Sistema GeneXpert pode detectar o Clostridium difficile em apenas uma hora | Revista Médica Ed. 4 - 2011

A infecção por esse agente, que é uma das importantes causas de diarreia associada a antimicrobianos, tem tido maior incidência por conta da cepa NAP1.

A infecção por esse agente, que é uma das importantes causas de diarreia associada a antimicrobianos, tem tido maior incidência por conta da cepa NAP1.

O Clostridium difficile foi inicialmente implicado como causa de colite associada a antimicrobianos em 1978. De lá para cá, vários surtos de diarreia em ambiente hospitalar causados por esse agente têm sido descritos, o que se explica pela capacidade de o microrganismo formar endosporos que permitem sua sobrevivência por longo tempo em superfícies expostas ao ar. O aumento da incidência desses casos, constatado nos últimos anos, ocasiona prolongamento das internações hospitalares, maiores morbidade e mortalidade – já que a infecção pode ter complicações graves, como perfuração do cólon secundária à colite pseudomembranosa – e incremento dos custos assistenciais. As novas características epidemiológicas se justificam, entre outros fatores, pela emergência da cepa C. difficile NAP1, de North America Pulsed-Field Type 1, também denominada ribotipo 027, que é hiperprodutora das toxinas A e B devido à deleção do gene controlador tcdC. Esse clone apresenta alta resistência a quinolonas, o que pode estar envolvido com sua seleção, em vista do frequente emprego dessa classe de antimicrobianos na atualidade, até mesmo em pacientes ambulatoriais, entre os quais o número de casos descritos na literatura também aumentou. Assim sendo, é fundamental confirmar ou excluir rapidamente tal etiologia para a instituição das devidas medidas terapêuticas, de forma a reduzir o potencial de morbimortalidade da infecção.

O método considerado padrão-ouro para o diagnóstico do C. difficile é a cultura toxigênica, mas, em decorrência do tempo necessário para a liberação do resultado – de três a cinco dias –, o teste tem sido pouco solicitado na prática clínica. Para propiciar maior agilidade a esse diagnóstico, o Fleury utiliza rotineiramente o sistema GeneXpert, que consiste na pesquisa do DNA do C. difficile nas fezes por PCR em tempo real. O método permite extrair ácido nucleico diretamente da amostra clínica, assim como amplificar e quantificar simultaneamente os genes que codificam as toxinas A e B, tudo de forma integrada e automática, possibilitando a liberação do resultado em apenas uma hora após o recebimento do material na unidade hospitalar. Para esse exame, o estudo multicêntrico mais recente, feito com 2.296 pacientes, evidenciou sensibilidade de 93,5%, especificidade de 94,0%, valor preditivo positivo de 73,0% e valor preditivo negativo de 98,8%. Vale ponderar que, diante de um resultado negativo da PCR e persistência da suspeita clínica, o teste indicado para complementação diagnóstica é mesmo a cultura específica para C. difficile.

Referência:
Tenover FC et al. Impact of strain type on detection of toxigenic Clostridium difficile: comparison of molecular diagnostic and enzyme immunoassay approaches. J Clin Microbiol. 2010;48:3719-24.

Por que o uso de antimicrobianos predispõe à diarreia pelo C. difficile?
O C. difficile é parte, em pequena proporção, da microbiota intestinal da maioria dos indivíduos normais, mas o uso de antimicrobianos ativos contra outros colonizantes da região permite sua proliferação sem competição. Alguns antibióticos, como clindamicina, quinolonas, cefalosporinas e piperacilina-tazobactam, têm efeito mais pronunciado na redução da microbiota entérica e, assim, seu uso representa maior risco para a ocorrência de diarreia por
C. difficile. Outros aspectos também podem contribuir para essa infecção, entre eles o emprego de inibidores de bomba de prótons e a quimioterapia. Os pacientes oncológicos são, portanto, um notável grupo de risco para essa doença, dada a frequência com que utilizam antimicrobianos de amplo espectro e os outros fatores que os tornam mais vulneráveis.
Assessoria Médica
Dr. Jorge Luiz Mello Sampaio: [email protected]