Gestação gemelar monocoriônica pode ser identificada precocemente | Revista Médica Ed. 2 - 2008

A transfusão fetofetal ocorre em 13% dos gêmeos monozigóticos que compartilham a mesma placenta.

A transfusão fetofetal ocorre em 13% dos gêmeos monozigóticos que compartilham a mesma placenta.

Em condições naturais, uma em cada 90 gestações que chegam a termo é gemelar e, nesse grupo, pelo menos um terço é monozigótico. As complicações relacionadas a esse tipo de gestação se devem, em grande parte, à presença de uma única placenta, a chamada gravidez monocoriônica. Até o terceiro mês, é fácil reconhecer, por meio do ultra-som, se uma gestação gemelar é mono ou dicoriônica pelas características da junção entre as membranas amnióticas e a placenta. A partir do quarto mês, porém, pode haver uma união entre placentas originalmente separadas e, dessa forma, o melhor momento de estabelecer se elas eram únicas desde o início ou se assim ficaram por contigüidade é o primeiro trimestre da gravidez. As gestações monocoriônicas apresentam risco de mortalidade cinco vezes superior às dicoriônicas e cursam com maior chance de ocorrência de outros problemas no desenvolvimento do feto, em especial no sistema nervoso, em decorrência da possibilidade de transfusão fetofetal. Assim sendo, devem ser monitoradas de forma intensiva, especialmente entre a 16ª e 24ª semanas, quando há mais chance de sucesso nas intervenções terapêuticas, tais como amniodrenagem e ablação a laser dos vasos intercomunicantes da placenta. De acordo com a experiência clínica da equipe de Medicina Fetal do Fleury num período de 24 meses, das 146 gestações gemelares avaliadas no primeiro trimestre, 20% eram monocoriônicas, 13% das quais com transfusão fetofetal e letalidade em metade desses casos.

Monocoriônica ou dicoriônica? Nesta imagem, a placenta parece ser única, mas existe uma extensão do tecido placentário na base da membrana entre os gêmeos, formando o sinal de lambda.

Tratamentos de infertilidade também aumentam a chance de gêmeos monozigóticos
Existem evidências de que o uso de medicamentos estimuladores da ovulação, tais como o clomifeno, facilita não só a ocorrência de gêmeos dizigóticos, um fenômeno já bem conhecido, como também de gêmeos monozigóticos, os quais, com mais freqüência, são monocoriônicos. As técnicas de fertilização in vitro, por sua vez, tornam maior a possibilidade de o casal vir a ter gêmeos dizigóticos, devido à implantação de múltiplos trofoblastos, além de aumentarem em até três vezes a chance de a gravidez ser monozigótica, o que ocorre por mecanismos ainda não inteiramente compreendidos. Entre as possíveis explicações para esse efeito estão alterações induzidas pelo processo de fertilização in vitro na arquitetura da zona pelúcida do óvulo e na massa de células internas do blastocisto. 

O perfil estatístico das gestações gemelares
De cada dez pares de gêmeos concebidos sem assistência para aumentar a fertilidade, três serão monozigóticos (idênticos) e sete, dizigóticos (fraternos), todos eles dicoriônicos, sendo metade do mesmo sexo.

Assessoria Médica
Dr. Javier Miguelez: [email protected]