Exames que previnem | Revista Fleury Ed. 23

O resultado positivo de um exame que confirma a gravidez marca um dos momentos mais importantes na vida de uma mulher.

O resultado positivo de um exame que confirma a gravidez marca um dos momentos mais importantes na vida de uma mulher. Ele anuncia novas responsabilidades, uma grande mudança na rotina e também emoções intensas que durarão por toda a sua vida. Mas esse é apenas o primeiro de dezenas de exames que a grávida precisará realizar durante os nove meses que se seguem. O acompanhamento pré-natal é obrigatório e inclui procedimentos que investigam a existência de problemas que, quanto mais cedo forem identificados, mais facilmente poderão ser solucionados.

Por isso, conheça os exames mais solicitados durante cada período da gravidez, entenda como são realizados, quais seus objetivos e fique tranquila: fazê-los é a primeira – e muito importante – demonstração de cuidado e afeto pelo bebê que está por vir.

Primeiro trimestre

Ultrassonografia transvaginal

Exame de imagem que confirma a gravidez e verifica se o embrião está se desenvolvendo no útero – existe a possibilidade de uma gestação fora da cavidade uterina, que é inviável. O método também mostra o número de embriões e estima o tempo de gestação. “Esse dado é importante para calcular a data provável do parto e acompanhar se o desenvolvimento do feto está coerente com a idade gestacional”, explica Mário Burlacchini, responsável pela área de Medicina Fetal do Fleury. O exame é realizado por meio de uma sonda revestida por um preservativo estéril inserida na vagina.

Tipagem sanguínea

Inclui, além do tipo sanguíneo – A, B, AB ou O –, o fator Rh, negativo ou positivo. Esse exame é importante porque, caso a mãe seja Rh negativo e o pai Rh positivo, o bebê poderá herdar o fator do pai e, portanto, ter o sangue incompatível com o da mãe. Se isso ocorrer na primeira gestação, não há riscos para o bebê. No entanto, o organismo materno passa a produzir anticorpos que reconhecem o fator Rh como estranho. Nas próximas gestações, se o bebê for Rh positivo, os anticorpos poderão reagir com o seu sangue, causando anemia e uma série de complicações. Com o diagnóstico, é possível prevenir a situação com a administração de uma espécie de vacina, denominada imunoglobulina anti-Rh. O exame é feito com a coleta de sangue da mãe e não há necessidade de preparo.

Sorologias para citomegalovírus, rubéola e toxoplasmose

É importante descobrir no começo da gravidez se a mulher já teve alguma dessas infecções – se já teve, está imune. Todas podem prejudicar o bebê se contraídas durante a gestação. Se a grávida nunca teve essas infecções, precisa saber como evitálas. Se não teve rubéola, mas já foi vacinada, não precisa se preocupar. “Quando não foi, é importante lembrar que não pode receber a vacina nesse momento”, alerta a infectologista Carolina Lázari, médica consultora para Educação em Medicina e Saúde do Fleury.

Sorologia para sífilis

Realizada em amostra de sangue, detecta a presença de sífilis. Mesmo quando a gestante não tem sintomas, a infecção pode ser transmitida para o bebê e prejudicar seu desenvolvimento ou se manifestar na criança após o nascimento. Quando o resultado é positivo, a mãe é tratada, o bebê é acompanhado e, se necessário, também recebe antibióticos.

Sorologias para vírus da Hepatite B e HIV

Demonstram a presença desses vírus e permitem a adoção de medidas para evitar a transmissão ao bebê. “A transmissão intrauterina de hepatite B é rara”, diz Carolina Lázari. “Mas é frequente que ocorra durante o parto. Por isso, o recém-nascido deve receber a vacina e a imunoglobulina contra hepatite B nas primeiras 12 horas de vida”. Sem intervenção médica, a chance de transmissão da infecção pode chegar a que 90%, dependendo da atividade da doença na mãe. Com as medidas administradas para o bebê, esse número cai para próximo de zero. A grávida portadora de HIV é tratada com antirretrovirais durante a gestação e o parto, e o bebê recebe AZT nas seis primeiras semanas de vida. Sem o medicamento, a taxa de transmissão é de até 25%. Com os medicamentos, fica entre 0% e 2%.

Teste de tolerância à glicose

Diagnostica precocemente o diabetes gestacional, que pode prejudicar o desenvolvimento do bebê e a saúde da gestante. O primeiro teste é feito por meio da coleta de uma amostra de sangue para a dosagem de glicose uma hora após a ingestão de uma solução com 50g de glicose. Não é necessário jejum. Se o resultado for negativo, o procedimento é repetido entre a 24a e a 28a semana. Se for positivo, será solicitada uma curva glicêmica, isto é, dosagens seriadas de glicose em jejum e, a seguir, com uma, duas, e três horas após a ingestão de 100 g de glicose.

Tiroide

TSH, T3, T4 e T4 livre verificam o funcionamento da tiroide e permitem ao médico estabelecer tratamento ou adequar a dose do medicamento para mulheres que já fazem uso. O hiper e o hipotiroidismo prejudicam a gestação e o feto quando não controlados. O exame é feito pela coleta de sangue.

Urina 1 e Urocultura

Investigam infecções urinárias que, mesmo sem sintomas, aumentam o risco de parto prematuro e infecções neonatais. Nos casos de resultados positivos, o tratamento é feito com antibióticos. Os exames são feitos pela coleta de urina uma vez por trimestre, ou quando houver suspeita de infecção.

Parasitológico de fezes

Detecta protozoários e verminoses que causam anemia e devem ser tratados com medicamentos que não oferecem risco à gravidez.

Citologia do colo uterino

O médico deve solicitar o exame – conhecido como “Papanicolau” – caso a mulher esteja há mais de três anos sem fazê-lo. O objetivo é investigar lesões que predispõem ao câncer do colo do útero e infecções. Para obtenção da amostra, é coletado material do colo do útero, sob visão direta.

Ultrassonografia morfológica

Realizada entre a 11a e 14a semana – preferencialmente na 12a –, verifica o desenvolvimento do bebê e a medida da translucência nucal, prega na parte posterior do pescoço do feto. Tal medida, quando fora dos padrões, pode apontar o risco de malformações de origem genética, como a Síndrome de Down. O exame detecta de 70% a 85% desses problemas. Associado às dosagens de Proteína A Plasmática Associada à Gravidez (PAPP-A) e Beta Gonadotrofina Coriônica Humana livre (BHCG-free), as chances aumentam para 95%.

Segundo trimestre

Ultrassonografia morfológica

Neste exame, realizado entre a 20a e 24a semana – preferencialmente na 22a –, o médico checa o desenvolvimento do bebê mais detalhadamente. É possível verificar problemas físicos, cardíacos e renais que podem ser solucionados quando detectados precocemente. O procedimento é semelhante ao realizado no 1o trimestre.

Ultrassonografia

Ultrassonografia transvaginal

O exame é semelhante ao realizado no 1o trimestre de gravidez, mas com objetivo diferente: verificar a medida do colo do útero entre a 20a e 24a semana. Quanto mais curto, maior o risco de parto prematuro. Quando esse risco é alto, a grávida é aconselhada a repousar, usar medicamentos ou até mesmo realizar uma pequena cirurgia, a cerclagem, para garantir que a gravidez chegue ao termo.

Fibronectina fetal

Solicitado a partir da 22a semana, também serve para avaliar o risco de parto prematuro. No procedimento, é colhida uma amostra da secreção vaginal, em que é pesquisada a fibronectina, uma proteína de origem fetal que, quando presente na secreção vaginal entre a 22a e a 36a semana gestacional, indica risco de parto prematuro, principalmente nas duas semanas que se seguem.

Terceiro trimestre

Ultrassonografia morfológica

Realizada entre a 34a e 36a semana, avalia o desenvolvimento do bebê e verifica se a quantidade de líquido amniótico e a maturidade da placenta estão compatíveis com o tempo de gestação. Ambos, quando alterados, podem interferir na saúde do bebê e antecipar o parto.

Cultura para estreptococo do grupo B

O estreptococo do grupo B é uma bactéria que pode fazer parte da flora vaginal e intestinal. Quando presente em gestantes, pode ser transmitida ao recémnascido durante o parto, resultando em doenças como pneumonia, meningite e infecção da corrente sanguínea. Para prevenir essas complicações, o exame é feito por volta da 35a semana gestacional. São coletadas amostras da vagina e da região anal da grávida, com o uso de uma pequena haste. O resultado é liberado em até três dias úteis e, se positivo, motiva a prescrição de antibióticos para a mãe, a fim de eliminar a bactéria antes do parto e evitar as infecções no bebê.

Prevenção sem susto

A possibilidade de precisar de exames invasivos, como a biopsia do vilo corial e a amniocentese, ainda assusta muitas gestantes. Esses exames têm por objetivo o estudo genético do feto, quando há suspeita de alterações cromossômicas causadoras de síndromes e malformações. Em geral, são solicitados pelo obstetra quando a medida da translucência nucal está fora do padrão, nos casos de alterações cromossômicas em gestações anteriores, nos pais ou na família, para grávidas com mais de 40 anos ou hipertensas, diabéticas ou portadoras de doenças autoimunes. Entenda melhor esses procedimentos:

Biopsia do vilo corial

Realizada entre a 11ª e 14ª semana. Com a ajuda da ultrassonografia, o médico faz uma punção com agulha através do abdome da grávida e coleta um pequeno fragmento do tecido placentário. Existe um risco pequeno, de aproximadamente 1%, de o procedimento causar sangramento ou até mesmo resultar em abortamento.

Amniocentese

Realizado a partir da 16ª semana, o procedimento é semelhante ao da biopsia, porém o material coletado é uma amostra de líquido amniótico. O risco de prejudicar a gravidez também é pequeno, inferior a 1%. Depois de ambos os exames, recomenda-se que a mulher fique em repouso durante três dias.
Ultrassonografia 4D
Atualmente, as imagens obtidas por este método são fascinantes: é possível ver detalhes do bebê quase como em uma foto. Além de ser importante emocionalmente para os futuros pais, para estabelecer vínculo, o exame auxilia bastante no diagnóstico de algumas malformações quando combinado à ultrassonografia obstétrica convencional. O procedimento é realizado por via abdominal; o laudo e as imagens são liberados em dois dias úteis.


Ultrassonografia com Doppler

Trata-se de uma ultrassonografia que emprega um equipamento capaz de estudar o fluxo e a resistência vascular na artéria uterina da mãe e nos vasos sanguíneos do bebê – especificamente as artérias umbilicais e cerebrais. Pode ser requisitada depois da 12ª semana, principalmente em gestações de alto risco, como, por exemplo, para grávidas com hipertensão, diabetes ou doenças autoimunes.

Perfil Biofísico Fetal

Esse estudo, que pode ser realizado a partir da 28ª semana, combina a ultrassonografia e a cardiotocografia computadorizada. Com ele, o médico observa a quantidade de líquido amniótico, os movimentos físicos e respiratórios do bebê, seu tônus e a reatividade da sua frequência cardíaca (por exemplo, se há aumento dos batimentos quando o bebê se movimenta). O ultrassom é realizado de forma semelhante aos comuns. Já para o exame de cardiotocografia, são colocados transdutores no abdome da gestante, ligados ao cardiotocógrafo, que registrará a frequência cardíaca do bebê. A grávida deve acionar um botão a cada movimento fetal que sentir.