Quando suspeitar de mastocitose e como confirmar o diagnóstico | Revista Médica Ed. 7 - 2011

A investigação da doença deve se basear na pesquisa de mastócitos neoplásicos segundo critérios morfológicos, imunofenotípicos e/ou genético-moleculares.

A investigação da doença deve se basear na pesquisa de mastócitos neoplásicos segundo critérios morfológicos, imunofenotípicos e/ou genético-moleculares.

A mastocitose é definida como um grupo heterogêneo de doenças caracterizadas por proliferação clonal e acúmulo de mastócitos em um ou múltiplos tecidos, incluindo pele, medula óssea, fígado, baço e linfonodos. A pele é o órgão mais acometido, o que ocorre em praticamente 100% das formas pediátricas e em torno de 85% das formas do adulto. A apresentação clínica mostra-se heterogênea, variando de doença limitada à pele até casos com comprometimento extracutâneo, denominados mastocitose sistêmica (MS), que podem ter evolução indolente ou agressiva e se associam com disfunção de múltiplos órgãos e sobrevida diminuída. Os sintomas clínicos decorrem da liberação de mediadores mastocitários e da infiltração tecidual por mastócitos neoplásicos, sendo os mais frequentes o prurido, o enrijecimento facial e do tronco superior, a sensação de calor e a sudorese, eventualmente combinados a palpitações, dor torácica e cefaleia. Dor abdominal recorrente e diarreia estão presentes em uma parcela significativa dos casos, podendo evoluir para quadros graves de má absorção. O diagnóstico de mastocitose baseia-se na identificação de mastócitos neoplásicos por critérios morfológicos, imunofenotípicos e/ou genético-moleculares, de acordo com a classificação da Organização Mundial da Saúde, que define sete variantes da doença.


Mastócito atípico em aspirado de medula óssea
de paciente com mastocitose sistêmica.

Passo a passo do diagnóstico de mastocitose
Morfologia - O mielograma permite a identificação de células mastocitárias com morfologia anômala, a exemplo de hipogranulação, núcleo multilobulado e projeções citoplasmáticas. A porcentagem de mastócitos na medula óssea é decisiva para o diagnóstico final da MS em fases avançadas. Na maioria dos casos da doença com comprometimento sistêmico, o estudo anatomopatológico da medula detecta infiltrados multifocais compostos de mastócitos fusiformes, com triptase e CD117 positivos, em número superior a 15 por agregado. Nesses pacientes, a MS pode ser diagnosticada sem outros testes adicionais, já que preenche um critério maior (agregados de mastócitos) e um menor (morfologia anormal) da classificação da OMS.
Citometria de fluxo - Os mastócitos da medula são facilmente detectados pela citometria de fluxo porque o CD117 se expressa com elevada intensidade. O fenótipo normal mastocitário caracteriza-se pela expressão de CD45, CD63, CD203c, FcεRI e triptase citoplasmática total (CyB12), na ausência dos marcadores CD2, CD25, CD123 e CD34. Mastócitos de pacientes com MS frequentemente apresentam expressão antigênica anômala, permitindo uma clara diferenciação dos mastócitos normais, com sensibilidade superior a 98% e especificidade de 100%, o que torna a citometria de fluxo uma ferramenta indispensável na avaliação diagnóstica da mastocitose. Vale esclarecer que mastócitos neoplásicos em geral expressam de forma anormal o CD25, associado ou não à presença de CD2, o que, no entanto, é considerado um critério diagnóstico menor da OMS. Outros fenótipos aberrantes descritos incluem ainda a expressão anômala de CD123 e a hiperexpressão de CD203c e CD45.
Estudos genético-moleculares - A identificação da mutação KITD816V corresponde a um critério menor na classificação da OMS, embora seja detectada em mais de 80% dos casos de mastocitose. Na presença de eosinofilia, recomenda-se a pesquisa do rearranjo FIP1L1-PDGFRA por FISH. A análise citogenética convencional, por sua vez, geralmente permite a detecção de casos de mastocitose associada com rearranjo PDGFRB, isto é, translocações cromossômicas envolvendo 5q31-31.
Critérios diagnósticos de mastocitose sistêmica*
Critério maior
  • Presença de agregados multifocais de mastócitos (>15/agregado) na biópsia de medula óssea ou em outros tecidos
Critérios menores
  • Mastócitos com morfologia anormal no esfregaço de medula óssea (>25% de atípicos) ou no estudo anatomopatológico (>25% de fusiformes em tecido extracutâneo)
  • Mutação KIT no códon 816 em tecidos extracutâneos (recomenda-se a pesquisa da mutação na medula óssea )
  • Expressão dos antígenos CD25 e/ou CD2 em mastócitos, identificados por citometria de fluxo ou imuno-histoquímica
  • Triptase sérica >20 ng/mL (não deve ser utilizada nos casos de MS-ADHNM)
De acordo com a classificação de tumores de tecidos hematopoéticos e linfoides da OMS.

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Assessoria Médica
Dr. Alex Freire Sandes: [email protected]
Dr. Edgar Gil Rizzatti: [email protected]