Imagem na medida certa | Revista Médica Ed. 2 - 2014

O radiologista Jeffrey Kanne, dos EUA, fala de sua prática com os métodos de imagem torácica

Para radiologista dos EUA, serviços de saúde norte-americanos usam demasiadamente os métodos de imagem pulmonar, em especial a tomografia


Estudioso do espaço intersticial pulmonar e de doenças difusas do pulmão, com foco no uso da tomografia computadorizada (TC) torácica de alta resolução, o radiologista Jeffrey P. Kanne, que atua na Escola de Medicina e Saúde Pública da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, conta que, assim como no Brasil, o limiar de pedidos de radiografias de tórax é muito pequeno em seu país. “Mas nosso maior desafio está em tentar reduzir o número de tomografias solicitadas”, admite o médico, que também é vice-presidente do Colégio Americano de Radiologia e editor sênior do Journal of Thoracic Imaging


Em sua prática diária, Kanne entende que a TC de tórax deve ser usada para esclarecer o que os raios X não caracterizam bem ou não evidenciam quando há forte suspeita clínica, conforme relatou à nossa reportagem durante sua estada no Brasil, no fim do ano passado, quando participou de uma reunião científica promovida pelo Fleury. 


 

Jeffrey P. Kanne

Radiologista que atua na Escola de Medicina e Saúde Pública da

Universidade de Wisconsin, EUA.

ARQUIVO PESSOAL



Veja, a seguir, os principais pontos da entrevista.


Como especialista em Radiologia Torácica, que doenças do tórax os métodos de imagem mais diagnosticam nos Estados Unidos?

As doenças mais frequentes que encontro em minha prática são câncer de pulmão e infecção pulmonar. Ao contrário do que acontece em outras partes do mundo, não é comum haver muitos casos de tuberculose. Contudo, temos uma grande população de pacientes imunocomprometidos, o que acarreta diversas infecções oportunistas.


Nos serviços de emergência do Brasil, são comuns as solicitações de radiografias de tórax, principalmente nos casos em que a família acha que o paciente está com pneumonia. Em seu meio de trabalho, essa situação é semelhante?

Tanto no nosso departamento de emergência quanto em nossos ambulatórios, o limiar de solicitação para radiografias de tórax é muito pequeno. O nosso maior desafio, em contrapartida, é tentar reduzir o número de exames de tomografia computadorizada solicitados. À semelhança de outros serviços emergenciais, fazemos ainda muitas angiografias pulmonares por TC, mas apenas cerca de 5% são realmente positivas para embolia pulmonar.


Quando o senhor recebe uma imagem, a história clínica está sempre presente?

Temos um registro eletrônico bastante desenvolvido, de modo que, em quase todos os casos, dispomos do histórico do paciente. Isso porque o médico solicitante sempre insere no banco de dados o motivo do pedido do exame, o que facilita a composição de tais arquivos. 


É possível dizer que a tomografia de tórax substitui a radiografia do pulmão? Em que circunstâncias cada exame deve ser indicado?

A tomografia computadorizada pode ser usada para caracterizar com mais eficácia as radiografias anormais ou para avaliar o pulmão quando o exame de raios X for normal ou equívoco diante de alta suspeita clínica de doença pulmonar. A TC ainda é utilizada rotineiramente para a vigilância do câncer de pulmão e outras doenças malignas, embora as evidências para apoiar essa prática ainda sejam limitadas.


O senhor ganhou, em 2010, o prêmio Melvin M. Figley Fellowship em Jornalismo Radiológico. Como obteve essa conquista?

Eu trabalhei com os editores e com a equipe da revista norte-americana Roentgenology para saber mais sobre como é executar uma publicação científica e conhecer os desafios enfrentados nesse setor editorial. O projeto de pesquisa premiado foi focado em mídia digital, tendo destacado seu impacto sobre as revistas científicas.


Entrevista concedida à Dra. Barbara Gonçalves da Silva, consultora médica do Fleury.