Estimativa da função pulmonar pós-operatória tem grande participação na definição do tratamento do câncer de pulmão | Revista Médica Ed. 8 - 2011

Essa predição deve levar em conta as evidências mais recentes quanto aos limites funcionais para a ressecção de parte do parênquima do órgão.

Essa predição deve levar em conta as evidências mais recentes quanto aos limites funcionais para a ressecção de parte do parênquima do órgão.

A avaliação funcional respiratória é essencial não apenas para o estadiamento da neoplasia do pulmão, como também para a definição de elegibilidade ao tratamento cirúrgico radical da doença. Para essa decisão, a informação mais relevante é o grau de função pulmonar que restará após a retirada de parte do parênquima do órgão. Tal predição depende basicamente do seu nível de funcionamento basal e da extensão prevista da ressecção.

Dos diversos parâmetros rotineiramente avaliados, o volume expiratório forçado do primeiro segundo (VEF1), a difusão (DLCO) e o consumo de oxigênio no pico do esforço (VO2pico), obtido em teste cardiopulmonar de exercício (TCPE), mostram-se particularmente robustos quanto à sua associação com desfechos clínicos. Essa abordagem, porém, não particulariza aspectos importantes como o tipo, o local e a extensão do parênquima pulmonar a ser ressecado e a possibilidade de heterogeneidade funcional regional. Podem existir situações específicas em que o impacto da ressecção seja hiperestimado. Para endereçar esse ponto, indica-se a partição regional da função pulmonar, que consiste num cálculo para determinar o desempenho do órgão no pós-operatório, o qual pressupõe contribuição funcional equivalente entre todos os segmentos pulmonares. A partição, contudo, pode ser refinada, levando em conta características regionais do parênquima com base em estudos de imagem dos pulmões.

Aliás, pacientes com função pulmonar limítrofe devem, necessariamente, ter estimada a capacidade pós-operatória dos pulmões por exames de imagem, notadamente a cintilografia quantitativa de perfusão, antes da pneumonectomia ou da lobectomia. Métodos mais sofisticados, como o estudo perfusional por ressonância magnética ou Spect/TC, já foram descritos como superiores à cintilografia para essa finalidade, porém ainda não se evidenciou justificativa para sua utilização rotineira.

O fato é que, diante das particularidades já mencionadas, as evidências mais recentes que norteiam as decisões clínicas quanto aos limites funcionais para ressecar esses tumores foram sintetizadas em algoritmo proposto pela British Thoracic Society/British Society of Thoracic Surgery. O conjunto de orientações toma por base o risco de complicações, estimado a partir da combinação dos parâmetros funcionais correlacionados com desfechos clínicos (VEF1, DLCO ou VO2 pico), tenham sido seus resultados medidos no pré-operatório ou sua estimativa feita para o pós-operatório por meio da partição da função pulmonar baseada na extensão da ressecção programada.

Convém ressaltar que, apesar de prover visão objetiva para a tomada de decisão, o algoritmo não pretende restringir a conduta às situações nele previstas, posto haver grande número de variáveis não contempladas e que podem influenciar sobremaneira a decisão médica. Assim, deve-se utilizá-lo como ferramenta de apoio à decisão final, que tem de ser individualizada para cada caso.

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Reproduzido de Brunelli A e cols. Eur Respir J. 2009 Jul 1;34(1):17-41.

Como calcular a partição regional da função pulmonar
O conceito atribui à região-alvo da ressecção uma parcela de contribuição funcional em relação ao todo e a subtrai da função total medida no pré-operatório. A maneira mais simples de realizar esse cálculo é usar a proporcionalidade do número de segmentos pulmonares funcionantes que o ato cirúrgico pretende remover. Levando em conta que os dois pulmões somam, ao todo, 19 segmentos, basta retirar, da função pulmonar pré-operatória, a contribuição estimada pela porção a ser ressecada, chegando-se à função esperada pós-operatória. Assim, considerando-se uma lobectomia superior direita para a remoção de três segmentos de um total de 19, a estimativa da função pós-operatória residual será de 84% (ou 16/19) da medida no pré-operatório. Essa proporcionalidade pode ainda ser aplicada para estimar VEF1, DLCO ou VO2pico.
Assessoria Médica
Dr. João Marcos Salge: [email protected]