Diagnóstico de infecções congênitas durante a gestação

Quais são as principais doenças e suas manifestações clínicas

Durante a gravidez, as infecções maternas podem ser causa  importante de complicações para o feto no período pré-natal e,  até mesmo, para o recém-nascido no pós-parto, aumentando  a taxa de morbidade e mortalidade perinatais. Além disso,  crianças que são assintomáticas ao nascer podem apresentar  sequelas ao longo de seu desenvolvimento. Isso ocorre porque  existem diversas infecções que são passíveis de transmissão  vertical, isto é, que podem ser transmitidas ao feto pelo  hospedeiro materno, em diferentes idades gestacionais e com  uma ampla variedade de manifestações intrauterinas, neonatais  e em momentos posteriores da infância.

Os patógenos bacterianos, virais ou parasitários que  são transmitidos através da interface maternofetal  podem ocasionar infecção no feto e, assim, alterar a  organogênese e desencadear anomalias congênitas dos  principais órgãos e sistemas. Além das malformações,  outras consequências incluem a restrição de crescimento,  prematuridade, aborto e óbito fetal ou neonatal (quadro  1). De modo geral, cerca de 3% dos nascidos vivos  apresentam anomalias congênitas, contudo, a proporção  de casos que se deve à etiologia infecciosa não é  bem estabelecida.  

Outro ponto importante é que a ocorrência desses  desfechos desfavoráveis é variável de acordo com o  agente etiológico e a idade gestacional em que ocorre a  aquisição da infecção. Por exemplo, cerca de 10% a 30%  dos casos de óbito fetal têm etiologia infecciosa, taxa  que pode chegar a 50% na infecção pelo Treponema  pallidum durante a gestação ou ser inferior a 3%  se a infecção for causada pelo eritrovírus  (parvovírus B19). As consequências das infecções congênitas  podem também se manifestar somente após o parto,  com diferentes consequências no recém-nascido – como  icterícia, hepatoesplenomegalia, anemia e trombocitopenia  – ou ainda mais tardiamente, como déficit auditivo, visual,  de crescimento e de desenvolvimento (quadro 1).

Entre as infecções congênitas, o citomegalovírus (CMV)  é a etiologia mais comum de infecção intrauterina.  Nas mulheres em idade reprodutiva, de 45% a 90%  apresentam sorologia positiva para CMV e, nas com  sorologia negativa, pode haver soroconversão em cerca  de 15% a 20% durante a gestação, se habitarem em  região com alta prevalência do vírus. A soroprevalência  tende a ser mais alta nos países em desenvolvimento  quando comparados aos desenvolvidos, assim como nos  estratos socioeconômicos mais vulneráveis dentro de  um mesmo país.  

A rubéola e a toxoplasmose são infecções com  distribuição mundial. Nos países que ainda registram  novos casos de rubéola, a doença incide mais  frequentemente no final do inverno e no começo da  primavera e tem importância quando a infecção ocorre  na primeira metade da gestação em mulheres suscetíveis.  Já a toxoplasmose tem maior incidência em regiões de  clima tropical.

Esse artigo tem como objetivo introduzir  o conteúdo sobre as infecções durante o período gestacional, sendo o primeiro de uma  série de matérias que, nas próximas edições  da Revista Médica, trarão discussões mais  aprofundadas sobre as doenças infecciosas  mais comuns na gestação.



Consultoria médica:

Dr. Javier Miguelez 

Consultor médico em Medicina Fetal 

[email protected]

Dra. Joelma Queiroz Andrade 

Consultora médica em Medicina Fetal 

[email protected]

Dr. Mário Henrique Burlacchini  

Coordenador médico de Medicina Fetal 

[email protected]

Dra. Carolina dos Santos Lázari 

Consultora médica em Infectologia 

[email protected]

Dr. Celso Granato 

Consultor médico em Infectologia 

[email protected]