Por dentro da máquina de ver por dentro | Revista Fleury Ed. 38

Em quase 50 anos, a ressonância magnética (RM) ficou mais rápida e passou a trazer imagens mais detalhadas do corpo.

Em quase 50 anos, a ressonância magnética (RM) ficou mais rápida e passou a trazer imagens mais detalhadas do corpo. “Estudamos o comportamento de todos os tecidos quando expostos a um alto campo magnético”, diz Dr. Rogério Caldana, gestor médico do Centro Diagnóstico do Fleury.


A importância

A precisão na resolução anatômica é o que torna a RM um método tão imprescindível para a Medicina Diagnóstica. E ela está cada vez mais rápida, disponível e acolhedora, com equipamentos mais largos e confortáveis.


Evolução

1. ANTES DA RM

O raio X foi o principal recurso diagnóstico por imagem até a segunda metade do século 20, quando outros métodos assumiram papel de destaque, como o ultrassom. A partir da década de 1970, foi criada a tomografia computadorizada. A RM aumentou a precisão e mudou o entendimento da anatomia.

2. MELHORIAS

“A RM nunca parou de ser transformada, em benefício do paciente”, conta Dr. Rogério Caldana. Graças à pesquisa de médcos, físicos, matemáticos e avanços nos algoritmos de reconstrução e tecnologia de radiofrequência, a RM não para de evoluir.

3. NO FUTURO

A tendência é que o exame seja mais acessível e que tenha uso progressivo em procedimentos terapêuticos, de forma mais precisa e menos invasiva, como na ablação guiada de tumores. É uma das maiores invenções na área diagnóstica, que mostra como a ciência e arte médica podem fazer diferença na vida das pessoas.


Como é

As sequências de exame são marcadas por ruídos sonoros, sendo necessário que o paciente permaneça imóvel para melhor detalhamento das imagens. Para a maioria dos exames, não é necessário nenhum preparo prévio, e o paciente retoma suas atividades normalmente depois. Exames abdominais e pélvicos dependem de jejum e eventual preparo intestinal com laxativos.

O primeiro exame de RM de corpo levou 5 horas para ser executado.

Hoje, a qualidade é infinitamente superior e o exame leva entre 20 e 40 minutos.


Como funciona

Para obtenção das imagens, a RM funciona como um imenso ímã, criando um forte campo magnético que induz os núcleos dos átomos dos tecidos a um alinhamento em relação ao campo.

As informações são medidas, processadas e transformadas em imagem. A RM não usa radiação ionizante – a mesma do raio X, da tomografia computadorizada e da mamografia.

Esses métodos permanecem indicados conforme a suspeita clínica em investigação, e são realizados buscando a menor exposição possível à radiação.


Há alguns casos em que a RM não é recomendada:

Por envolver campo magnético, é contraindicada em pacientes com marcapasso cardíaco ou dispositivos eletrônicos.

Pacientes claustrofóbicos podem precisar da sedação, já que o exame exige ficar por alguns minutos deitado num túnel estreito (para alguns, equipamentos de túnel mais curto ou diâmetro maior já ajudam).

De acordo com a indicação clínica, para avaliação do parênquima pulmonar (estrutura onde ocorrem as trocas gasosas) e na detecção de cálculos urinários, por exemplo, o método de escolha tem sido a Tomografia Computadorizada.


Alguns usos da RM

NEUROIMAGEM

Diagnóstico de lesões do Sistema Nervoso Central


APARELHO LOCOMOTOR

Diagnósticos ortopédicos, reumatológicos e lesões de diversos tipos nas articulações e tecidos osteomusculares


ABDÔMEN

Pela nitidez das imagens dos órgãos da região abdominal, a RM tem importante papel na avaliação da região


CÂNCER

Alguns tipos de câncer podem ser diagnosticados de forma mais precoce por meio da RM


OS PAIS DA RM

Em 1946, dois cientistas descreveram o fenômeno da Ressonância Nuclear Magnética de maneira independente: Felix Bloch e Edward Mills Purcell, que por isso receberam juntos o prêmio Nobel em 1952. Até 1970, ela era usada para análises moleculares, como na espectroscopia, técnica que explora as propriedades magnéticas dos núcleos atômicos. Só em 1975, o médico americano Raymond Damadian imaginou como aplicar a tecnologia a tecidos biológicos, levantando a possibilidade de seu uso na detecção de doenças. Em 1973, o químico Paul Lauterbur jantava um hambúrguer quando concebeu o equipamento de RM para uso clínico, rabiscando o “projeto” num guardanapo. Até que, três anos depois, Peter Mansfield fez o primeiro estudo em humanos e, no ano seguinte, elaborou a técnica eco-planar, que tornou o exame muito mais rápido e eficiente. Inventor por excelência, ele criou diversas patentes ligadas aos aparelhos de RM. Em 2003, dividiu o Nobel de Fisiologia ou Medicina com Lauterbur. Ativo como cientista até o fim da vida, Mansfield morreu em fevereiro de 2017, aos 83 anos, uma grande perda para a comunidade científica. Outros cientistas contribuíram com melhorias na tecnologia da RM, que passou a ter uso amplo em diagnósticos principalmente a partir da década de 1990.