Risco de Alzheimer aumenta quando há parentes distantes afetados, diz artigo | Revista Médica Ed. 1 - 2019

O conhecimento da história familiar completa ajuda a orientar o aconselhamento de pacientes

Entre os fatores de risco para a doença de Alzheimer, a história familiar é um indicador importante, especialmente se houver a presença de parentes de primeiro grau com a doença. Dentro desse contexto, um artigo recentemente publicado no website da revista Neurology por Cannon-Albright e colaboradores, da Universidade de Utah, avaliou se a presença de parentes de segundo e/ou terceiro graus com Alzheimer também estaria relacionada com o aumento do risco para a doença.

Os autores analisaram dados genealógicos do banco de dados populacional de Utah de mais de 270 mil indivíduos, dos quais 4.436 apresentavam atestado de óbito indicando Alzheimer como causa primária da morte. A idade mediana de óbito foi de 85 anos e a maioria era constituída por mulheres (64%). Para estimar os riscos relativos (RR), os pesquisadores consideraram diferentes cenários de histórico familiar.
Segundo os autores, a presença de qualquer parente de primeiro grau afetado, sem considerar outro histórico familiar, associou-se significativamente com o risco de surgimento da doença. Com um parente de primeiro grau afetado, pelo menos, o RR foi de 1,73 e, com quatro familiares, de 14,77.

A história de parentes de segundo grau levou em conta dois cenários. No primeiro, houve aumento do RR de Alzheimer quando, pelo menos, três (RR = 2,46) ou quatro (RR = 2,69) familiares de segundo grau tinham tido a doença, na ausência de parentes de primeiro grau afetados e desconhecimento do histórico de familiares de terceiro grau. Já o segundo cenário considerou a presença de um parente de primeiro grau acometido e ignorou o histórico dos de terceiro grau. Nessa situação, o RR foi de 2,04 com um familiar de segundo grau e de 21,29 com dois parentes de segundo grau.

Por fim, diante de parentes de terceiro grau com esse diagnóstico, mas sem conhecer o histórico de outros graus de parentesco, o RR de Alzheimer aumentou com, pelo menos, dois (RR = 1,17), três (RR = 1,43) ou quatro (RR = 1,44) familiares com a doença.

O trabalho também constatou que indivíduos com parentes afetados de segundo grau do lado materno (irmão ou irmã da mãe) apresentaram RR significativamente elevado (RR = 1,29-1,58), enquanto, naqueles com parentes de segundo grau do lado paterno (irmã ou irmão do pai), os RR não foram estatisticamente significantes.

O fato é que o conhecimento da história familiar completa ajuda a orientar o aconselhamento de pacientes e familiares sobre o risco para a doença de Alzheimer, bem como recomendar mudanças de estilo de vida antes do início dos sintomas, como destacado por Cannon-Albright e colaboradores.

Demências em alta
A prevalência global estimada de demência é de 46,8 milhões e deverá dobrar em 20 anos – serão quase 75 milhões, em 2030, e cerca de 130 milhões, em 2050. No Brasil, ocorrem cerca de 100 mil casos novos ao ano, taxas que podem estar subestimadas, de acordo com o Instituto Alzheimer Brasil. De todos esses casos, a maioria decorre da doença de Alzheimer.


Fontes: Cannon-Albright LA, et al. Relative risk for Alzheimer disease based on complete family history. Neurology 2019;92:e1-e9. www.institutoalzheimerbrasil.org.br.