Histeroscopia trata lesões intrauterinas em ambiente ambulatorial | Revista Médica Ed. 3 - 2015

Atualmente, a histeroscopia é considerada o padrão-ouro não só para o diagnóstico.

Atualmente, a histeroscopia é considerada o padrão-ouro não só para o diagnóstico, como também para o tratamento de anormalidades intrauterinas, como lise de sinéquias mucosas, retirada ou reposicionamento de dispositivos intrauterinos e remoção de pólipos endocervicais ou intracavitários, procedimentos realizados ambulatorialmente.


Neste último caso, em particular, diversos estudos têm demonstrado que a polipectomia histeroscópica ambulatorial, que até dispensa anestesia, apresenta alta eficácia e elevados índices de satisfação por parte das pacientes, quando comparada à histeroscopia em hospital, além de vantagens econômicas e redução do tempo da intervenção e da chance de complicações.

As ópticas com diâmetro reduzido, de 2,9 mm, e formato ovalado, mais compatível com a anatomia do canal endocervical, diminuem significativamente a dor durante o procedimento e dispensam a dilatação cervical na maioria dos casos. Somando-se a isso, a técnica de vaginoscopia possibilita a introdução do histeroscópio sem espéculo nem pinça de Pozzi para a apreensão do colo uterino, contribuindo para a redução do desconforto. Da mesma forma, o aparelho de Bettocchi – por meio do qual as pinças de corte e apreensão são introduzidas juntamente com a óptica – dilata o orifício interno cervical sob visão direta e de modo menos intempestivo, evitando reações vasovagais ou falsos trajetos.

O fato é que os exames histeroscópicos vêm se tornando menos dolorosos e mais bem tolerados pelas pacientes, o que aumenta sua aceitação e permite sua realização terapêutica em ambiente ambulatorial, reservando as histeroscopias convencionais, feitas em ambiente cirúrgico, para o tratamento de afecções uterinas mais complexas.  

Epidemiologia e etiopatogenia dos pólipos
Os pólipos podem ser cervicais, endometriais, únicos ou múltiplos, sésseis ou pediculados, com tamanhos variados, de poucos milímetros até alguns centímetros. Os endometriais têm prevalência de 7,8% a 34,9%, dependendo da população estudada, o que parece se elevar conforme a idade das mulheres, atingindo seu ápice por volta dos 50 anos. São raros na fase pré-puberal e sua maior incidência ocorre entre 51 e 70 anos.
A etiopatogenia é ainda indefinida, mas os fatores de risco incluem idade, hipertensão, obesidade e uso de tamoxifeno – só há controvérsia em sua associação com terapia hormonal. Quanto ao quadro clínico, podem ser assintomáticos, sintomáticos ou mesmo diagnosticados incidentalmente em peças de histerectomia e/ou em ultrassonografia transvaginal. Quando há sintomas, a principal manifestação é o sangramento uterino anormal, podendo haver, em menor frequência, menorragia, exteriorização do pólipo pelo canal cervical e infertilidade.
Embora seja baixo, o risco de malignização aumenta em mulheres na pós-menopausa com sangramento uterino anormal ou com mais de 60 anos. Estudos recentes demonstram presença de hiperplasia endometrial com atipias em 1,2% a 1,3% dos casos e câncer de endométrio originado de pólipos endometriais em 1,3% a 3,5% dos casos. Alguns fatores merecem maior investigação, como pólipos maiores que 1,0 cm e os que são achados em pacientes com obesidade, hipertensão e diabetes.

 

 

 Endométrio espessado de aspecto cerebroide, com vascularização exuberante e atípica. AP: adenocarcinoma de endométrio.
Cavidade uterina antes e depois da exérese de formações polipoides. 

ARQUIVO FLEURY

 

  

E a histeroscopia diagnóstica?
O exame não requer preparo prévio nem antibioticoterapia e, em 95% dos casos, pode ser feito sem anestesia. Apenas 5% das pacientes apresentam maior intolerância à dor ou estenose cervical, com necessidade de dilatação do canal e eventual uso de sedação, mas também em ambiente ambulatorial. Além de servir para o diagnóstico de pólipos endometriais e endocervicais, a histeroscopia tem outras aplicações diversas, como investigação de:
  • Câncer de endométrio
  • Sangramento uterino anormal pré e pós-menopausa
  • Espessamento endometrial
  • Hiperplasias endometriais
  • Endometrite
  • Miomas submucosos
  • Sinéquias uterinas
  • Malformações uterinas
  • Infertilidade

  E também:

  • Busca de DIU perdido
  • Avaliação da cavidade uterina antes da fertilização in vitro
  • Diagnóstico de metaplasia óssea
  • Acompanhamento de mola hidatiforme
  • Diagnóstico de restos placentários 

 


Fase do ciclo
Contraindicações
A histeroscopia não pode ser feita na vigência de sangramento genital moderado ou acentuado e de doença inflamatória pélvica, bem como durante a gestação. Fora dessas situações, não há impedimentos.
Em idade fértil, convém realizar o exame do 6º ao 14º dia do ciclo, fase em que a visualização do canal endocervical é melhor, a região do istmo está mais hipotônica, facilitando a passagem da óptica pelo orifício cervical interno, e o endométrio encontra-se mais fino e plano, possibilitando melhor avaliação da cavidade intrauterina.


Assessoria Médica
Dra. Mayara Karla Figueiredo Facundo
Dra. Patrícia De Luca