PCR em tempo real contribui para flagrar a reativação dos herpes-vírus em imunossuprimidos | Revista Médica Ed. 5 - 2012

A metodologia pode constatar o aumento da viremia e serve até para monitorar a replicação viral, permitindo intervenções terapêuticas precoces em casos de alto risco.

A metodologia pode constatar o aumento da viremia e serve até para monitorar a replicação viral, permitindo intervenções terapêuticas precoces em casos de alto risco.

O recente aumento do número e da sobrevida de indivíduos imunossuprimidos acarretou incremento na incidência de doenças causadas por vírus da família Herpesviridae, assim como maior morbimortalidade relacionada a essas infecções, dada a capacidade de reativação de tais agentes na vigência de disfunções imunológicas. A dificuldade diagnóstica nesses casos deriva da impossibilidade de utilizar os métodos sorológicos rotineiros para confirmar a etiologia.

Uma vez que excepcionalmente ocorre o reaparecimento de anticorpos da classe IgM durante essa fase, a presença isolada de imunoglobulinas específicas da classe IgG não se presta para diferenciar a infecção pregressa da doença ativa. Diante disso, merecem destaque as modernas técnicas de PCR em tempo real, que não apenas possibilitam a identificação do segmento-alvo de ácido nucleico concomitantemente à sua amplificação, mas também viabilizam a quantificação precisa do DNA presente na amostra inicial. Na prática, o método molecular permite avaliar a cinética viral, mediante a realização do exame em amostras seriadas de sangue, constatando o aumento da viremia, que, por sua vez, favorece a hipótese de doença por reativação.

A alta sensibilidade da técnica ainda eleva as chances de diagnóstico em sítios em que os herpes-vírus em geral não são detectados com facilidade, com valor preditivo considerável para a positividade em amostra única. Ademais, inúmeros pesquisadores têm buscado validar o uso da PCR em tempo real para monitorar a replicação desses agentes em pacientes de alto risco como fator preditor de reativação e critério para intervenção terapêutica, antes que se estabeleça doença visceral.

Entre os vírus da família Herpesviridae, a utilidade da PCR em tempo real, tanto como ferramenta diagnóstica quanto como marcador para tratamento preemptivo, é mais amplamente conhecida para o citomegalovírus e para o vírus Epstein-Barr. Contudo, os demais herpes-vírus também vêm se destacando em virtude de seu comportamento na presença de imunossupressão, incluindo aqueles que antes tinham importância somente na infância como causadores de doenças exantemáticas, raramente acompanhadas por complicações no sistema nervoso central. Veja, a seguir, os agentes em destaque no contexto da imunossupressão.

 

Varicela-zóster

Além da forma clássica de reativação como herpes-zóster, em indivíduos com imunidade disfuncional o vírus varicela-zóster (HHV-3) pode se manifestar com viremia, ocasionando lesões cutâneas disseminadas e visceralização, de modo bem semelhante aos quadros graves de varicela que eventualmente ocorrem durante a infecção primária. As doenças linfoproliferativas, o uso de imunoglobulina antitimócito, o transplante alogênico de células-tronco hematopoéticas (TCTH) e a doença do enxerto contra o hospedeiro estão entre os principais fatores de risco para a reativação do HHV-3, que tem, como complicações mais frequentes, a encefalite e a pneumonite. Enquanto o diagnóstico do acometimento cutâneo é clínico, a doença visceral pode ser comprovada pela PCR em tempo real no sangue e, especialmente, no liquor e no lavado brônquico.

 
Herpes-vírus tipo 6

Em uma proporção considerável de transplantados, o herpes-vírus tipo 6 (HHV-6) volta a se replicar, dando origem a um processo infeccioso que cursa com rash cutâneo e, especificamente naqueles submetidos a TCTH, com demora da pega medular. A pesquisa quantitativa do DNA no sangue representa um dos testes mais úteis para avaliar a atividade da doença, que é determinada por cargas virais em ascensão ou muito elevadas na primeira amostra. Na presença de sintomas neurológicos, a pesquisa de HHV-6 positiva no liquor sugere fortemente infecção do SNC, sobretudo após terem sido excluídas outras causas de meningoencefalite.


Herpes-vírus tipo 7

Cerca de 50% dos transplantados de medula óssea e de 20% dos que receberam transplante de órgãos sólidos têm a infecção por herpes-vírus tipo 7 (HHV-7) reativada, exibindo sintomas em vias aéreas superiores, vômitos, diarreia e, como entidade mais grave, encefalite. O diagnóstico é possível por meio da detecção do DNA viral em células mononucleares do sangue periférico. Ao contrário do observado com o HHV-6, o nível de viremia na vigência de reativação do HHV-7 em uma amostra isolada não se correlaciona diretamente com a atividade da doença. Assim, nesse grupo de pacientes a quantificação do DNA do HHV-7 em, pelo menos, duas amostras, a fim de demonstrar a elevação da carga viral, torna-se essencial para o diagnóstico, desde que associada à exclusão de outras etiologias.


Herpes-vírus tipo 8

Não bastasse a conhecida associação do herpes-vírus tipo 8 (HHV-8) com sarcoma de Kaposi na infecção pelo HIV, há estudos baseados no perfil antigênico e em hibridação in situ no tecido tumoral que sustentam a correlação do agente com o linfoma de efusão primária e com a doença de Castleman multifocal, tanto nesses indivíduos quanto em transplantados. Tal fato se deve à presença, em ambos os grupos, de genes e antígenos expressos pelo vírus durante seu ciclo lítico, isto é, replicativo. A pesquisa do DNA viral no sangue periférico possui sensibilidade inferior à da sorologia, em decorrência dos níveis variáveis de viremia. Entretanto, em receptores de transplante de medula óssea ou órgãos sólidos, a técnica tem utilidade para diagnosticar doença em atividade.

 

Vírus da família Herpesviridae vistos à microscopia eletrônica.

 

 

 

Representação esquemática de um vírus dessa família destacando
as múltiplas projeções proteicas de seu envelope

 

 

 

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Assessoria Médica em Infectologia 
Assessoria Médica em Microbiologia 
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Dr. Celso Granato:
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