Uma médica e uma estilista falam sobre as diferenças e semelhanças entre padrões médicos e estéticos de peso e estrutura física por laura folgueira.
A modelo australiana Robyn Lawley estampou recentemente um editorial da revista Cosmopolitan que reviveu o debate sobre os restritos padrões de beleza no mundo da moda: aos 23 anos, ela foi classificada pela publicação como plus-size (“tamanho maior”), termo criado por norte-americanos para designar mulheres que vestem manequim acima do tamanho 44. O fato dificilmente causaria polêmica não fossem as características nada “plus” de Robyn: com 1,88 m de altura, ela pesa 81 kg e exibe 99 cm de busto, 78 cm de cintura e 106 cm de quadril.
Robyn reacendeu os holofotes, mais uma vez, para uma discussão tão antiga quanto urgente: em um mundo dominado pelo sobrepeso e, ao mesmo tempo, pela proliferação nas passarelas de um padrão de beleza que privilegia a magreza, como encontrar o equilíbrio? Convidamos a endocrinologista Milena Teles, do Fleury Medicina e Saúde, e a estilista Marie Toscano, que assina os novos uniformes de colaboradores e médicos do Fleury, para discutir essa questão.
Em seu ateliê, a experiência comprova o fato: se há dez anos era comum ver mulheres, especialmente as mais jovens, bastante magras e sem gordura abdominal, hoje é raro. “Vejo, no máximo, uma mulher a cada dois anos com a tal cintura de 60 cm. E, quando há, são mulheres bastante jovens. O mais comum são as cinturas acima de 70 cm.”
Ser obeso ou magérrimo não é algo recomendável para ninguém. O que vale, mesmo, é o caminho do meio. Para a medicina, é a medida da cintura que importa – e muito. Mas sem radicalismos dignos de passarela. Apesar de geralmente se usar o IMC (Índice de Massa Corporal) para indicar sobrepeso, obesidade ou mesmo baixo peso, a fórmula pode enganar. “O IMC é um rastreamento mais geral que nem sempre tem relação com a saúde. Um halterofilista, com muita massa magra, pode ter um IMC de sobrepeso, mas ser completamente saudável”, exemplifica Milena. Muito mais confiável é a combinação do método com a medida de circunferência abdominal, que reflete com maior exatidão a concentração de gordura visceral e é usada como indicador do aumento do risco cardiovascular e metabólico associado à obesidade. Os valores mudam de acordo com o gênero e o grupo étnico. No Brasil não existe padronização dessas medidas.
Sabe a modelo plus-size que citamos logo no início desta reportagem? Robyn Lawley tem IMC de 22,9 (o valor considerado saudável está entre 18,5 e 24,9) e circunferência abdominal 10 cm menor que o limite para caucasianas, que aponta riscos à saúde apenas a partir de 88 cm de cintura. O corpo dela pode ser considerado, portanto, em equilíbrio, dentro dos padrões de saúde, ainda que suas medidas desafiem o trio 90-60-90 das passarelas. “Vale lembrar que, curiosamente, a tendência da brasileira de concentrar gordura no quadril e no bumbum traz menos riscos à saúde quando comparada à gordura acumulada no abdome”, diz Milena.
Manequim ideal?
Segundo Marie Toscano, no entanto, nota-se agora um movimento muito particular do universo fashion – o que antes era um manequim 42, hoje é vendido como 40 –, uma prática que pode causar a falsa impressão de que as gordurinhas estão sob controle. Como ainda não existe um padrão mundial no varejo de moda que determine as medidas mínimas e máximas de cada numeração, vale o que os fabricantes estabelecem. “As marcas mexeram na grade de numeração, principalmente nos Estados Unidos. Pessoas que usavam M agora usam P, ainda que estejam maiores”, diz Marie.
Se o ideal de beleza das passarelas não encontra tanta ressonância na vida real, qual é o corpo que as mulheres buscam – e o que fazem para consegui-lo? No Brasil, hoje há dois modelos de beleza bastante distintos estampando as páginas dos editoriais de moda e fitness: um é a mulher magérrima, ao estilo das modelos de passarela; o outro é a malhada, hipertrofiada. Tanto Milena quanto Marie acreditam que as preferência variam regionalmente. “Aqui se faz muita musculação. No ateliê vejo muita gente com coxas grandes e definidas. Na academia, as pessoas não são ‘finas’ como nas passarelas. Mas é um padrão atual, bem recente”, diz a estilista. Já Milena vê diferenças entre São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo: “No Rio, o IMC é culturalmente maior do que o de São Paulo. É algo bem regional.”
A médica, porém, chama atenção para possíveis problemas da busca por muitos músculos e pouquíssima gordura. O primeiro é o risco de lesão e sobrecarga de músculos e articulações. “Além disso, a mulher depende de uma quantidade mínima de tecido adiposo para funções básicas, como o ciclo menstrual. O problema não é o excesso da massa magra, mas a redução extrema de gordura, que pode fazer a mulher parar de menstruar. Isso também pode acontecer com quem tem baixa massa magra e o peso muito abaixo do indicado”, diz. “Mas voltando para uma constituição corpórea ideal, isso é reversível.”
Segundo a endocrinologista, é claro que ainda há quem viva atrás do corpo das revistas femininas ou da dieta da moda: detox, menos glúten, zero lactose. “Mas isso tem diminuído”, diz a médica. “Hoje, no consultório, grande parte dos pacientes procura saber como ser definido e vem também com um pedido: ser saudável. Se meu biotipo é esse, não ultrapasso as medidas de risco e tenho exames normais, ótimo”, completa.
Milena Teles, endocrinologista do Fleury Medicina e Saúde
Marie Toscano, estilista especializada em roupas de festa
EM FORMA, COM SAÚDE
Combinar a medida da circunferência abdominal ao IMC é uma excelente maneira de controlar o sobrepeso e a obesidade. Confira a tabela com os valores para caucasianos e faça sua avaliação combinada:
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