Rouquidão progressiva com sinais sugestivos de laringite por refluxo gastroesofágicos? | Revista Médica Ed. 5 - 2014

Em que pensar diante de rouquidão progressiva com sinais de laringite por refluxo?

O que sugere a história clínica e a imagem?

Paciente do sexo feminino, 56 anos, professora, tabagista de 26 anos/maço, referia voz grave havia vários anos, associada a uma rouquidão que piorava progressivamente. Três meses antes,começara a apresentar também um quadro de pigarro, tosse seca e sensação de “bola na garganta”.

A investigação com laringoscopia demostrou edema e espessamento da mucosa da região interaritenóidea e retrocricolaríngea, além de hiperemia na região laríngea posterior, achados sugestivos de manifestação supraesofágica da doença do refluxo gastroesofágico, o chamado refluxo laringofaríngeo. Além disso,as pregas vocais continham alterações significativas, conforme mostra a imagem abaixo.


Laringoscopia
Arquivo Fleury.


Qual o diagnóstico provável?

  • A – Papilomatose laríngea
  • B – Pólipos vocais bilaterais
  • C – Edema de Reinke
  • D –Amiloidose laríngea

Resposta do caso de rouquidão progressiva

A alteração observada nas pregas vocais é compatível com edema de Reinke, que corresponde a uminchaço frouxo na camada superficial da lâmina própria das pregas vocais, denominada espaço de Reinke. Acredita-se que esse edema seja causado por processo inflamatório crônico,agravado portabagismo, abuso vocal, mudanças hormonais e, possivelmente,por refluxo laringofaríngeo.

O edema de Reinke acomete as duas pregas vocais, porém pode se apresentar de forma assimétrica. Sua presença aumenta a massa das pregas vocais, mas, como se trata de lesão superficial, que não chega até o ligamento vocal, inicialmente a onda de vibração da mucosa permanece preservada. Por essa razão,a condição tem, como principal característica,a mudança da voz para um tom maisgrave– daí por que as mulheres são as que mais procuram tratamento – e, posteriormente,o surgimentoda rouquidão. Nos casos mais severos, ocorre ainda dispneia.

Recomenda-se acompanhar esses pacientes com exames endoscópicos seriados, uma vez que,em decorrência do tabagismo, apresentam maior risco para desenvolver neoplasias laríngeas. Ademais, como são cronicamente disfônicos, as alterações vocais, que se constituem em indicadores de alerta para a presença de lesões epiteliais glóticas, podem não ser valorizadas. Contudo, se adisfonia se mostrar importante ou se houver dispneia, o tratamento indicado é a exérese cirúrgica, seguida de fonoterapia pós-operatória. O paciente deve ainda ser alertado sobre a possibilidade de recorrência do edema, caso continue fumando.


Assessoria Médica
Dra. Claudia Alessandra Eckley
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Dr. Rodrigo de P. Tangerina
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