Intolerância ao glúten deve ser pesquisada precocemente em pacientes de risco | Revista Médica Ed. 5 - 2010

O objetivo é prevenir as complicações graves da doença celíaca, que podem ocorrer em pacientes que passam muitos anos sem tratamento.

O objetivo é prevenir as complicações graves da doença celíaca, que podem ocorrer em pacientes que passam muitos anos sem tratamento.

A doença celíaca é uma enteropatia imunologicamente mediada, causada por uma sensibilidade permanente ao glúten, que ocorre em indivíduos geneticamente predispostos. Sua incidência vem sendo estimada em 0,5% a 1% na população geral, segundo estudos de triagem feitos na Europa e nos Estados Unidos.

Classicamente, crianças têm, como manifestações clínicas principais, diarreia crônica, distensão abdominal, anorexia e baixo ganho de peso e estatura, podendo chegar a uma desnutrição grave caso o diagnóstico demore a ser realizado. Alterações de humor, como irritabilidade, igualmente são comuns. Esses sintomas iniciam-se entre 6 e 24 meses de idade, após a introdução do glúten na dieta. Muitos pacientes apresentam, como primeiro sinal da doença, um quadro não relacionado ao trato gastrointestinal, que pode cursar sobretudo com dermatite herpetiforme, hipoplasia do esmalte da dentição permanente, osteopenia/osteoporose, baixa estatura, retardo puberal e anemia ferropriva não responsiva à terapia com ferro oral.

A enteropatia costuma ainda estar associada a outras enfermidades, notadamente ao diabetes mellitus tipo 1 – até 8% desses diabéticos são também celíacos, com confirmação histológica. Em vista da grande variação de manifestações clínicas e da possibilidade de a doença permanecer oligo ou assintomática por muito tempo, a literatura defende a realização de exames de triagem para os grupos de maior risco, especialmente porque a demora no diagnóstico e no tratamento pode acarretar complicações graves, como linfoma de intestino, osteoporose e infertilidade.

O rastreamento da enteropatia deve ser feito com a pesquisa de anticorpos antitransglutaminase e antiendomísio (EMA). Os anticorpos antigliadina não têm sido mais recomendados para a triagem devido à sua baixa especificidade e sensibilidade em comparação com os demais. Em alguns casos, pode estar indicado o teste genético para HLA-DQ2 e HLA-DQ8, que, quando negativo, afasta virtualmente a possibilidade de doença celíaca. O diagnóstico se confirma diante de um padrão histológico do duodeno característico e da melhora do estado nutricional, dos sintomas associados e do humor após a instituição da dieta sem glúten.

Caso não haja boa resposta ao tratamento, convém pensar na possibilidade de transgressão da dieta ou mesmo na hipótese de erro diagnóstico, já que a alergia à proteína do leite de vaca também produz, no intestino delgado, a mesma atrofia vilositária observada nos celíacos. Vale lembrar que, para monitorar a adesão à dieta, a dosagem de anticorpos é bastante útil, visto que a restrição absoluta de glúten ocasiona queda progressiva em seus níveis séricos.

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Assessoria Médica
Dr. Luís Eduardo Coelho Andrade:  [email protected]
Colaborou neste texto: Dra. Márcia Wehba Esteves Cavichio