Pode ou não pode | Revista Fleury Ed. 31

Proteger, educar, ensinar: filtros e limites têm seus papéis na educação e são fundamentais para formar adultos autônomos

Proteger, educar, ensinar: filtros e limites têm seus papéis na educação e são fundamentais para formar adultos autônomos

Na casa de Maristella Martins, as crianças podem tudo:  ver TV, assistir a filmes de terror, usar o tablet.

São os filhos Carllos, de 11 anos, e Victor, de 8, que colocam os próprios limites. “Quiseram ver O exterminador do futuro e acharam violento. Não quiseram assistir à segunda parte. Eles mesmos aceleram os trechos que não acham adequados à faixa etária”, conta a diretora de escola.

Mas permitir que os filhos façam as próprias escolhas pede muita atenção e supervisão dos pais. “Educação boa começa cedo, com foco no amadurecimento com opção, escolha. Optar é escolher um só e dizer não para um monte de coisas”, diz a neuropedagoga Maria Irene Maluf, especialista em Psicopedagogia e Educação Especial.

Maristella já foi mais superprotetora, mas tenta mudar. “A vontade é de colocar numa redoma, mas eles têm de aprender a encarar o mundo”, afirma. Mesmo experiências como a morte da avó e o sumiço da gatinha de estimação da família foram vividas intensamente, mas de forma adequada à idade. “Não há assunto que você não possa abordar. Mas precisa falar na medida em que a criança entenda”, explica Luciana Barros de Almeida, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia.

Aprender a filtrar

Para dar liberdade aos filhos, é fundamental preparo prévio e monitoramento. “Proibir não é recomendado. É preciso conscientizar a criança sobre o que não é saudável”, diz Luciana. Os filtros devem ajudar os pequenos a progressivamente darem conta da própria vida e construírem sua autonomia. Senão, trata-se de superproteção.
Maria Ângela Barbato Carneiro, professora da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), afirma que os pais devem assumir claramente o papel de supervisores, inclusive deixando o filho errar de vez em quando. “A chance de acerto é maior no pai que observa e eventualmente interfere do que aquele pai que ignora. Observar é uma coisa, largar é outra. Deve-se respeitar a capacidade da criança de resolver a situação. Senão, esse filho nunca vai crescer”.

Muita tela, pouco foco

Alice, 7 anos, e Thomás, dois anos mais novo, adoram ver TV e brincar com o tablet. Para a experiência ser produtiva, o pai, o sociólogo Fabrízio Rigout, colocou regras. “Televisão, só se for por, no mínimo, uma hora e meia. Acho que é o tempo mínimo para desenvolver concentração. Quero que eles tenham capacidade de ver um filme inteiro. O iPad é a sensação entre as crianças: ganha de qualquer coisa”, diz o sociólogo, que prefere variar os estímulos e incentiva a brincar no quintal, andar de bicicleta e compartilhar tempo com os amiguinhos. No acesso à internet, ele faz questão de acompanhá-los para dar sugestões de assuntos aos quais talvez não chegassem sozinhos.

Segundos os especialistas, até os 5 anos, a criança é totalmente incapaz de fazer filtros sozinha. Dali até os 12 anos, é ideal que os pais tenham acesso às senhas de e-mail e redes sociais que a criança usa e que ela seja supervisionada. “O problema é que os pais não conseguem ter tempo para ficar com as crianças e delegam a educação a canais infantis, entregam o filtro para terceiros”, alerta Maria Irene Maluf.

A orientação é mesmo selecionar e limitar o tempo que os filhos têm para ver TV, jogar vídeo game ou ficar na internet. A idade mínima para ter telefone celular é entre 10 e 12 anos, dependendo das necessidades da família.

Espelho coberto

Tudo é feito para preservar Sophia, que tem quase 5 anos, na casa da nutricionista Mônica Gusmão. A primeira vez que a criança se sentou para assistir à televisão foi aos 2 anos e meio, e ela ainda não tem acesso ao computador. “Ela se interessa, mas não gosto que ela fique hipnotizada, vendo a tela. Quero preservá-la enquanto dá”, diz Mônica, que faz questão de dar explicações simples para a filha sobre as restrições.

Maria Irene Maluf reforça que a criança tem de entender que o filtro é para o bem. “Ela vê que os pais não voltam atrás e que estão tranquilos com a restrição. As proibições têm de ter uma razão e uma justificativa. Tudo tem de ter um valor imbuído”.

Restringir algumas coisas, na visão de Mônica, abre espaço para viver melhor outras. “Quero que ela tenha uma infância com pé na terra e menos brinquedos eletrônicos”, explica. Sophia teve uma fase em que só queria ver TV. “É como se a imaginação dela fosse desligando.
Agora, sinto que melhorou.”

A determinação do que pode ou não pode é feita pela própria observação da filha. “Uma época, ela começou a pirar com o espelho do banheiro, fazer poses. Eu não conseguia nem escovar os dentes dela. Ela é muito pequena para tanta imagem de si mesma. Cobri o espelho com desenhos que mudamos a cada estação do ano”, conta. Segundo a psicóloga Luciana, o termômetro para avaliar se o filtro está pesado também é a própria criança. “Quando ela começa a se queixar muito das proibições, os pais podem flexibilizar um pouco”, conclui.


Aplicativos e ferramentas ajudam a limitar o conteúdo acessado no celular e no computador.

Kaspersky parental control: Disponível para iOS e Android, filtra a navegação na web e é gratuito.

Family Guardian: Para smartphones, controla conteúdo na navegação, bloqueia contatos, tem alarme de pânico e permite seguir a localização dos filhos. Para Android, gratuito.

Smylesafe Parental Control: Para iOS e Android, filtra o conteúdo e dispara alarmes por e-mail quando o usuário tenta acessar páginas bloqueadas. Não tem versão gratuita.

Net Nanny: Navegador que controla os conteúdos acessados e gerencia os aplicativos permitidos em dispositivos móveis. Versão de teste gratuita.

KidMode: Bloqueia itens como acesso  a e-mail ou ligações telefônicas. Disponível para Android e iOS. Gratuito.

Vídeos na internet: O YouTube e o Netflix possuem ferramentas de filtro próprias. Nas configurações, é possível selecionar controles parentais mais detalhados.

Sites de busca: O Google e o Yahoo! também têm mecanismos de filtro e controle parental.