Vacina contra cólera oferece cobertura adicional para E. coli enterotoxigênica | Revista Médica Ed. 4 - 2008

Essa bactéria é a principal responsável pela diarréia do viajante.

Essa bactéria é a principal responsável pela diarréia do viajante.

A cólera é uma doença aguda que se caracteriza por diarréia volumosa e freqüente, capaz de levar o doente rapidamente à desidratação e à morte. As medidas de prevenção contra essa diarréia, que é causada pela ingestão do Vibrio cholerae, devem se basear no cuidado com o consumo de água e alimentos em áreas endêmicas e na imunização. Já usada em vários países e aprovada recentemente no Brasil, a vacina contra a doença se compõe de diferentes frações das cepas Inaba e Ogawa do Vibrio cholerae e da subunidade B da toxina colérica recombinante. Estudos multicêntricos demonstraram que o produto é 86% eficaz contra a infecção causada pelo vibrião colérico nos primeiros seis meses após a vacinação. Mas a cobertura imunológica não se restringe a essa bactéria. A presença da subunidade B da toxina produz também proteção cruzada de 67% contra a Escherichia coli enterotoxigênica (Etec) nos três primeiros meses depois da imunização. Há ainda pesquisas que apontam que a vacina apresenta uma eficácia geral de até 25% contra quadros de diarréia em viajantes, população que apresenta alta incidência de contaminação por Etec. A vacina, portanto, funciona como uma opção extra para as pessoas que se deslocam até regiões de alto risco para doenças diarréicas. Contudo, deve ser vista invariavelmente como uma proteção adicional, que não substitui as demais medidas de prevenção.

Por onde anda o Vibrio cholerae?
As pessoas que fazem rotas de viagem mais convencionais e que observam os cuidados básicos relacionados à ingestão segura de água e alimentos têm risco muito baixo de aquisição da cólera, que hoje está restrita a países como Angola, Senegal, Iraque, Sudão, Nigéria, Tanzânia, Nepal, Malásia, Índia, Bangladesh e Vietnã. De qualquer forma, como a bactéria pode estar presente nas fezes de indivíduos assintomáticos, a doença se dissemina rapidamente em regiões carentes de saneamento básico, produzindo surtos e até mesmo epidemias. As primeiras ocorrências datam do século 19, tendo atingido os continentes europeu e americano. A última grande epidemia iniciou-se em 1991, no Peru, e se espalhou por vários países da América do Sul, incluindo o Brasil, que registrou milhares de casos nos Estados das Regiões Norte e Nordeste. Nos últimos quatro anos, porém, não houve nenhum caso de transmissão local da cólera.

Hora de revacinar
Qualquer que seja a finalidade preventiva, a revacinação deve ser feita quando o intervalo entre as doses ultrapassar seis semanas ou após cinco anos da última dose aplicada.

Assessoria Médica
Dr. Jessé Reis Alves: [email protected]