Imunodifusão dupla vs. imunoensaio em fase sólida: qual o melhor método para dosar anticorpos contra antígenos extraíveis? | Revista Médica Ed. 1 - 2019

O grupo de pesquisadores do Setor de Imunologia do Fleury investigou a possibilidade de melhorar o VPP do teste feito por Elisa.

Sou reumatologista e tenho me questionado sobre o fato de termos métodos sensíveis demais para dosar os anticorpos voltados contra antígenos extraíveis, mas que carecem de especificidade. O Fleury tem atuado em alguma linha de pesquisa para melhorar esses recursos?

Os autoanticorpos contra antígenos extraíveis (anti-ENA), importantes para o diagnóstico de doenças autoimunes, foram identificados e caracterizados por imunodifusão dupla (IDD) e todas as associações clínicas conhecidas para esses biomarcadores utilizaram dados obtidos por esse método. Por outro lado, vários imunoensaios em fase sólida (Elisa e correlatos) para anti-ENA têm sido desenvolvidos pela indústria ao longo dos anos, com crescente uso pelos laboratórios clínicos.

Embora extremamente específica, a IDD apresenta sensibilidade limitada, enquanto os ensaios de Elisa são altamente sensíveis, apesar de exibirem menor especificidade que a primeira, produzindo resultados positivos em contexto clínico inesperado e, portanto, menor valor preditivo positivo (VPP).

Considerando que os baixos VPP obtidos por Elisa poderiam ser devidos a uma alta e inadequada sensibilidade dos ensaios, o grupo de pesquisadores do Setor de Imunologia do Fleury investigou a possibilidade de melhorar o VPP com otimização do valor de corte (cut-off), que define resultados positivos.

Mediante análise comparativa por curva ROC, com sete kits aprovados pelo FDA e uso de uma ampla casuística com diagnóstico clínico bem definido, o grupo demonstrou ser possível modular o cut-off para obter ganho significativo do VPP – em vários casos, em torno de 100% –, mantendo a sensibilidade em geral superior à obtida por IDD. Os resultados desse estudo (Pereira, Dellavance, Andrade; doi: 10.1016/j.cca.2014.07.031)* têm sido amplamente citados e discutidos em fóruns científicos internacionais.

Para validar tais resultados, os pesquisadores procederam a uma nova rodada de validação, porém com casuística independente da original, objetivando confirmar os dados e fazer o ajuste fino do cut-off dos vários kits anti-ENA. Para tanto, usaram amostras de 626 indivíduos com diagnóstico de artrite reumatoide (n = 70), lúpus eritematoso sistêmico (72), esclerose sistêmica (60), síndrome de Sjögren (30), miopatias inflamatórias idiopáticas (39), hepatite autoimune tipo 1 (70), espondilite anquilosante (70), hepatite por HCV (75) e vasculites (67), assim como de 73 indivíduos saudáveis. O manuscrito resultante do novo estudo ainda está em fase de submissão para publicação.

Nesse processo, foram selecionados os kits que melhor performance apresentaram para cada autoanticorpo (anti-SS-A/Ro, anti-SS-B/La, anti-Sm, anti-RNP, anti-Jo-1, anti-Scl-70). Os resultados apontaram um excelente desempenho geral dos kits escolhidos para cada anti-ENA, mediante modulação do cut-off da reação.

Com base nessas conclusões, o Fleury passará, em breve, a fazer a determinação de anticorpos anti-ENA por Elisa, oferecendo maior sensibilidade que a IDD, mas sem perder a especificidade e o VPP característicos daquela consagrada metodologia.


Dr. Luis Eduardo Coelho Andrade, assessor médico em Imunologia e Reumatologia.
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*Autores: Alessandra Dellavance, Alexandre Wagner Silva de Souza, Danielle Cristine Baldo, Luís Eduardo Coelho Andrade e Sandro Felix Perazzio.