Conheça o arsenal diagnóstico para identificar as doenças do aparelho deglutofonador | Revista Médica Ed. 3 - 2013

Em comum, os recursos disponíveis têm uma fibra óptica de dimensões reduzidas e a possibilidade de serem aplicados a diversas situações clínicas. Videolaringoscopia rígida

Videolaringoscopia rígida
Realizada pela cavidade oral com fibra óptica rígida, a videolaringoscopia rígida, ou videotelelaringoscopia, apresenta, no mesmo aparelho, um maior número de fibras ópticas – e, portanto, um maior diâmetro em relação aos aparelhos nasais flexíveis –, fornecendo, assim, uma imagem de melhor definição. Nessa avaliação, a luz é emitida e captada pela ponta do equipamento em um ângulo de 70 graus, o que favorece a visualização da laringe mesmo com o instrumento ainda na cavidade oral ou na orofaringe. Trata-se do exame de escolha para a inspeção da morfologia laríngea, mas também permite ao médico examinador observar a movimentação local e alguns padrões funcionais.



Presença de pequena lesão cística na prega vocal direita, com a formação de fenda em ampulheta durante a fonação.
Visão durante a respiração: o vaso transverso ao eixo da prega vocal direita dirige-se à lesão intracordal


Videolaringoestroboscopia
Com o uso da mesma fibra óptica da videolaringoscopia rígida, mas acoplada a uma fonte de luz estroboscópica, obtém-se a videolaringoestroboscopia, um exame capaz de avaliar a vibração das pregas vocais, o que é fundamental para a produção de voz com alta qualidade. Durante a fonação, as cordas vocais oscilam e levam a camada superficial de seu epitélio a se deslocar em forma de onda, dando origem à chamada “onda mucosa”. Uma vez que esta depende da condição das pregas vocais, quaisquer alterações mecânicas ou estruturais que elas sofram podem causar impacto à sua oscilação. Na prática, a visualização e a quantificação das propriedades da onda mucosa são parâmetros importantes no diagnóstico das doenças de tais estruturas. A mensuração desse deslocamento ainda fornece informações sobre características das pregas que não podem ser estabelecidas por outras técnicas propedêuticas. Vale adicionar que a utilização da luz estroboscópica, com disparos ajustados à frequência da voz do paciente, produz imagens sequenciais rápidas de pequenos momentos do ciclo fonatório, dando a impressão de câmera lenta. Dessa maneira, é possível observar o mecanismo de abertura e fechamento das pregas vocais, assim como a onda mucosa formada, o que seria impossível a olho nu, devido à sua velocidade.

Videonasofibrolaringoscopia
Também conhecida como nasofaringolaringovideofibroscopia, a videonasofibrolaringoscopia consiste na introdução de uma fibra óptica flexível, de 3,2 a 3,4 mm de diâmetro, nas cavidades nasais até a transição entre a rino e a orofaringe, o que torna possível a visualização da laringofaringe e da laringe. É atualmente o exame mais utilizado em nosso meio para a avaliação anatômica e funcional dessas estruturas. A videonasofibrolaringoscopia pode ser realizada em pessoas de qualquer idade, incluindo recém-nascidos, e até em indivíduos acamados e pouco colaborativos. O desenvolvimento dos nasofibroscópios com chip acoplado à ponta melhorou muito a qualidade da documentação adquirida, já que essa nova tecnologia evita a perda de luz e possibilita a aquisição de imagens com alta definição.



Anteriorização da aritenoide direita em paciente com imobilidade da prega vocal direita.
Edema bilateral obliterante das pregas vocais (edema de Reinke).

Videoendoscopia da deglutição
Chamada igualmente de nasofaringolaringovideofibroscopia da deglutição, a videoendoscopia da deglutição (VED) utiliza uma fibra óptica flexível, introduzida por uma das narinas, com o intuito de avaliar a função do palato, da base da língua e das estruturas faríngeas e laríngeas durante a deglutição. No exame, o paciente recebe alimentos corados, em diversas consistências e quantidades, enquanto a oro e a laringofaringe são monitoradas através da fibra óptica posicionada na nasofaringe. Dessa forma, podem-se flagrar diversos sinais indicativos de alteração no processo da deglutição, como escape precoce ou tardio do alimento da boca para a faringe, retardo no disparo do reflexo de deglutição, presença de resíduos após o processo, penetração laríngea e aspiração, entre outros. O exame ocasiona um mínimo de desconforto ao paciente e pode ser feito em indivíduos de todas as idades, inclusive em doentes acamados. É realizado por otorrinolaringologista e acompanhado por fonoaudiólogo especializado em deglutição, que auxilia o médico na oferta dos alimentos e nas manobras terapêuticas, tendo seus resultados interpretados em conjunto pela equipe multidisciplinar. Vale salientar que a VED dispensa o uso de radiação, além de favorecer a análise da sensibilidade faringolaríngea e a inspeção visual da faringe, que permite detectar a presença de secreções, de lesões e de paralisias das pregas vocais, bem como avaliar o aspecto da mucosa.



Estase de alimento corado em azul na região retrocricolaríngea.
Estase alimentar na região da base da língua e do ligamento faringoepiglótico esquerdo.
Como utilizar esses exames na investigação da disfagia e da disfonia
Exame
 Indicações
Videolaringoscopia rígida
- Visualização da garganta e das pregas vocais, com o paciente acordado, durante a respiração e durante a emissão de sons (fonação)
- Avaliação da anatomia das estruturas da faringe e da laringe, podendo identificar a presença de lesões ou outras alterações anatômicas
- Avaliação da mobilidade das pregas vocais por meio das tarefas sugeridas
Videolaringoestroboscopia
- Avaliação da capacidade de vibração das pregas vocais
- Investigação das alterações estruturais mínimas das cordas vocais, como sulcos e cistos
- Diagnóstico diferencial entre lesões superficiais, lesões inflamatórias e lesões infiltrativas e tumorais
Videonasofibrolaringoscopia
- Avaliação de processos inflamatórios ou infecciosos do nariz ou das cavidades paranasais que podem interferir indiretamente na laringe
- Estudo da função do palato, da faringe e da laringe durante a respiração, a fonação e a deglutição
- Avaliação da voz cantada e da voz cênica, com seus devidos ajustes funcionais na faringe e na laringe
Videoendoscopia da deglutição
- Avaliação de pacientes com qualquer grau de disfagia e com suspeita de aspiração de alimentos ou saliva
- Análise da eficiência de manobras para minimizar a disfagia e acompanhar a evolução do quadro
- Orientação em relação ao tipo de dieta mais adequado para o paciente disfágico
- Orientação sobre a reintrodução da alimentação por via oral em indivíduos nutridos por sonda nasogástrica ou nasoenteral ou por gastrostomia

 

E o clássico videodeglutograma?
O exame, no qual a deglutição é avaliada através de radioscopia, com a oferta de alimentos misturados a meio de contraste, foi considerado o padrão-ouro para o diagnóstico de disfagia por muitos anos. Contudo, com a introdução das fibras ópticas de pequeno calibre na prática clínica, como a videoendoscopia da deglutição, avaliações mais funcionais e fisiológicas puderam ser desenvolvidas. Apesar disso, o videodeglutograma não deixou de ter utilidade nesse cenário, pois traz algumas informações distintas da videoendoscopia, especialmente na avaliação de aspectos relacionados à fase oral da deglutição, como preparo do bolo alimentar e sua centralização e estases na cavidade oral, além de permitir a observação da transição da fase oral para a fase faríngea. Assim, o videodeglutograma e a videoendoscopia são exames que se complementam, resultando em uma avaliação mais abrangente de todo o processo de deglutição.

 

FONOAUDIOLOGIA
Assessoria Médica 
Dra. Cláudia Eckley [email protected]

Dr. Rodrigo P. Tangerina [email protected]
Teresa Bilton