Recomendações para a vacinação contra o sarampo em crianças imunodeprimidas | Revista Médica Ed. 3 - 2018

Surtos da doença na Região Norte levam à discussão sobre a segurança da vacina nesse grupo.

Os recentes surtos de sarampo trouxeram questionamentos sobre a segurança de imunizar crianças com imunodeficiência: se, por um lado, o imunodeprimido precisa da profilaxia por ser mais suscetível às complicações das doenças imunopreveníveis, por outro, tem maiores riscos ao receber imunizantes feitos com vírus vivos.

As crianças imunodeprimidas são um grupo heterogêneo e a segurança e a eficácia das vacinas dependem de uma análise individual, considerando, especialmente, o grau de imunossupressão do paciente, que pode ser classificado em alto ou baixo. Em resumo, aqueles que apresentam baixo grau podem receber vacinas de vírus vivos atenuados, mas os que exibem alto grau, apenas se houver reconstituição imune.

Nesse cenário, a vacinação contra o sarampo pode ser feita, com segurança, três meses após o término da quimioterapia antineoplásica, exceto para terapia antilinfócitos B, quando se recomenda aguardar seis meses. Crianças submetidas a transplante de medula óssea devem receber a vacina de 12 a 24 meses após o procedimento, desde que na ausência de doença do enxerto versus hospedeiro (DEVH) ou de uso de imunossupressores.

As vacinas de vírus vivos atenuados são contraindicadas para crianças após transplante de órgão sólido, que, idealmente, devem ser imunizadas antes do procedimento. Entretanto, a literatura afirma que, em surtos, a vacinação contra o sarampo pode ser considerada em indivíduos sem DEVH e sem uso de imunossupressores e aponta parâmetros imunológicos para a imunização segura desses pacientes, como linfócitos >1.500 mm³, células TCD4 >700 mm³, linfoproliferação de linfócitos normal e IgG sérica >500 mg/dL.

Para crianças que usam imunomoduladores biológicos, deve-se suspender o tratamento por cinco meias-vidas antes de administrar a vacina. O uso de leflunomida, sulfassalazina ou antimaláricos não é uma limitação à imunização. Já aquelas que receberam doses imunossupressoras de corticoide precisam aguardar um mês para ser vacinadas. Por fim, a infusão de imunoglobulina intravenosa implica a espera de 8 a 11 meses para a imunização, porém esse intervalo pode ser reduzido em surtos, sendo necessária uma nova dose após o período preconizado.

Pacientes com alto grau de imunossupressão

  • Imunodeficiência primária celular e humoral com defeito de linfócitos B e T
  • Quimioterapia para neoplasias
  • Infecção pelo HIV com linfócitos TCD4 <200 cel/mm³, para crianças ≥5 anos, ou <15%, para crianças abaixo de 5 anos
  • Uso diário de corticoterapia em dose ≥20 mg (ou >2 mg/kg/dia para pacientes abaixo de 10 kg) de prednisolona ou equivalente por tempo ≥14 dias
  • Uso de imunomoduladores biológicos (anti-TNF-α, e antilinfócitos B, entre outros)
  • Até dois meses após transplante de órgão sólido
  • Até dois meses após transplante de medula óssea (frequentemente esse período se prolonga)

Pacientes com baixo grau de imunossupressão

  • Infecção assintomática pelo HIV, com linfócitos TCD4 entre 200 e 499 cel/mm³, para crianças ≥5 anos, ou entre 15% e 24%, para crianças abaixo de 5 anos
  • Uso diário de corticoterapia em dose ≤20 mg (ou 2 mg/kg/dia para pacientes abaixo de 10 kg) de prednisolona ou equivalente por tempo ≥14 dias ou uso de corticoterapia em dias alternados
  • Uso de metotrexato em dose ≤0,4 mg/kg/semana e de azatioprina em dose ≤3 mg/kg/dia

Fonte: Sociedade Americana de Doenças Infecciosas. Clin Infec Dis. 2014;58(3):309-318.

*Pediatras e assessoras médicas do Fleury em Vacinação.
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