropriva, pode haver indicação de pesquisa de anticorpos antiendomísio e antitransglutaminase tecidual ou de endoscopia digestiva alta e baixa com múltiplas biópsias para afastar outras possibilidades, como doença celíaca e doença de Crohn.

Na intolerância à lactose, por sua vez, a exclusão do leite não deve ser indicada apenas com base no relato de sintomas para evitar uma diminuição desnecessária do aporte de cálcio na dieta e suas consequências, principalmente em relação aos ossos.

O melhor método para evidenciar a deficiência enzimática é a dosagem de lactase na mucosa duodenal, em fragmento colhido por endoscopia, que tem sensibilidade e especificidade de 95% e 100%, respectivamente. Por se tratar de um exame invasivo, como alternativa recomenda-se a prova oral de absorção de lactose, que mede indiretamente a capacidade de digestão desse dissacarídeo usando a dosagem de glicemia antes e após a ingestão da substância.

 

Outros tipos de intolerância à lactose

Deficiência secundária de lactase – É causada por condições clínicas que provocam lesão e atrofia de vilosidades na mucosa do intestino delgado, como doença celíaca, doença de Crohn de intestino delgado e infecções intestinais. Com o tratamento da patologia de base e a recuperação da mucosa, o indivíduo retoma a capacidade de digerir a lactose.

Hipolactasia primária ou congênita – Bem rara, consiste em uma doença genética, autossômica recessiva, que se manifesta desde o nascimento com diarreia importante e acidose metabólica.

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    - Alergia à proteína do leite de vaca
    - Intolerância à lactose
    - Esofagite eosinofílica

Assessoria Médica 
IMUNOLOGIA
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GASTROENTEROLOGIA
Dra. Marcia Wehba Esteves Cavichio:
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