Anticorpos anti-C1q predizem desenvolvimento de nefrite lúpica | Revista Médica Ed. 3 - 2016

O anti-C1q vem sendo fortemente associado ao envolvimento renal e ao desenvolvimento da nefrite lúpica.

 

Microscopia eletrônica de transmissão mostra a molécula C1q.

 

Sempre atento aos recursos que auxiliam o diagnóstico e o monitoramento das doenças autoimunes, recentemente o Fleury introduziu, em sua rotina, a dosagem sérica do anticorpo anti-C1q. 

 

Identificado com frequência em portadores de lúpus eritematoso sistêmico (LES), o anti-C1q vem sendo fortemente associado ao envolvimento renal e ao desenvolvimento da nefrite lúpica, que ocorre em cerca de 50% dos lúpicos, constituindo importante causa de morbidade e mortalidade nesse grupo. 


Na prática, o marcador está presente em 20% a 50% dos pacientes com LES e em até 100% daqueles com nefrite lúpica ativa. Na medida em que pode ajudar a detectar tal complicação precocemente, a avaliação seriada de anti-C1q é hoje considerada um método não invasivo útil no seguimento desses indivíduos. Ademais, o anticorpo tem considerável valor preditivo negativo para a nefrite causada por lúpus e seus níveis séricos correlacionam-se diretamente com a resposta terapêutica.


Vale ponderar que por volta de 4% a 6% dos indivíduos saudáveis podem apresentar o anti-C1q positivo. É possível ainda observá-lo em outras doenças autoimunes, como a esclerodermia, a artrite reumatoide, a dermatomiosite e a urticária-vasculite. Nesta, aliás, a presença do marcador tem se mostrado um recurso relevante por constituir um dos critérios para o diagnóstico.

 

Entenda o papel do anti-C1q no LES
Apesar de haver um grande número de autoanticorpos no lúpus, especialmente contra antígenos nucleares, citoplasmáticos e de superfície celular, moléculas séricas também constituem alvos, como os componentes do complemento, dentre as quais o C1q é o mais frequente. Essa proteína participa da ativação da via clássica e desempenha um papel fundamental na depuração dos imunocomplexos e dos restos da apoptose celular. De forma interessante, a deficiência hereditária homozigótica de C1q é um dos mais fortes fatores de risco para o desenvolvimento do LES, embora a maioria dos lúpicos não tenha essa condição. Por outro lado, tais pacientes frequentemente apresentam níveis baixos de C1q, sobretudo durante a atividade da doença, em função da ativação da via clássica e do consequente consumo de seus componentes. Além disso, a presença de anticorpos anti-C1q pode contribuir para a diminuição dos níveis séricos de C1q, especialmente quando os demais componentes estiverem dentro dos limites da normalidade.


ASSESSORIA MÉDICA
Dr. Alexandre Wagner Silva de Souza
Dr. Luis Eduardo Coelho Andrade