Cores da vida | Revista Fleury Ed. 18

Lao morava no alto de um morro. Feliz, respeitado pela comunidade, fazia suas meditações todos os dias depois do pôr do sol.

“Nasci no Recife, Pernambuco, e sou o sétimo de oito irmãos. Desde pequeno, tenho paixão pelas cores. Mas, como vivíamos de forma muito simples, tudo que tínhamos era racionado, inclusive os papéis para desenhar. Então, eu colocava a minha criatividade em papelões, calçadas e paredes. Pintava para trazer luz e cor para minha vida, pois, como um menino pobre, conheci muito precocemente o lado sombrio da vida.

Aos 14 anos, consegui uma bolsa de estudos num dos melhores colégios do Recife. Nessa época, enxergava a arte como um hobby, e meu objetivo era ser diplomata para poder viajar e conhecer o mundo. Buscando esse sonho, prestei vestibular para Direito na Universidade Católica do Recife e, para ganhar um dinheiro, vendia quadros de naturezas-mortas e cajus maduros em feiras livres da cidade.

Entretanto, depois de dois anos na faculdade, decidi seguir meu instinto e minha visão colorida de mundo. Desisti da diplomacia, passei a visitar museus com mais frequência e a ler livros especializados para obter referências diferentes. Decidi passar uma temporada nos Estados Unidos. Para sobreviver, pintava quadros na rua, podava jardins e lavava carros. A notoriedade veio quando um executivo, de uma grande marca de bebidas, viu meus trabalhos numa galeria de Miami e me pediu para criar um desenho para uma campanha da marca. Do dia para a noite, minha arte estava estampada em todo lugar, e as pessoas começaram a encomendar quadros. Hoje, minhas obras estão espalhadas por museus dos cinco continentes, e já expus inclusive no Louvre, um dos mais famosos do mundo.
As cores e os temas de minhas telas falam muito por mim. Acredito na felicidade, no poder da família e na esperança de um mundo melhor. E são esses os valores que eu procuro refletir em meus trabalhos. Enquanto eu conseguir refletir a celebração das pequenas e boas coisas da vida em meus quadros, continuarei conquistando meu espaço neste mundo tão colorido.”

ROMERO BRITTO tem 46 anos e vive nos Estados Unidos. É um dos artistas plásticos brasileiros mais famosos do mundo.