Quando os sintomas não são típicos | Revista Médica Ed. 5 - 2010

Muitas vezes, os portadores da DRGE não apresentam os sintomas típicos da doença, mas manifestações supraesofágicas. As queixas que geralmente levam os pacientes ao consultório do otorrinolaringologista incluem pigarro, ardor ou dor na garganta

Muitas vezes, os portadores da DRGE não apresentam os sintomas típicos da doença, mas manifestações supraesofágicas. As queixas que geralmente levam os pacientes ao consultório do otorrinolaringologista incluem pigarro, ardor ou dor na garganta, sensação de corpo estranho na garganta, tosse seca crônica e até espasmos laríngeos que se expressam por crises de engasgo e sufocamento. Tal quadro faz parte da forma atípica da DRGE denominada refluxo laringofaríngeo (RLF), que, apesar ter o mesmo mecanismo da forma convencional, pode cursar apenas com sinais e alterações inflamatórias na faringe e na laringe – em até 70% dos casos não há sintomas digestivos associados. Até porque um refluxo fisiológico para o trato digestório não é fisiológico para o epitélio respiratório.

A existência desse tipo de refluxo foi aventada nos anos 60, mas ele só passou a ser diagnosticado e efetivamente tratado no fim da década de 80, com a difusão das fibras ópticas na prática clínica dos otorrinolaringologistas. Os achados laríngeos, nos casos de laringite por refluxo, variam de acordo com a gravidade do caso, indo desde hiperemia e edema leves do terço posterior da região até úlceras de contato, granulações, leucoplasias, paquidermia interaritenóidea, estenose subglótica e degeneração neoplásica do epitélio. Um grande número de lesões benignas das pregas vocais, como nódulos, pólipos e edema de Reinke, também pode estar associado ao RLF, já que a inflamação local produz padrões fonatórios abusivos, capazes de causar esses danos secundários. Na população pediátrica, alterações da rinofaringe ocorrem com maior frequência, com possibilidade de gerar adenoidites e sinusites de repetição e, por contiguidade da tuba auditiva, otites médias agudas de repetição ou mesmo otite média crônica secretora.

O diagnóstico do refluxo laringofaríngeo se baseia em sintomas sugestivos e em sinais de inflamação no segmento laringofaríngeo à videolaringoscopia ou à videonasofibrolaringoscopia, podendo ser corroborado por pH-metria esofágica de duplo canal ou impedâncio-pH-metria esofágica. Como os exames de videolaringoscopia são feitos com o paciente acordado, com mínimo desconforto, possibilitam a avaliação da região durante a fonação e a deglutição. Além disso, permitem mostrar ao paciente as alterações encontradas, o que é especialmente importante para a aceitação do tratamento – afinal, as pessoas têm dificuldade inicial para acreditar que um sintoma laríngeo, faríngeo ou respiratório possa estar relacionado com seu trato digestório e seus hábitos alimentares inadequados.


À esquerda, laringoscopia aponta hiperemia e edema laríngeos difusos, especialmente das aritenoides e da região interaritenóidea. A imagem da direita, além de evidenciar hiperemia e edema, mostra ainda úlcera de contato em processo vocal esquerdo e paquidermia interaritenóidea.

Assessoria Médica
Dra. Claudia Alessandra Eckley: [email protected]