Sinal verde para a tomografia no rastreamento do câncer de pulmão | Revista Médica Ed. 1 - 2013

Em cenários selecionados, o método tem impacto na redução da taxa de mortalidade. Não é de hoje que se pesquisa se a tomografia pode ajudar a diagnosticar precocemente os nódulos pulmonares, sem que tenha havido novas recomendações.

Em cenários selecionados, o método tem impacto na redução da taxa de mortalidade.

Não é de hoje que se pesquisa a validade da tomografia computadorizada (TC) no rastreamento da neoplasia pulmonar, mas sem que daí tenham saído novas recomendações. No entanto, entre 2007 e 2009, um grande estudo multicêntrico com mais de 50 mil participantes, o National Lung Cancer Screening Trial, trouxe novidades nesse cenário. O trabalho comparou a TC com a radiografia para a detecção precoce de câncer pulmonar em pacientes de alto risco, que foram divididos em dois grupos e submetidos a rastreamento de nódulos por três anos. Nesse período, a taxa de mortalidade específica por câncer de pulmão foi de 247/100 mil indivíduos ao ano no grupo rastreado por TC e de 309/100 mil no grupo que fez radiografia.

Esses resultados representam uma redução da mortalidade pela doença da ordem de 20% (IC 95% 6,8-26,7; p = 0,004) no grupo em que a TC foi usada. A mortalidade geral também caiu em 6,7% em tais pacientes, sugerindo que o emprego desse método, ainda que incorra em mais falso-positivos, não ocasiona efeitos deletérios.

Tais achados foram confirmados em uma revisão sistemática da literatura que envolveu várias entidades internacionais de Oncologia. Com base em oito ensaios randomizados controlados e em 13 estudos de coorte, os pesquisadores concluíram que a TC anual pode beneficiar indivíduos com alto risco de desenvolver câncer de pulmão, embora ainda pairem incertezas sobre os danos dessa abordagem e a possibilidade de generalização de tais resultados.

De qualquer modo, essa revisão serviu de pilar para as novas recomendações da American Society of Clinical Oncology, divulgadas em maio de 2012, sobre o diagnóstico precoce da neoplasia pulmonar:

  • Para indivíduos com idade entre 55 e 74 anos e história de tabagismo de, pelo menos, 30 anos-maços, seja atual, seja pregressa (interrompida há menos de 15 anos), sugere-se a TC de tórax para rastreamento anual de câncer de pulmão. Nesses casos, o grau de recomendação é 2B.

  • Para pessoas fora dessa faixa etária ou com tabagismo acumulado de menos de 30 anos-maço ou que pararam de fumar há mais de 15 anos ou, ainda, que tenham comorbidades cuja gravidade possa impedir o tratamento desse câncer ou ser fator independente de redução da expectativa de vida, a TC não deve ser utilizada rotineiramente para rastreamento. Nessas situações, o grau de recomendação é 2C.

As diretrizes da National Comprehensive Cancer Network acrescentam a essas recomendações outros fatores para a estratificação de risco, como a história familiar de câncer de pulmão e a exposição ocupacional a agentes carcinogênicos.

Diante disso, o uso da TC de tórax pode ser benéfico em cenários selecionados, desde que inclua indivíduos de alto risco, motivados à adesão e avaliados em serviços de referência que adotem protocolos padronizados de obtenção e interpretação de imagens tomográficas de nódulos pulmonares. Ademais, o impacto do diagnóstico precoce sobre a mortalidade pressupõe o acesso às estratégias terapêuticas recomendadas. Por outro lado, a aplicação dessa abordagem para grupos de baixo risco ou em cenários distintos é capaz de inverter a relação risco-benefício observada nos estudos que embasam tal conduta.

  

Dr. Gustavo Meirelles.
Radiologista com atuação principal em Radiologia Torácica e PET/CT, fez residência médica, especialização em Radiologia Torácica e doutorado no Departamento de Diagnóstico por Imagem da Unifesp-EPM, além de pós-doutorado no Memorial Sloan-Kettering Cancer Center. Atualmente é assessor médico em Imagem do Tórax e PET/CT do Fleury.
 [email protected].