O que faz bem ao coração | Revista Fleury Ed. 27

O amor por um parceiro, amigos e até por animais de estimação pode contribuir para reduzir o risco de doenças cardíacas

O amor por um parceiro, amigos e até por animais de estimação pode contribuir para reduzir o risco de doenças cardíacas

Dez filhos, 40 netos, 39 bisnetos e 13 tataranetos. A história de Maria, 93 anos, e Vicente, 97, começou como a de muitos casais das antigas, quando as uniões ainda eram acertadas entre os pais dos noivos. “Minha mãe conheceu meu pai pelo buraco da fechadura. Ele e meu avô conversavam na sala, e ela começou a olhar através da maçaneta, de dentro do quarto. Então, meu avô disse que eles teriam de namorar. Mas ela não queria”, conta Luzia da Silva Brito, uma das filhas do casal. Depois que Dona Maria selou a união com Seu Vicente, ela se apaixonou. Já se passaram 75 anos: as bodas de brilhante foram celebradas em julho.
Vicente Luís da Silva nasceu em São Bento do Sapucaí (SP) e Maria Geralda da Silva é natural de Brasópolis (MG). A família viveu primeiro em Minas, depois no Paraná e está há mais de 30 anos em Jacareí. Ele trabalhou na lavoura e, quando se mudou para o interior de São Paulo, atuou na construção civil. Ela sempre foi dona de casa. Mesmo com a idade avançada, nenhum dos dois nunca sofreu com doenças do coração. “Tenho ainda mais paixão por ele hoje em dia. É por isso que continuamos juntos”, diz Dona Maria após acordar da sesta diária. Uma das explicações para essa vida livre de problemas cardiovasculares – a primeira causa de morte no Brasil – está relacionada, entre outros fatores, a todo esse amor que Maria e Vicente sentem um pelo outro. “O estado emocional interfere em todas as glândulas e órgãos do corpo. As emoções provocam alterações na aceleração do coração, nos vasos sanguíneos e até na atividade das plaquetas”, diz Paola Smanio, cardiologista do Fleury Medicina e Saúde. “Quando a pessoa está feliz, tem uma postura diferente em relação a tudo. Isso também contribui para a melhora do sistema imunológico. A doença coronariana é muito influenciada pelo estilo de vida.”
Idosos apaixonados coração saudável
Afeto que protege o coração: Vicente e Maria estão juntos há 75 anos e continuam apaixonados. “Tenho ainda mais paixão por ele hoje em dia. É por isso que continuamos juntos” Dona Maria.


Amizade deixa o coração saudável
Andréia (acima) e Carolina com a pequena Júlia: as boas relações de amizade também ajudam a manter o coração saudável

Quando correspondido, o amor afasta a tristeza, tempera as relações e diminui o risco de doenças. Um estudo feito por médicos do Centro Nacional de Prevenção de Doenças Crônicas e Promoção da Saúde de Atlanta (Estados Unidos) concluiu que a depressão é fator de risco para a doença arterial coronariana. Outra pesquisa, da Universidade de Baltimore, também nos EUA, revelou que pacientes com disforia (no mínimo duas semanas de tristeza profunda) têm duas vezes mais chances de sofrer um infarto agudo do miocárdio. A depressão maior aumenta essa possibilidade em quatro vezes. Evidentemente, além de deixar a solidão de lado e amar muito, é preciso levar em consideração outros fatores que ameaçam a saúde do coração: hipertensão arterial, diabetes, tabagismo, sedentarismo, obesidade, estresse fora de controle, colesterol alto e história de familiares com doenças cardiovasculares.

Mais amigos

Ter amigos também contribui para uma vida melhor. “A amizade é o sal da vida”, diz um antigo provérbio latino. E não há verdade maior: sem pessoas com quem contar, a vida pode ficar bem sem graça. A amizade das médicas Andréia Mansour e Carolina Mello, ambas de 29 anos, comprova o ditado. Elas se conheceram quando ainda faziam cursinho, há cerca de dez anos. Alguns anos depois, entraram na mesma faculdade de medicina. A amizade veio, primeiro, por causa das afinidades, que incluíam a faculdade, os colegas de sala e os jogos universitários a que iam juntas. Aos poucos, os laços entre as duas cresceram. A chegada da filha de Carolina foi acompanhada de alegrias, mas também muitas dificuldades – e a amiga estava lá. “Quando fiquei grávida, durante a faculdade, ela me ajudou a superar a rejeição e a encarar o preconceito das pessoas”, conta. Andréia cita as mesmas passagens: “Os momentos mais legais que passamos juntas foram os momentos de estudo na casa dela, as festas da faculdade, os jogos, a gestação e o nascimento da Júlia”, diz. A amizade se consolidou ainda mais quando, em 2009, Andréia virou madrinha da filha de Carolina. “Escolhi ela por ter me ajudado muito na gravidez”, diz Carolina, que se lembra dos cansativos plantões dados com a amiga enquanto estava grávida, quando a ajuda se tornou fundamental. Um famoso estudo feito pela Universidade de Harvard desde 1938, e que já acompanhou milhares de voluntários, de todas as faixas etárias comprovou a importância dos amigos para manter uma vida saudável. Segundo a pesquisa, ter laços fortes de amizade aumenta a expectativa de vida em até dez anos e previne uma série de doenças. Uma das razões é a ação da oxitocina, hormônio que estimula as interações entre as pessoas e ajuda na redução dos batimentos cardíacos e da pressão sanguínea, além de fortalecer o sistema imunológico.

Pets que fazem bem
Além do amor e das grandes amizades, há quem viva melhor desenvolvendo um relacionamento de companheirismo com aqueles que são considerados os melhores amigos do homem. É o caso do publicitário Alex Arantes, de 34 anos, apaixonado por cães. Em 2012, ele deixou o cargo de gerência em uma agência em São Paulo e se mudou para Taubaté, onde abriu um pet shop. Em casa, ele tem quatro cães – os Golden Retriever Fred, Frida e Filó e um Lhasa Apso, Eike. “Vim para aproveitar a oportunidade no ramo, mas para abrir esse tipo de negócio tem de amar os animais. É uma responsabilidade enorme. São várias vidas superestimadas pelos donos”, conta Alex. Ele e a esposa Luciana cuidam dos cachorros da família como se fossem filhos. “Sentir a energia e ver a relação deles uns com os outros recarrega as minhas baterias”, diz. “Aqui, a gente mora em uma casa com um jardim grande. Golden adora chuva. Já aconteceu de darmos banho e, quando voltamos para casa, eles estavam cheios de lama. E aí demos risada. Fazer o quê?”, completa. A ciência já analisa o efeito da presença dos mascotes sobre seus donos. Um estudo da American Heart Association (AHA) apontou que ter um animal de estimação ajuda a proteger o coração. Isso porque os donos de animais costumam ser mais saudáveis e apresentam menor índice de obesidade e sedentarismo – o simples fato de levar cães para passear já é uma atividade física. Além disso, eles proporcionam uma sensação de conforto emocional que ajuda a reduzir o nível de estresse. Em outra pesquisa recente, publicada no American Journal of Cardiology, cientistas da Universidade de Kitasato, no Japão, apontaram que os donos de animais têm mais variabilidade do ritmo cardíaco. Seria uma evidência de que seus corações respondem melhor às exigências do corpo e são capazes de bombear sangue mais rapidamente em situações de estresse. No estudo, foram avaliadas 200 pessoas, entre indivíduos saudáveis e outros com diabetes, pressão arterial e colesterol elevado.
Ter um animal de estimação ajuda a proteger o coração
Para o publicitário Alex, sentir a energia dos cães e ver a relação entre eles é uma forma de recarregar baterias.