Gripe ou resfriado? Diante apenas dos sintomas, essa pergunta tem resposta imprecisa | Revista Médica Ed. 4 - 2009

A detecção laboratorial do agente etiológico permite a instituição do tratamento antiviral nos casos necessários, além de deixar clara a efetividade da imunização.

A detecção laboratorial do agente etiológico permite a instituição do tratamento antiviral nos casos necessários, além de deixar clara a efetividade da imunização.

Independentemente da descoberta do novo vírus A/H1N1, a apresentação de uma infecção respiratória aguda ou de um quadro semelhante à gripe nunca foi suficientemente esclarecedora quanto à sua etiologia – mesmo com a presença de febre, note bem. Apesar de estar presente em mais de 90% dos indivíduos contaminados com o influenza, essa manifestação comprovadamente acomete pelo menos metade dos pacientes adultos com rinovírus, adenovírus, coronavírus, enterovírus, vírus sincicial respiratório (VSR) e metapneumovírus.

Na prática, o que ocorre é que, em adultos com clínica sugestiva de gripe ou infecção aguda das vias aéreas, só um terço tem influenza. O restante dessa população geralmente está infectado por outros vírus respiratórios, com destaque para o rinovírus, que responde por quase 20% de tais casos.

Esses dados, publicados recentemente por um grupo brasileiro de infectologistas, demonstram que a maioria dos aparentes estados gripais não passa mesmo de um resfriado tradicional ou de uma outra virose. A mesma constatação também aparece em um levantamento do Fleury, feito há três anos, que verificou os resultados de 2.030 pesquisas de vírus respiratórios num período de 33 meses, só que em crianças. Em 80% dos quase 700 exames positivos, o VSR foi o responsável pelos sintomas.

É claro que a definição do agente etiológico por trás dos casos ganhou mais notoriedade com o advento da nova gripe, mas já há algum tempo essa medida tem sido defendida para os pacientes de risco, como idosos e imunossuprimidos, sobretudo diante da recente disponibilidade dos antivirais, uma vez que a identificação e o tratamento precoces poderiam evitar o uso desnecessário de antibióticos e reduzir as admissões hospitalares decorrentes das complicações da infecção.

Ademais, essa informação ainda permitiria uma avaliação mais fidedigna da efetividade das campanhas de imunização contra o influenza sazonal, já que o rinovírus circula no mesmo período.

Referências:
Bellei N, Carraro E, Perosa A, Watanabe A, Arruda E, Granato C. Acute respiratory infection and influenza-like illness viral etiologies in brazilian adults. J Med Virol. 2008 Oct; 80(10):1824-7.

O caminho diagnóstico até chegar ao influenza A/H1N1

A investigação dos indivíduos com suspeita de infecção pelo influenza A/H1N1 e dos pacientes em monitoramento começa pela pesquisa direta por imunofluorescência direta, que, se positiva para o influenza, deve ser seguida de um teste específico por reação em cadeia da polimerase (PCR) para a identificação do novo vírus.

No Brasil, por enquanto, o exame molecular só está sendo feito em centros públicos de referência que receberam recentemente os kits fornecidos pelos Centers for Diseases Control and Prevention dos Estados Unidos. Os testes comerciais rápidos para a detecção do influenza não devem ser utilizados como triagem, reafirmam os últimos informes técnicos emitidos pelas sociedades médicas, uma vez que não apresentam sensibilidade suficiente para sugerir a necessidade de confirmação diagnóstica.

A pesquisa direta por imunofluorescência é o método de escolha para descartar os pacientes não atingidos pelo novo vírus – e que, portanto, não precisarão de PCR –, já que, além de flagrar o influenza A e B, consegue detectar os agentes mais frequentemente associados a infecções de vias respiratórias: o adenovírus, o parainfluenza 1, 2 e 3 e o vírus sincicial respiratório. Resultados positivos para esses três tipos virais já eliminam qualquer possibilidade de o paciente ter a gripe A/H1N1.

Leia mais:
Diagnóstico de viroses respiratórias por imunofluorescência direta substitui a sorologia
Teste para detecção rápida de vírus respiratórios possibilita diagnóstico precoce

A convivência – não muito amistosa – entre crianças e vírus respiratórios
As infecções respiratórias agudas (IRAs) são as maiores causas de doenças infecciosas agudas na população infantil e contribuem de forma relevante com a morbidade e a mortalidade nos cinco primeiros anos de vida, sobretudo quando associadas a fatores de risco como prematuridade, pneumopatias crônicas, imunodeficiências e cardiopatias congênitas. Não é para menos:
1. De 0 a 5 anos, os pequenos costumam ter pelo menos uma IRA de etiologia viral a cada dois meses.
3. Cerca de 30% a 50% das consultas em serviços ambulatoriais de Pediatria são motivadas por queixas respiratórias.
2. Até os 2 anos, todas as crianças apresentam pelo menos uma virose pelo parainfluenza ou pelo vírus sincicial respiratório (VSR), o agente etiológico mais importante das doenças respiratórias graves da infância e o principal causador das bronquiolites infantis.
4. Por trás dessas infecções das vias aéreas estão sobretudo o já mencionado VSR, o parainfluenza tipo 3, o rinovírus e, claro, o influenza.
Fonte: Dra. Janete Kamikawa
Veja mais sobre as viroses respiratórias na infância.


Assessoria Médica
Dr. Jorge Luiz Mello Sampaio: [email protected]