Cotidiano, Óptica e Humor | Revista Fleury Ed. 18| Revista Fleury Ed. 18

Não há idade para começar a se movimentar ou praticar exercícios. Eles trazem benefícios para o corpo e a mente em todas as idades


Quem chega à Unidade Itaim depara, logo na entrada, com um desenho que lembra uma cena tipicamente paulis­tana: edifícios altos, sinais de trânsito e antenas de TV. Quase todas as fi­guras são apresentadas apenas por traços pre­tos. Algumas, porém – como a piscina em que uma mulher se prepara para mergulhar, um arco vermelho e uma bola que diverte um menino –, trazem cores fortes e parecem despertar alegria nas personagens. Pequenos momentos diários de epifania. A mostra é um convite, um incen­tivo para que cada visitante se anime a “colorir” sua cidade e a própria vida – seguindo o recado embutido no subtítulo da mostra: Respire Co­res, Inspire Sorrisos. “As situações cotidianas proporcionam essa transformação, e a exposição tenta incentivar as pessoas a promovê-la”, expli­ca Monica Palazzo – coautora da mostra junto com Renata Rugai, ambas cineastas.

Dezenove ambientes da unidade receberam trabalhos concebidos pela dupla em parceria com uma equipe multidisciplinar. As obras são varia­das. Há vídeos (Sala Experiência), uma coleção de espelhos que faz com que o visitante se veja a partir de ângulos inusitados (Corredor dos Espe­lhos) e uma mesa curiosa (Móbile Mobília): sobre seu vidro, pequenas esferas se movimentam, em resposta aos passos dos visitantes, captados por sensores eletrônicos. “A ideia é que as pessoas percebam que uma vida saudável se constrói dia­riamente, com pequenas atitudes, que refletem no bem-estar físico, mental e social. Essa é uma maneira de mudarmos comportamentos prejudiciais à nossa saúde”, afirma Monica. O caráter lúdico da exposição é sintetizado em um corre­dor com os Segredinhos da Vovó, caixas afixadas na parede que, quando abertas pelo visitante, re­produzem dicas de saúde. Detalhe: a voz que nos fala é de uma bem-humorada vovó. “E é difícil resistir aos conselhos dela”, brinca Monica. Na entrevista a seguir, ela fala sobre a Colorir a Vida e sobre como a arte, a saúde e as cores podem transformar nosso cotidiano.

Fleury Saúde em Dia: Colorir a Vida – Respire Cores, Inspire Sorrisos. Como dar forma a esse conceito?
Monica Palazzo: Colorir a Vida é uma ma­neira de relacionar valores importantes para o Fleury – como bem-estar, equilíbrio e saúde – com experiências do ramo das artes visuais. Explorando, em todas as obras e ambientes da exposição, aspectos lúdicos e poéticos, preten­demos despertar novos pontos de vista sobre situações cotidianas. A ideia é que as pessoas percebam que uma vida saudável se constrói diariamente, com pequenas atitudes, que refle­tem no bem-estar físico, mental e social. Essa é uma maneira de mudarmos comportamentos prejudiciais à saúde, rever valores e permitir a nós mesmos experimentar coisas novas e co­nhecer lugares e culturas diferentes. Nós somos muito influenciados pelo ambiente em que esta­mos. Por isso, visitar a Unidade Itaim para rea­lizar um exame e deparar com uma experiência sensorial, como a proposta pela Colorir a Vida, é algo muito bacana e inusitado.

Fleury: Muitas atrações da exposição permitem o contato do visitante com as obras apresentadas – ou mesmo dependem dessa interação. Por que isso?
MP: Dar ao visitante a possibilidade de alterar o movimento das obras é concretizar a ideia pro­posta pela exposição: respirar cada cor, inspirar sorrisos – em si e nos outros. Ou seja, nós tam­bém devolvemos ao mundo aquilo que o mun­do inspira em nós. A interação não é uma via de mão única, assim como os cuidados com o bem-estar mental, físico e espiritual estão vin­culados à nossa relação com os acontecimentos diários – que nem sempre são prazerosos, mas que podem ser encarados de outras maneiras, inclusive com bom humor.

Fleury: Qual a relação entre cor e humor, cor e estado de espírito? De que forma as cores podem tocar as pessoas?
MP: As cores vibram, e elas nos atingem de forma muito diferente do que faz a palavra escrita, por exemplo, ou a música, que também nos atinge, mas de maneira diversa. No caso da exposição, a ideia foi apresentar os trabalhos com traços pretos e pincelar nossas propostas para diversão, reflexão e inspiração com cores. Daí o subtítulo da exposição: Respire Cores, Inspire Sorrisos. A ideia é que você respire, leve para dentro as cores, e as devolva não apenas para você, mas para as demais pessoas. O preenchimento da vida com as cores depende muito de nós, depende do nosso estado de espírito.

Fleury: Sua área de atuação é a arte. De que forma ela pode alterar nosso humor?
MP: A arte não está vinculada ao humor, mas podemos ter o bom humor como consequência de um trabalho “bem-humorado”. O bom humor pode nos trazer leveza, e a arte pode nos fazer ver o mundo de outra forma.
Fleury: A arte parece distante das pessoas no dia a dia. É objetivo da exposição aproximá-las?MP: Privilegiamos aspectos do dia a dia na expo­sição usando, para tanto, uma mistura de lingua­gens poéticas e uma diversidade de materiais. Te­mos alguns painéis coloridos que retratam cenas cotidianas. Há também um esquete, bem-hu­morado e em vídeo, que mostra a manhã de um casal momentos antes de o rapaz sair para fazer um exame de sangue. Ou os painéis lenticulares, que exibem frases inspiradoras. Para lê-las, o vi­sitante tem de se deslocar, pois em cada posição uma parte do painel é mais bem visualizada.

Fleury: Como podemos repetir isso em nossas vidas, em nosso trabalho, em nossas casas?
MP: Muitas vezes, a vida cotidiana nos tira a leve­za, o tempo ocioso, o intervalinho para levantar, esticar as pernas e os braços – e isso inclui aquele tempo para a fruição, para o prazer estético. Ou­vir uma boa música, rever uma fotografia feita em uma viagem bacana e anotar no papel palavras que vêm à mente pode quebrar essa rotina. Eu me co­movo revendo pinturas e filmes que são impor­tantes para mim, e também mantenho o hábito de ler livros ou artigos. Nesse sentido, vale muito a pena ter sempre o livro favorito ao alcance da mão, a canção preferida no iPod ou ainda a repro­dução de um quadro ou foto no computador. E ter a consciência de que nada substitui a ida ao cine­ma ou uma visita ao museu.

Fleury: E a beleza, ela tem uma função especial em nossas vidas?
MP: Se lembrarmos que a estética é responsável por nos provocar afetos, percepções e sensações, então concluiremos que a beleza deveria, sim, fa­zer parte da vida das pessoas. Mas como? Se esti­ver aliada aos conhecimentos com que entramos em contato desde a escolinha. Valores estéticos são muitas vezes deixados de lado, quando deve­riam ser responsáveis também pela construção da nossa visão de mundo, e nos ajudar a trilhar nossos caminhos nele.