Clínica aponta miastenia gravis, mas exames tradicionais não confirmam o diagnóstico | Revista Médica Ed. 6 - 2014

O diagnóstico da miastenia gravis (MG) baseia-se em dados clínicos, laboratoriais e eletrofisiológicos. A eletroneuromiografia com estimulação repetitiva é um exame útil no diagnóstico da doença.

 

Junção neuromuscular sob a óptica da micrografia

SPL DC/LATINSTOCK


Tenho um paciente de 68 anos, hipertenso, com sinais clínicos que me levam fortemente à suspeita da forma ocular da miastenia gravis. Apresenta queixa de diplopia há um mês e ptose palpebral mais evidente à esquerda. Mas a pesquisa de anticorpos ligadores contra o receptor de acetilcolina mostrou resultado na faixa indeterminada, enquanto a eletroneuromiografia com teste de estimulação repetitiva não revelou alterações. Diante desses resultados, uma vez que não pude confirmar ou afastar minha hipótese clínica, gostaria de saber que outro teste eu poderia solicitar para me auxiliar nesse contexto.


O diagnóstico da miastenia gravis (MG) baseia-se em dados clínicos, laboratoriais e eletrofisiológicos. A eletroneuromiografia com estimulação repetitiva é um exame útil no diagnóstico da doença, especialmente na forma generalizada, em que alcança 70% de sensibilidade, o que se perde, contudo, nas formas oculares, nas quais se mostra pouco sensível. Ademais, a positividade dos anticorpos ligadores também é menor em tais formas.


No contexto do seu paciente, a eletromiografia de fibra única (EMGFU) é o teste neurofisiológico mais sensível para o diagnóstico da doença, visto que estuda a junção neuromuscular e tem particular utilidade em indivíduos com poucos sintomas ou fraqueza restrita aos músculos da face. Nessas circunstâncias, como constatado no caso relatado, com frequência o teste de estimulação repetitiva apresenta-se normal. 


A EMGFU, a seu turno, permite o estudo seletivo de uma única fibra muscular e, por meio da análise do jitter, avalia a variabilidade no tempo de transmissão neuromuscular. O valor do jitter é mensurado em microssegundos e encontra-se aumentado em pacientes com MG, tendo alta sensibilidade para o diagnóstico da doença, de modo que é praticamente possível afastar a hipótese de miastenia se essa avaliação estiver normal. 


Contudo, vale ponderar que a análise do jitter não é específica para MG, podendo apresentar um valor também elevado em doenças do nervo e do músculo, que, portanto, devem ser excluídas na investigação.





Dr. Carlos Otto Heise,
assessor médico do Fleury em Eletroneuromiografia [email protected]


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