Antes da hora | Revista Fleury Ed. 15

A redução gradual da memória na terceira idade é natural. Mas é possível manter a memória a mil com atividades físicas e intelectuais


Existe o momento de o feto nascer, de o bebê sentar, de a criança dar os primeiros passos. Logo já está na hora de brincar. Daí, a infância fica para trás e começa a surgir, a cada dia, um novo questionamento. É a chegada da adolescência. Nesse ritmo natural da vida, no qual as mudanças vão acontecendo gradual e lentamente, a menina torna-se mulher, que está pronta para ser mãe, e segue em direção à maturidade. Com pequenas variações que ocorrem de organismo para organismo, é possível dizer que há idades esperadas para que cada uma dessas fases aconteça.

Contudo, quando há alterações mais significativas nesses ciclos, é o momento de prestar atenção aos sinais do corpo, e procurar ajuda médica para o tratamento adequado. Para as meninas, quando as transformações vêm antes do esperado, pode ser que elas estejam em um processo de puberdade precoce. Já para a mulher madura, em menopausa precoce.

“Normalmente, espera-se que a puberdade ocorra entre os oito e 13 anos de idade”, explica Ana Hoff, endocrinologista do Fleury Medicina e Saúde. “É quando as mamas começam a aparecer, os pelos surgem pelo corpo, os quadris se alargam, o corpo ganha formas arredondadas, pois o ovário está entrando em pleno funcionamento”, diz. O organismo passa por transformações fisiológicas resultantes de uma cascata de reações químicas, que começam no cérebro, em uma região chamada hipotálamo. Ele estimula a produção de dois hormônios – o FSH e o LH – pela glândula hipófise, que por sua vez desencadeia a produção de estrogênio e progesterona pelos ovários. Ou seja, é como se um sinal fosse liberado no cérebro para que, a partir desse momento, as glândulas responsáveis pela produção dos hormônios sexuais começassem a produzir com maior intensidade essas substâncias. São elas que, uma vez liberadas, vão provocar as mudanças físicas típicas da puberdade.

Até aí tudo bem. O problema começa, segundo Ana, quando essas transformações aparecem antes dos oito anos. E a chance de isso ocorrer é de um caso para cada cinco mil ou 10 mil mulheres. É possível então que a menina tenha algum problema nesse eixo hormonal. Mas é possível também que essa precocidade ocorra sem causas aparentes, ou seja, situação conhecida como idiopática. Em casos mais graves, a puberdade precoce pode exigir uma abordagem terapêutica específica. Mas esses casos são raros, segundo a médica.

Por isso, é importante levar a criança ao pediatra todos os anos, pois ele é o profissional de saúde que faz o acompanhamento do desenvolvimento infantil. “É o pediatra que mede a velocidade de crescimento e pode perceber o aparecimento de caracteres sexuais antes da hora”, diz Ana Hoff.


Diante de qualquer suspeita de anormalidade no desenvolvimento, são feitos exames de sangue para dosar os hormônios, e raios X da mão e do punho para avaliar a idade óssea. Pode ser indicada também uma ultrassonografia do útero e dos ovários para identificar alguma anormalidade. “Na maioria dos casos nos quais foi diagnosticada a puberdade precoce, o tratamento consiste na inibição da produção dos hormônios sexuais, retardando esse desenvolvimento”, diz ela. O objetivo do tratamento é retardar o aparecimento desses sinais. Se houver indicação médica para o tratamento e não for instituído, a puberdade precoce acaba atrapalhando o crescimento da menina, pois a área dos ossos que possibilita o crescimento da estatura se fecha antes do tempo e, então, a garota não atinge a altura que deveria.
Outro aspecto é a questão emocional, uma vez que o aparecimento de caracteres sexuais precocemente pode fazer a criança se sentir diferente das outras, provocando uma sensação de deslocamento. “Ela poderá enfrentar dificuldades de adaptação na escola e no relacionamento com os amigos. Uma preocupação que os pais dessa criança poderão ter diz respeito ao impacto dessa precocidade fisiológica na sua vivência sexual”, afirma Maria Tereza Vieira, endocrinologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Quando acontece mais tarde...
Mas pode ocorrer o oposto também. A menina espera a primeira menstruação, observa que todas as amigas já usam sutiã, mas ela, com 14 anos ou mais, ainda tem um corpo bastante infantil. Provavelmente, trata-se da puberdade tardia, um tipo de atraso na constituição feminina que ainda não tem suas causas esclarecidas. “A menina simplesmente tem seu ciclo de hormônios sexuais mais tardio, não há nada de anormal com ela”, enfatiza Ana. O tratamento, nesse caso, passa a ser o oposto da puberdade precoce: se julgar necessário, o médico orienta o uso de medicamentos que estimulam a produção de hormônios. “Ao final do período de crescimento, as pessoas que tiveram esse atraso na puberdade geralmente acabam por alcançar estatura semelhante à de seus familiares adultos”, complementa Maria Tereza.
A outra grande mudança no ciclo hormonal feminino ocorre com a menopausa, que também pode chegar antes da hora – o natural é que ela ocorra por volta dos 50 anos, mas há mulheres que aos 40 anos, ou até antes, já entram nesse processo. Nesse caso, isso acontece, geralmente, por questões genéticas ou porque essas mulheres fizeram algum tratamento médico que causou a alteração no ciclo hormonal. A mulher pode, precocemente, parar de menstruar, sentir muitos calores, sofrer de secura vaginal, perder o cabelo e ganhar pelos – todos sintomas típicos da menopausa provocados pela falta de estrogênio. Ao sentir isso antes da idade normal, é fundamental procurar um médico. Ele avaliará o caso, solicitará a dosagem dos hormônios e, com isso em mãos, saberá se a mulher está ou não entrando na menopausa antes da hora. Caso esteja, a reposição hormonal costuma ser o tratamento mais recomendado. “Na medida em que não se identifique alguma situação de contraindicação, o uso da reposição hormonal deve ser adequadamente orientado, principalmente com a finalidade de aliviar os sintomas decorrentes da deficiência de produção do estrógeno, que tanto incomodam as mulheres nessa fase da vida”, conclui Ana.