Quando investigar se a origem da doença é genética? | Revista Médica Ed. 3 - 2010

A epilepsia é uma doença crônica que tem múltiplas etiologias e se caracteriza por crises epilépticas recorrentes. Há muito se sabe que fatores genéticos e ambientais contribuem para sua ocorrência...

A epilepsia é uma doença crônica que tem múltiplas etiologias e se caracteriza por crises epilépticas recorrentes. Há muito se sabe que fatores genéticos e ambientais contribuem para sua ocorrência, com peso que varia de paciente para paciente. Particularmente na faixa etária pediátrica, há diversas condições geneticamente determinadas que, com frequência, cursam com epilepsia. Raramente, porém, essas manifestações apresentam características clínicas e eletroencefalográficas que possibilitem levantar, de modo isolado, a suspeita de uma dessas doenças. Em tais casos, são os dados clínicos adicionais que indicam a necessidade de recorrer a exames genéticos para a confirmação diagnóstica. É o que ocorre, por exemplo, nas síndromes de Angelman e de Rett, que causam deficiência mental, comportamento peculiar e, de modo muito frequente, epilepsia.

Existem, no entanto, algumas formas de epilepsia em que a idade de início, o tipo de crise, os fatores precipitantes e as características eletroencefalográficas e dos demais exames complementares permitem suspeitar de algum defeito genético que tenha a manifestação epiléptica como principal consequência. Nos últimos anos, muita atenção foi voltada para a investigação de genes que codificam canais iônicos, responsáveis por controlar a transmissão nervosa. A ocorrência de alterações em alguns desses canais ocasiona uma maior excitabilidade dos neurônios, que passam a disparar de maneira repetida e excessiva, levando à eclosão de crises. Mutações que afetam, por exemplo, uma das cópias do gene SCN1A, que codifica um canal permeável ao sódio, estão por trás da epilepsia mioclônica grave da infância, ou síndrome de Dravet. Essa condição começa na infância e é de controle medicamentoso muito difícil, cursando com múltiplos tipos de crise, muitas vezes precipitados por febre. Sabe-se ainda que existe correlação entre alterações no gene SCN1A e a chamada convulsão febril plus, caracterizada por crises convulsivas febris recorrentes, associadas a crises convulsivas sem febre. O teste molecular para SCN1A, que faz parte da rotina do Fleury, pesquisa essas mutações e está indicado, entre outros casos, para pacientes com suspeita de síndrome de Dravet ou de convulsão febril plus. 

Aconselhamento Genético
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