Das cicatrizes que tenho no corpo, a grande maioria veio do futebol. Futebol, por assim dizer. A primeira foi na rua mesmo, em frente ao colégio, quando eu engatilhava a perna direita para chutar uma lata de sorvete e – TUM! – um carro passou e me pegou. Fratura de tíbia e fíbula. Dois meses de gesso e muleta, dois de fisioterapia diária, mais alguns de bengala, até o pé se plantar inteiro no chão de novo. Eu tinha apenas 16 anos e fiquei um ano sem jogar bola, o que foi de longe a pior parte. Em compensação, como o acidente aconteceu em maio e me impediu de ir às aulas, assisti a todos os jogos da Copa de 1986 – todos, sem exceção. Se o futebol tira, também devolve, ainda que por tabela...
Daniel Pizaé colunista de O Estado de S.Paulo.
A segunda foi menos tosca, digamos. Eu estava jogando futebol society com os colegas de jornal. Tinha 28 anos e era o melhor “banheirista” da empresa; ficava lá na frente, mas fazia meu trabalho de estufar as redes com boa média. A bola quicou ao meu lado e achei que faria um golaço se girasse o corpo e batesse de primeira. Quem girou foi o joelho esquerdo, da perna de apoio, e com ele meu ligamento cruzado se soltou como um elástico velho. É claro que na hora pus a culpa no piso sintético, duro como cimento, assim como no primeiro acidente culpei o motorista que passou em velocidade em uma rua de escola, mas isso não mudou nada. Foram oito meses para voltar a bater bola.
Isso sem falar em incontáveis edemas, cãibras, estiramentos, dores nos mais diversos pontos. Aprendi duas lições sobre ser um futebolista amador, um peladeiro desde as fraldas até os 40 anos: o tempo não apenas passa, mas pesa; e há que se ter imenso respeito por jogadores que voltaram de contusões graves, como Ronaldo, um fenômeno da fisioterapia, por mais que tenha ficado tão pesado. Mesmo assim, ou por isso mesmo, continuo a jogar bola com o mesmo prazer do menino que queria ser Zico ou Van Basten nos anos 1970 e 1980. Não há cicatriz do corpo que anule essa festa do espírito – ou que um bom gol de banheira não lave.
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