Massa mamária dolorosa com emagrecimento e febre | Revista Médica Ed. 3 - 2013

Paciente do sexo feminino, 27 anos, natural e procedente de Aguaí (SP), apresentando queixa de emagrecimento, febre diária e dor na mama esquerda há dois meses.

A que conclusão você chegaria depois de avaliar a história clínica e as imagens?

Paciente do sexo feminino, 27 anos, natural e procedente de Aguaí (SP), apresentando queixa de emagrecimento, febre diária e dor na mama esquerda há dois meses. Referiu que a mãe e a tia materna tiveram câncer de mama. Ao exame físico, evidenciava-se massa palpável e dolorosa, de consistência fibroelástica, na mama esquerda, além de adenomegalia axilar correspondente e inguinal bilateral, e lesões eritematosas maculopapulares na face. Os exames laboratoriais solicitados mostraram leucocitose, discreta anemia, eosinofilia e aumento do VHS e da proteína C reativa.

Qual o diagnóstico provável?

Doença linfoproliferativa
Câncer de mama com metástase para pele e linfonodos
Processo infeccioso inespecífico
Processo infeccioso específico

Mama esquerda com massas difusas de consistência fibroelástica.

Resposta do caso de massa mamária dolorosa 




A presença de lesões eritematosas maculopapulares na face associadas a linfadenomegalias e os resultados de exames laboratoriais apresentados sugerem mais fortemente lesão infecciosa em atividade. A mamografia mostra os múltiplos nódulos bilaterais (Figura 1, setas), melhor caracterizados pela ultrassonografia (Figura 2) e ressonância magnética (Figuras 3 e 4) como nódulos com liquefação central (setas), aspecto compatível com abscessos e que confirmam a suspeita clínica inicial. Além das linfadenomegalias identificadas ao exame clínico, a ultrassonografia e a tomografia computadorizada demonstraram o acometimento em outros sítios: supraclavicular, cervical, cadeia torácica interna à esquerda e retroperitoneal.


A paciente do caso em questão foi submetida à biópsia da lesão mamária que revelou a presença de infiltrado inflamatório linfo-histiocítico. Na coloração de hematoxilina-eosina identificam-se formas fúngicas arredondadas, com esporulação, salientadas pela coloração de Grocott (Figura 5). Observam-se estruturas com aparência em “roda de leme” ou em “orelha de Mickey”, onde células-filhas em brotamento aparecem aderidas em torno da célula-mãe (esporulação múltipla), do tipo observado na paracoccidioidomicose. A paracoccidioidomicose é a infecção fúngica sistêmica de maior prevalência na América Latina, atingindo de forma endêmica principalmente o Brasil. Seu agente é o Paracoccidioides brasiliensis, um fungo assexuado e dismórfico, cuja microscopia assemelha-se a uma roda de leme de navio. Não tem predileção por raças, sendo a incidência maior entre os adultos do sexo masculino, predominando em trabalhadores rurais com idade entre 30 e 50 anos de idade. A menor ocorrência em mulheres se dá devido à proteção dos hormônios femininos que impedem a progressão da doença, dificultando o desenvolvimento do P. brasilienses no organismo do hospedeiro.


A infecção é adquirida pela inalação de esporos e pela via tegumentar decorrente de traumas ou doenças de origem periodontal. A forma clínica juvenil (aguda ou subaguda), que atinge mais os jovens, é de evolução rápida e compromete o sistema reticuloendotelial. Já a forma crônica do adulto ocorre pela reativação de um foco latente de infecção, sendo o pulmão o principal órgão acometido (80-90% dos casos). Podem ocorrer lesões nas mucosas oral e nasal, laringe, suprarrenais, pele, sistema nervoso central, intestino, sistema esquelético e o comprometimento de linfonodos. A mastite por paracoccidioidomicose é infrequente, com raros casos na literatura.



ASSESSORIA MÉDICA
Imagem:
Dra. Giselle Guedes
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Dra. Marcia M. Aracava
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Patologia:
Dra. Monica Stiepcich
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