Duas pessoas, duas formas de encarar desafios e, em comum, a capacidade de unir movimentos leves a treinamentos pesados para ultrapassar limites
Duas pessoas, duas formas de encarar desafios e, em comum, a capacidade de unir movimentos leves a treinamentos pesados para ultrapassar limites
A bailarina
Na ponta dos pés, as bailarinas rodopiam, saltam e fazem movimentos que misturam pura leveza a muita força física e concentração. Esses detalhes leves e graciosos foram levados às alturas pela paraquedista Julie Vidotti, de 31 anos, vice-campeã brasileira de freestyle, categoria que alia o voo de três dimensões aos movimentos de dança e ginástica artística.
Em queda livre, a 13 mil pés do solo, Julie coloca em prática boa parte do que aprendeu em 15 anos de aulas de balé. “Todos os movimentos são de ponta de pé. Não faço uma dança para o salto, eu adapto o que já fazia no balé para desenvolver em queda livre”, explica. “Quem já fez algum tipo de dança tem vantagem no esporte, porque já tem consciência corporal.”
Nesse esporte, em que atua há quatro anos, ela sempre tem a companhia de um câmera, que completa o time. A dupla é avaliada igualmente nas competições. “A pontuação vai 50% para o performer e 50% para o câmera. A função dele é muito difícil, pois é preciso acompanhar todos os movimentos de forma sincronizada, a minha imagem tem de estar
o tempo todo no meio do vídeo, e ele tem de fazer algumas acrobacias junto comigo.” Mas o que conta mesmo, segundo ela, é a plástica do salto. “Quanto mais eu conseguir deixar o salto bonito e leve, mais vou pontuar”, diz Julie, que tem mais de mil saltos no currículo.
“Não consigo comparar o paraquedismo a nenhum outro trabalho. É algo totalmente solto, livre. Quanto mais espontâneo você é, melhor”
Julie Vidotti
Como é seu treinamento?A gente tem dois tipos de saltos em campeonatos: três de rotina livre e dois de movimentos obrigatórios. Dentro da rotina livre eu posso criar o que quiser, pois é um evento artístico. Nos obrigatórios, tenho de fazer exatamente os movimentos desenvolvidos por paraquedistas mais experientes, que são bem complexos. Treino no chão, simulo o que vou fazer no céu e conto o tempo. Mas a parte física a gente só consegue treinar em queda livre. São saltos atrás de saltos, porque eu tenho de estar voando, sem chão, para conseguir desenvolver giros e loopings que só em queda livre a gente consegue fazer.
Quanto tempo você tem para realizar os movimentos?
São 45 segundos de queda livre, é esse tempo que conta para as competições. Antes de subirmos para o salto, passamos por escrito para os juízes o que vai ser feito. Tem de ser exatamente aquilo e dentro desse tempo. Depois, com uma separação de segurança, cada um abre o seu paraquedas e, após o pouso, levamos as imagens para avaliação.
É preciso usar muita força durante os saltos?
No freestyle, tentamos transmitir um movimento leve, mas ele é bem pesado para executar. Exige muita isometria [ação muscular que desenvolve tensão com pouca ou nenhuma contração do músculo], porque o equilíbrio em queda livre é muito difícil e não temos nada para apoiar a não ser nosso próprio tronco. Além de atentar para a leveza e o equilíbrio, precisamos ter bastante calma para conseguir desenvolver os movimentos. Em queda livre, o devagar é rápido.
Como você consegue essa calma?
Antes de saltar, é preciso se concentrar, ficar quietinha naqueles 10 ou 15 minutos de subida da aeronave. Também é importante repassar os saltos na cabeça, porque pode acontecer de esquecer a rotina durante a queda livre. Temos de ter concentração, preparo mental e psicológico.
E em relação à alimentação, você tem de manter seu peso?
Se eu engordar, caio mais rápido, o que altera o movimento com minha dupla. Tenho de estar sempre no mesmo peso. Particularmente, não tenho muito problema com engordar ou perder peso, creio que por genética mesmo. Mas, às vezes, se engordo um quilinho ou dois, faço uma dietinha.
Você tinha medo de altura antes de saltar pela primeira vez?
Falo para todo mundo que vai saltar pela primeira vez que o importante não é o medo, mas a vontade. O medo é inevitável, é natural chegar na porta do avião e desistir, é instintivo. Eu tinha muito medo sim e, quando fui fazer meu primeiro salto duplo, só pensava: “Preciso fazer isso um dia na vida”. O resultado é que me apaixonei, achei muito mais tranquilo do que parecia, e fui adquirindo conhecimento sobre equipamento, instrução. A partir do momento em que você entende o que envolve o salto, tem uma corresponsabilidade, e isso torna tudo mais seguro. A chance de acontecer alguma coisa é muito pequena.
Você foi se acostumando com o ambiente?
É um trabalho que leva tempo. Do 30º aos 100º salto, eu me perguntava: “Por que estou aqui? Eu realmente quero isso?”. Porque dá aquela sensação de perigo, é um esporte radical, extremo. Acho importante observar os paraquedistas de sucesso, que não fazem o salto para mostrar, mas para eles mesmos. Isso já reduz a cobrança, a insegurança, e depois disso é só trabalhar o lado psicológico da atividade, que é o maior desafio. O paraquedismo é 95% cabeça e 5% corpo.
O que é leveza pra você?
É o momento em que estou livre de qualquer estresse. Geralmente isso acontece quando estou no caminho de casa para o centro de paraquedismo. É quando deixo tudo para trás, porque sei que vou voar. Isso pra mim é ser leve. É o momento de “zero problemas”. Só penso em qualquer problema quando vou embora. A área de salto é outro mundo, outro universo. É o meu playground. Por isso não consigo comparar o paraquedismo a nenhum outro trabalho. É algo totalmente solto, livre. Quanto mais espontâneo você é, melhor.
O ARTISTA
O ARTISTA
O brasileiro Fábio Luís Santos, artista do Cirque du Soleil, aprendeu desde cedo o contraste entre a leveza dos movimentos e a força necessária para executá-los. Ele se encantou com a ginástica artística aos oito anos, treinou durante outros 13 e participou de inúmeras competições pelo país. Mas queria ir além. Encontrou essa oportunidade em uma audição para a companhia de circo mais famosa do mundo. “Ser um bom acrobata não é garantia de que você vai se encaixar. É preciso ter algo mais. Eles gostaram da minha plástica bem solta, do fato de me expressar bem e de tentar tudo o que fosse possível para me tornar um artista”, conta Fábio, contratado pela trupe em 2009.
Até 2014, ele está no elenco de Corteo, em turnê por todo o país. Seu principal número é o “Tournik”, que fecha o espetáculo. Um grupo de 12 artistas se cruza em um ato que combina técnicas de barras horizontais com artes circenses. Ele também é reserva em “Bouncing Beds”, número em que seis artistas fazem acrobacias ousadas sobre camas elásticas que se movem em plataformas giratórias. Em ambos os casos, a complexidade dos movimentos desafia a gravidade e deixa a plateia quase sem fôlego.
“Fazemos movimentos muito difíceis como se fossem tranquilos. O público vê a perfeição, a leveza, mas tudo foi muito repetido e treinado para chegar a esse ponto”
Fábio Santos
Quantas apresentações vocês fazem por semana?
Nós fazemos em torno de 8 a 10 apresentações por semana. Todos os dias eu faço o ato da barra fixa, que é o “Tournik”, e dependendo do dia faço também o “Bouncing Beds”.
Em cartaz no Brasil com o espetáculo “Corteo”, Fábio faz mais de 300 shows por ano
O palco gira enquanto a ação acontece nos dois números. Isso torna os movimentos mais difíceis?
O Cirque du Soleil só põe algo no palco quando está muito seguro e não há mais nenhum tipo de risco. Ou seja, a gente já treinou bastante e já se acostumou com o palco girando. E como é tudo muito bem treinado e adaptado para essa situação, não tem problema nenhum.
Como você consegue unir leveza e força física para fazer os movimentos?
Isso é fruto do treinamento que comecei aos oito anos, quando me apaixonei por ginástica artística, um esporte que mexe com medo, dor e demanda muita persistência. Quando você vê um atleta executando os movimentos, ele parece tão leve... Mas, na verdade, é tudo muito difícil. No Cirque du Soleil as apresentações passam a mesma sensação: fazemos movimentos muito difíceis como se fossem tranquilos. O público vê a perfeição, a leveza, mas tudo foi muito repetido e treinado para chegar a esse ponto.
O que passa pela sua cabeça durante a execução dos movimentos?
Cada artista tem uma preparação diferente. Tem quem goste de ficar mais quieto, pensando no que vai fazer, passo a passo. Eu gosto de ficar quieto, tranquilo, sem pensar muito. Sei o que posso fazer, tenho confiança no meu trabalho. Mas, naquele segundo antes de subir na barra, aí sim eu foco: “Agora vamos lá, está valendo, capricha que você pode”.
Quanto tempo antes de o espetáculo começar você inicia a preparação?
Uma hora antes do show, o elenco inteiro se reúne com o diretor artístico para comentar trechos do espetáculo, o que está bom e o que pode melhorar. Cantamos para aquecer as cordas vocais e fazemos exercícios de atenção. É um momento para descontrair, mas também para ficar focado para que tudo corra bem. Como há um risco muito alto nas acrobacias, a gente está sob muita adrenalina. Esse aquecimento faz diferença.
Já teve medo diante de alguma acrobacia?
Como a gente treina bastante, não dá medo na hora da apresentação. O medo vem no treinamento, quando estou aprendendo algo novo, pois estou lidando com a possibilidade de me machucar. Mas gosto de sentir medo. Adoro essa adrenalina, essa possibilidade de fazer sempre alguma coisa diferente, tentar algo novo.
Você ouve as reações da plateia durante o espetáculo?
Eu ouço tudo. Tem gente que fica surdo, que realmente esquece tudo quando está na barra. Eu presto atenção em tudo e adoro ouvir as reações. O público brasileiro é muito quente, vibra, levanta, aplaude, faz barulho. Poucas vezes senti o que sinto aqui no Brasil.
Qual o maior desafio no que você faz?
É ter consistência mesmo com tantos shows – são mais de 300 por ano. Busco fazer todos eles bem e estar sempre saudável, com tudo no lugar, estar feliz e não me machucar.
Você é realizado com o trabalho?
Com certeza. Eu venho do esporte e sempre foi muito difícil ter apoio para participar de competições, mesmo com bom rendimento. Mas consegui mudar o rumo da minha carreira, fui fazer algo mais artístico, em uma companhia que tem tudo aquilo que sonhei quando era atleta. Estou muito feliz com as apresentações e a repercussão que o circo traz.
E pretende ser acrobata por mais tempo?
O futuro vai depender muito mais do meu corpo que da minha mente, pois é comum ter problema no ombro, na coxa, na coluna – ou seja, o corpo vai sentindo mais. É um trabalho muito físico, com movimentos repetitivos. Minha mente sempre vai querer, mas uma hora meu corpo não vai mais dar conta. Então, sei apenas que estou no “Corteo” até 2014.
“Adoro essa adrenalina, essa possibilidade de fazer sempre alguma coisa diferente, tentar algo novo”
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