Apenas a IgM positiva confirma o diagnóstico de mononucleose? | Revista Médica Ed. 5 - 2014

Apenas o hemograma alterado e a IgM reagente bastam para diagnósticar a mononucleose?

Microscopia eletrônica de transmissão do vírus Epstein-Barr, causador da mononucleose infecciosa.
Arquivo Fleury


Sou pediatra e tenho uma paciente de 12 anos que apresentou quadro agudo de febre por seis dias, linfadenomegalia generalizada, mialgia e hiperemia de orofaringe. O hemograma apontou linfocitose de 63%, sendo 20% de linfócitos atípicos. Diante do quadro, minha primeira hipótese foi a de infecção pelo vírus Epstein-Barr, razão pela qual solicitei a sorologia. O exame, coletado sete dias após o início dos sintomas, mostrou positividade apenas para IgM, com IgG não reagente. Posso confirmar minha hipótese diagnóstica apenas com esses dados?

A possibilidade de infecção pelo vírus Epstein-Barr (EBV) deve ser sempre cogitada em pacientes com linfadenopatias agudas febris, especialmente no fim da infância e na adolescência, e um hemograma com linfocitose relativa configura um importante marcador da mononucleose infecciosa, sobreetudo na presença de linfócitos atípicos, que, nessa doença, geralmente correspondem a mais de 10% dos totais e representam células T CD8 citotóxicas ativadas. Essas características, contudo, não são exclusivas da doença pelo EBV, o que implica a confirmação pelos métodos sorológicos.

Atualmente, utiliza-se a pesquisa de anticorpos IgG e IgM contra os antígenos do capsídeo viral (anti-VCA) para essa finalidade. Entretanto, o resultado precisa estar positivo para ambas as classes de imunoglobulina para fechar o diagnóstico. Os títulos da IgM positivam-se por volta de sete a dez dias após o início dos sintomas, quase simultaneamente aos da IgG. Desse modo, diante da positividade isolada da IgM, recomenda-se repetir a sorologia após cerca de uma semana, quando se espera que já tenha ocorrido soroconversão da IgG. Só assima confirmação diagnóstica poderá ser feita. Se houver persistência somente da IgM, deve-se considerar a hipótese de uma falsa positividade, incluindo reações cruzadas com outras infecções, como as causadas por citomegalovírus (CMV) ou toxoplasma.

Vale lembrar que, em indivíduos imunocompetentes da mesma faixa etária, as infecções agudas por CMV e por Toxoplasma gondii podem produzir quadros clínicos indistinguíveis dos do EBV, uma vez que ambas têm também, como marco, a linfadenopatia febril de curso agudo, podendo se associar, embora menos frequentemente, à faringite e à esplenomegalia. Ademais, na citomegalovirose, as alterações observadas no hemograma revelam-se as mesmas dos casos em que o EBV figura como agente etiológico. Nesse cenário, portanto, as sorologias específicas para o CMV e o toxoplasma podem ser de grande contribuição para o caso.

Dr. Celso Granato, assessor médico em Infectologia
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