Diagnóstico da infecção por HIV: depois de 30 anos, ainda um desafio

O número de brasileiros em TARV é bom, mas há espaço para melhorar

De acordo com o mais recente Relatório Global da Unaids, existem 39 milhões de pessoas vivendo com HIV no mundo e, destas, 29,8 milhões recebem terapia antirretroviral (TARV). No Brasil, a proporção é semelhante, com 990 mil indivíduos vivendo com o vírus e 723 mil em tratamento.
 
Apesar das campanhas destinadas à prevenção da transmissão do HIV em nosso país, observou-se aumento de 17,2% no número de casos de infecção pelo HIV entre 2020 e 2022, sobretudo no grupo de 20 a 29 anos, que concentrou 40,7% de casos novos no sexo masculino. No sexo feminino, as novas infecções ocorreram principalmente entre 15 e 49
anos (78,3%), mostrando a importância do planejamento familiar, da oferta do teste para detecção precoce e do início da TARV para evitar a transmissão da infecção no pré-natal.

O número de brasileiros em TARV é bom, mas há espaço para melhorar. Prova disso é que, só em 2022, o Brasil registrou 11 mil mortes por complicações da aids, um retrato inaceitável numa realidade em que as pessoas podem ter acesso a tratamento
gratuito no sistema público de saúde.

Ocorre que muitos infectados pelo HIV desconhecem seu diagnóstico, o que eleva a morbidade e o risco de transmissão. Não por acaso, a Unaids defende que o caminho para pôr fim à aids até 2030 passa pela necessidade de 95% dos infectados conhecerem seu status, de 95% das pessoas que vivem com HIV estarem em tratamento e de 95% pacientes em TARV terem carga viral indetectável.

Para o alcance da meta, portanto, é imperativo que as pessoas tenham acesso à testagem de forma rotineira e que essa necessidade seja cogitada por todo clínico – sem esperar que a pessoa procure um infectologista.

O rastreio da infecção pelo HIV atualmente faz parte da estratégia de prevenção combinada, visando a alcançar um impacto máximo na redução de novas infecções. Para tanto, reúne medidas biomédicas, comportamentais e estruturais baseadas nos direitos humanos e em evidências. Por fim, considera contextos locais bem documentados e
compreendidos (veja tabela na matéria da pág. 31).


Como usar os exames disponíveis para diagnóstico


Nos primeiros dez dias após a exposição ao HIV, não há marcador ainda disponível para flagrar o vírus em amostras de sangue. É o chamado período de eclipse, ou estágio zero de um total de seis estágios propostos por Fiebig e colaboradores para a história natural da
infecção por HIV.

A partir do estágio I, que dura cerca de uma semana, o exame de PCR (ou carga viral) já consegue detectar e quantificar o RNA do HIV, o que se estende por todos os estágios de Fiebig, caso o paciente não receba TARV nesse ínterim. No estágio II, é possível detectar também o antígeno p24, o que se repete no III. A partir do IV, esse marcador pode ser negativo (se pesquisado isoladamente), à medida que passa a constituir imunocomplexos.

Os anticorpos contra o HIV-1 só são encontrados a partir do estágio III pelo método imunoenzimático (Elisa), cerca de 25 dias após a exposição, e a partir do estágio IV pelo western blot (WB), cerca de 30 dias após a exposição. Contudo, o padrão positivo de WB ainda não apresenta a reatividade da proteína p31, só visto geralmente depois de 70 dias.