Meu querido pet | Revista Fleury Ed. 25

A relação entre crianças e animais de estimação pode ser muito saudável, desde que haja supervisão dos pais e cuidados com a prevenção de doenças.

A relação entre crianças e animais de estimação pode ser muito saudável, desde que haja supervisão dos pais e cuidados com a prevenção de doenças

Para quem gosta de ter animais de estimação por perto, poucas situações são mais reconfortantes do que chegar em casa e ser recebido pela alegria das mascotes. Melhor ainda quando a ciência comprova que essa relação faz bem à saúde física e mental. Segundo um estudo publicado pela Associação Americana de Psicologia, donos de cães, gatos e outros bichos têm mais qualidade de vida, são mais extrovertidos e menos preocupados. Outro levantamento recente, apresentado por pesquisadores finlandeses e publicado pela revista Pediatrics, concluiu que crianças que convivem com cães e gatos são mais saudáveis e têm menor incidência de infecções respiratórias no primeiro ano de vida do que aquelas que não têm contato com os animais.

No entanto, ainda é difícil para os pais identificar os limites para o convívio saudável entre seus filhos e os animais de estimação. Mais que isso, é preciso saber a hora de dizer sim para a criança que pede para ter uma mascote. Afinal, possuir um animal de estimação muda a rotina da casa e exige muita atenção e responsabilidade. Por isso, a primeira pergunta a se fazer antes de atender aos apelos infantis é: a família está realmente disposta a ter um animal de estimação? Se apenas a criança quer, mas os pais não, isso tende a gerar consequências desagradáveis. “Nós só teremos um cachorro se você cuidar’ é o grande chavão da responsabilidade. Mas você não vai fazer a criança ir ao pet shop, por exemplo. Quem vai são os adultos. Alimentar, trocar a água e saber lidar com o animal são coisas que a criança terá de aprender a partir das atitudes dos pais”, explica Hannelore Fuchs, médica-veterinária e doutora em Psicologia.

Convívio
Segundo Hannelore, a criança só passa a ser capaz de ajudar nos cuidados com um animal de estimação a partir dos 4 anos de idade – e, mesmo assim, sob a supervisão do adulto, para garantir a segurança dos pequenos e também do bichinho. Ela lembra, por exemplo, de um vídeo que circulou recentemente na Internet em que um bebê puxa a orelha de um cão grande, deita em cima dele, e o animal não faz nada. “Isso passa uma imagem utópica de que não há perigo algum para as crianças. Mas esses são cachorros especiais, de mordida inibida. Além disso, o vídeo não permite saber a que distância está a pessoa que está filmando, mas é possível perceber que há um adulto próximo, que pode intervir caso haja reações inesperadas do animal”, conta a especialista. “É, sim, muito saudável a relação entre os bichos e as crianças, desde que supervisionada por um adulto”, completa.

Estabelecidas as regras e os limites para um convívio saudável, o animal pode se tornar um companheiro das crianças. “O bichinho ouve e não critica, acolhe, não transmite o que a criança falou, acompanha, dá calor e é uma presença constante”, diz Hannelore, que alerta, no entanto, para a importância de não deixar os pequenos se isolarem. “É preciso aprender a interagir com outros seres humanos. O bicho ajuda na comunicação, na autoestima, na aprendizagem, mas tudo o que é exagerado deve ser abrandado”, diz.

Manter um animal de estimação por perto também demanda que as crianças aprendam a lidar com a morte e o luto. “Há casos em que essa perda é tão traumática quanto a de alguém da família ou de um amigo. A magnitude da dor é igual.” Por isso, ela aconselha. “Os pais, a professora e a família devem aproveitar para explicar a morte, falar sobre continuidade e sobre querer bem. A regra é aproveitar o momento para ensiná-los a lidar com o inevitável.”

Prevenção
A relação entre animais de estimação e crianças também deve levar em conta a prevenção de doenças. Lídia Hamamoto, infectologista pediátrica do Fleury Medicina e Saúde, alerta. “Os pais precisam tomar o cuidado de ensinar hábitos de higiene especiais às crianças que convivem com animais de estimação. Após o contato com eles, é fundamental lavar as mãos, por exemplo.”

A especialista destaca a importância de vacinar, vermifugar e levar os bichinhos ao veterinário. Os cachorros podem transmitir a toxocaríase, doença transmitida pelo parasita Toxocara canis, que pode causar febre, perda de peso, transtornos gastrointestinais, tosse e falta de ar. Outra infecção comum é a doença da arranhadura do gato, que pode provocar aumento dos gânglios e febre. “É uma bactéria que pode estar presente na saliva e nas unhas do gato e pode ser transmitida à criança se for arranhada”, explica Lídia.

Há ainda a toxoplasmose, causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, presente nas fezes dos gatos. “A transmissão acontece mais por meio de contaminação alimentar, carne malpassada, água não filtrada e verduras e legumes lavados de forma inadequada. Mas o convívio com os gatos também pode estar implicado na aquisição da doença.”

Segundo Lídia, os adultos também precisam ficar atentos para prevenir acidentes. “Às vezes, o animal é muito dócil, mas se a criança o incomoda quando ele está se alimentando, ele pode não ser tão dócil e mordê-la ou arranhá-la.” Por isso, é importante supervisionar o convívio e garantir que o animal seja vacinado contra raiva, infecção transmitida por meio da mordedura. “Se o animal for vacinado e o ferimento for superficial, basta lavar o local com água corrente e sabão. Caso contrário, a criança pode precisar receber a profilaxia contra a doença.”

Sem espirros
Outro tema que surge quando se fala em animais e crianças são as possíveis alergias. Segundo a alergista-imunologista e pediatra Fátima Rodrigues Fernandes, se o pai ou a mãe já são alérgicos ao epitélio – tecido que reveste a pele dos animais – de cães ou gatos, é muito provável que os pequenos também desenvolvam essa sensibilidade. Isso é sentido logo nos primeiro meses após a chegada do bichinho de estimação. Para saber se as crianças são alérgicas, é importante ficar de olho nos sintomas mais comuns: coceira nos olhos, lacrimejamento, vermelhidão e espirros. “O gato é o campeão. Quem tem alergia já começa a coçar os olhos, espirrar, ter coriza, coceira no nariz e obstrução nasal assim que entra no mesmo ambiente. E em pacientes com predisposição à asma, também pode aparecer tosse seca, chiado no peito e até mesmo falta de ar”, diz Fátima.

Há uma teoria que afirma que crianças com predisposição genética, quando expostas a esses animais no primeiro ano de vida, podem se tornar tolerantes em vez de alérgicas. “Mas, para evitar problemas é mais recomendável que crianças alérgicas evitem o contato próximo com os animais”, afirma Fátima.

Mas o que fazer se o convívio com animais for inevitável para crianças alérgicas? “Nesse caso, os pais devem preferir animais que não soltem muitos pelos e que sejam fáceis de higienizar”, diz. Outra recomendação é evitar que os animais fiquem em locais onde a criança passa grande parte do tempo, como o quarto. “O alérgeno pode ficar muito tempo suspenso no ambiente e ser depositado nas roupas de cama. Melhor prevenir”, conclui a especialista.