Em direção a um mundo novo | Revista Fleury Ed. 16

Ao priorizar estudo e trabalho, algumas mulheres engravidam um pouco mais tarde. Saiba que cuidados tomar e como se planejar para esse momento tão importante

Um dia o corpo começa a se transformar, a voz ganha outras entonações, os olhos se focam em interesses até então inimagináveis, o comportamento muda e a principal busca passa a ser, nem sempre de maneira consciente, a formação de uma identidade própria. Para os pais, a chegada da adolescência pode ser um período tanto temido quanto esperado; afinal, nessa fase de mudanças e descobertas, conflitos são naturais e podem ser recorrentes. Isso é bastante compreensível, pois não é mesmo tão simples ver o corpo e a cabeça mudar drasticamente, se autodescobrir, ter de entrar para uma nova turma e abandonar o universo infantil para encarar, em um futuro não muito distante, o mundo adulto.

No entanto, é importante que os pais saibam que esse processo de desenvolvimento físico e emocional, pautado pela descoberta do mundo, não precisa ser tumultuado nem cheio de atritos. Pelo contrário: pode ser uma passagem bem natural, com a realização de mais uma importante etapa da vida, de preferência inesquecível e incomparável. O trabalho para isso, porém, deve começar bem antes, nas relações familiares, construídas desde o início da vida.

“A adolescência começa a ser construída quando a criança nasce”, afirma a psiquiatra Sandra Scivoletto, especialista em adolescentes da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). “Nós, pais, vamos construindo essa adolescência quando os filhos são pequenos. E, se queremos adolescentes bem estruturados e responsáveis, temos de trabalhar para isso durante a infância”, explica ela. Em outras palavras, todo o processo de amadurecimento – e a forma como meninos e meninas vão lidar com ele – está diretamente associado às relações desenvolvidas na família desde o nascimento.

Crianças que foram extremamente mimadas e nunca ouviram um não dos pais terão mais dificuldades em lidar com as frustrações e rejeições que fazem parte do crescimento e da vida. Aquelas que nunca puderam decidir nada sozinhas e que nunca tiveram sua opinião levada em conta poderão tentar se fazer ouvir na marra, adotando comportamentos destrutivos e provocativos quando crescerem. Já as que têm pouca proximidade com os pais e que têm dificuldade de dialogar com eles, provavelmente se afastarão ainda mais e se sentirão perdidas quando forem adolescentes. Portanto, é importante criar um ambiente no qual haja diálogo, afeto, compreensão e espaço para as crianças falarem e serem ouvidas – e no qual elas possam ser orientadas e acompanhadas para irem, aos poucos, desenvolvendo o próprio raciocínio e tomando as próprias decisões. Tudo isso, é claro, mantendo regras e limites saudáveis.

As mudanças físicas

Sendo criadas dessa maneira, as crianças estarão mais estruturadas e se sentirão amparadas ao perceberem os primeiros sinais da puberdade, quando, além do estirão de crescimento, há o surgimento dos primeiros caracteres sexuais. E basta um sinal da hipófise – uma glândula localizada no cérebro que envia às demais glândulas do corpo a mensagem de que está na hora de começar esse processo de amadurecimento – para o corpo começar a produzir, com intensidade, os hormônios sexuais.

No caso das meninas, por volta dos 9 anos, os seios começam a crescer. Em seguida, de forma gradual, vão nascendo mais pelos no corpo, e o quadril vai se alargando. Em torno dos 11 anos ou 12 anos, vem a primeira menstruação, podendo ser irregular nos primeiros dois anos, até que, lá pelos 14 anos ou 15 anos, ocorrem os primeiros ciclos ovulatórios. A menina está se transformando em uma mulher.

Para os meninos, os primeiros sinais aparecem quando os testículos começam a crescer, por volta dos 9 anos. Dois ou três anos depois, inicia-se o crescimento do pênis, seguido do surgimento de pelos no corpo e das alterações na voz. A barba, tão ansiada por muitos garotos, aparece lá pelos 14 anos ou 15 anos. Os ombros se alargam, o corpo continua crescendo, e é normal que, por um tempo, o menino se sinta desconfortável e pouco à vontade com o próprio corpo. “Ao contrário das meninas, que sofrem boa parte das mudanças no período da primeira menstruação, os meninos passam por uns cinco anos de mudanças corporais. Diferentemente das garotas, que tendem a sofrer as transformações da puberdade, todas, mais ou menos, na mesma idade, nos homens essas mudanças têm maior variabilidade”, explica Simone Lotufo, pediatra do Fleury Medicina e Saúde. “É comum ter, em uma mesma classe, entre estudantes da mesma idade, meninos mais desenvolvidos fisicamente do que outros. E como o desenvolvimento do tecido muscular é a última etapa da puberdade masculina, é comum os adolescentes crescerem, ficarem altos, embora magrinhos, durante alguns anos”, ressalta ela.

Portanto, não adianta querer comparar o desenvolvimento de um garoto com o de outro. Mesmo no caso das meninas, em que a puberdade ocorre de forma mais homogênea entre os 9 anos e os 12 anos, existem variações normais. Isso porque o ritmo dessa transformação está relacionado com questões genéticas e ambientais, como condição socieconômica, doenças na infância e aspectos nutricionais. “Identificar problemas nessa fase não é fácil. Apenas em uma consulta médica, com avaliação por meio de exame clínico, gráficos e com os critérios de Tanner – que pontuam o estágio do desenvolvimento do jovem –, o especialista pode saber se está havendo algum problema, como puberdade precoce ou tardia”, revela Simone.

Atualmente, os hebiatras – pediatras especializados em adolescentes – são os médicos mais indicados para fazer esse acompanhamento periódico. Entretanto, o pediatra também tem a formação necessária para isso. Mas, para os pais, fica um alerta: em vez daquela consulta médica com o pediatra, na qual eles entravam juntos e acompanhavam tudo, a consulta do adolescente já começa a ser diferente, mais um sinal de que ele deixou de ser criança para se transformar em um jovem adulto. A partir dos 13 anos, em média, ele poderá ser atendido sem a presença dos pais e das mães, para começar a construir uma relação de confiança com seu médico. Isso está longe de separar os pais ou mantê-los afastados do que acontece com seus filhos – todo bom profissional também conversa com os pais e relata a eles as informações importantes que precisam ter. Se tiver mais privacidade, porém, o adolescente pode tirar dúvidas e fazer questionamentos que talvez não tivesse coragem de fazer na frente dos pais. É possível conversar, por exemplo, sobre o início da vida sexual, sobre doenças sexualmente transmissíveis e mesmo esclarecer dúvidas normais, como tamanho do pênis e dos seios – questões sobre as quais a informação correta, e de uma fonte confiável como um médico, é muito importante e pode fazer toda a diferença.

Um bom cardápio
Também é importante não descuidar da alimentação e orientar sempre para o consumo de uma dieta equilibrada, que inclua frutas, legumes, vegetais, grãos e proteínas de boa qualidade, encontradas em carnes, frangos e peixes, justamente para tentar conter a tendência dos adolescentes de comerem muito fast-food, influenciados pela turma e por horários mais desregulados. “A adolescência também é um momento delicado para o surgimento de distúrbios alimentares, desde obesidade, por comer comidas mais calóricas e mais fast-food, até outros distúrbios, como anorexia e bulimia, pela preocupação excessiva com o corpo. É importante que os pais fiquem atentos a isso e, se perceberem que o jovem está engordando demais ou parando de comer, procurem um especialista”, afirma a nutricionista do Fleury, Carla Yamashita.

Tentar promover refeições em família – tornando o ato de comer um momento agradável e de diálogo – evitar deixar que os filhos se alimentem diante da televisão e oferecer uma gama variada de alimentos são algumas das recomendações para pais e mães. “É muito importante, também, estimular a atividade física, seja a natação, a dança, a prática de esportes”, informa ela.

O comportamento em questão
Como dissemos no início deste texto, ser adolescente não é tão fácil assim. Além de passar por todas as transfomações físicas, assimilando um novo corpo, o adolescente tem de descobrir quem ele é, do que gosta, quem são seus amigos e como ele se posiciona no mundo. “O adolescente quer quebrar a dependência com os pais, e é natural que exista um questionamento das referências materna e paterna, o que pode gerar conflitos”, explica a pediatra Simone Lotufo. “Paralelo a isso, ele precisa se localizar no próprio grupo, se sentir aceito, se identificar”, complementa a psiquiatra Sandra Scivoletto, da USP.

As duas dão um recado que deve tranqüilizar os pais: essa separação progressiva, em busca de independência, faz parte do crescimento, e pais e mães precisam entender e saber dosar o quanto é essencial para o adolescente estar em companhia dos amigos, que falam a mesma linguagem. “É importante que os pais tentem dar espaço para o adolescente. Deixem que ele escolha as roupas, decore o quarto, ouça suas músicas. O gosto do adolescente pode não ser mais o gosto dos pais. É preciso deixar que ele se comporte dessa forma, porque é nessa idade que tem de ser adolescente”, complementa Débora Gejer, hebiatra do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). “Isso não quer dizer romper com todos os laços familiares. Tente se manter próximo, convide os amigos dele para ir em casa, acompanhar a rotina deles, iniciar o diálogo”, completa.

""A busca pela independência faz parte do crescimento, e pais e mães precisam entender isso""

A sexualidade
Outra característica intríseca da adolescência – e para a qual os pais precisam estar preparados – é a descoberta da sexualidade, do desejo que o seu corpo desperta no outro e do desejo que ele sente pelo corpo do outro: uma vivência que a criança não tem. “Quando você é criança, está protegido. Já o adolescente precisa começar a lidar com a possibilidade de rejeição”, explica a hebiatra.

Nesse momento, a superproteção tampouco adianta; pelo contrário, pode ter um efeito negativo. “Todo pai precisa entender que o filho cresceu. Pode ser difícil, mas é necessário. Por mais que isso gere preocupação, ela também surgirá se seu filho passar pela adolescência e nada acontecer, se ele ficar em casa sozinho, sem vivenciar as experiências típidas da época”, afirma Sandra. A busca do diálogo, da informação e dos cuidados que devem ser tomados com relação à atividade sexual é muito importante e saudável. “Tanto com assuntos de sexo quanto de drogas e álcool, pais e mães devem responder para os filhos o que eles perguntam e saber sobre o que eles têm dúvida. Quanto mais cedo explicar, melhor” afirma Débora Gejer, da USP.

Tempo de mudanças
Entenda o que acontece no corpo de meninos e meninas na adolescência

Meninos
Começam a surgir pelos nas axilas, na virilha e no peito.
A barba também começa a aparecer.
Há aumento no volume dos testículos e, posteriormente, no tamanho do pênis.
A voz começa a oscilar, até ficar mais grave.
Os ombros se alargam.
O menino ganha peso e aumento na estatura.
Espermatozoides começam a ser produzidos.
Ocorre desenvolvimento da massa muscular.

Meninas
Há expansão óssea da cintura pélvica, e o quadril se alarga.
Começam a surgir pelos nas axilas e na virilha.
Há depósito de gordura nas nádegas, nos quadris e nas coxas.
As mamas começam a se desenvolver.
O ciclo menstrual é iniciado