Propaganda x crianças | Revista Fleury Ed. 16

Fazer o exame para avaliar a qualidade do sono sem ter de sair de casa parece ser o ideal.


A criança vai ao supermercado com os pais. Chegando lá, começa a cantarolar uma musiquinha de um produto. A música é fofa e de fácil aprendizagem, embora o produto seja voltado para adultos. Os pais acham uma graça o filho ter aprendido aquilo e, embalados pela emoção do momento, compram o produto. Parece uma cena normal e corriqueira do dia a dia de qualquer família, mas ela exemplifica um número para lá de assustador: as crianças já são responsáveis por 80% das decisões de compra da família, de acordo com Isabella Henriques, do Projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana.

O trabalho coordenado por Isabella visa chamar a sociedade como um todo para a reflexão sobre o consumismo na infância. Uma das ações do projeto é notificar empresas que abusam de recursos infantis – músicas, mascotes, brindes e animações – para vender produtos que nem sequer são voltados para as crianças. “Na verdade, na nossa visão, nem deveria existir propaganda para o público infantil. Afinal, é muito fácil convencer as crianças de qualquer coisa”, pondera Isabella. O Instituto Alana também promove discussões nas escolas, na mídia e incentiva trabalhos acadêmicos que tratem do tema.


A criança como agente influenciador não acontece apenas por sua pureza e falta de maturidade para processar as informações. São elas que passam a maior parte do tempo na frente da TV e do computador. Estão mais expostas à publicidade. Além disso, também sofrem a pressão social dos amiguinhos. O apelo está por toda parte. “Por isso, a atuação dos pais é fundamental. Na hora da compra, é preciso que eles se deixem influenciar menos e influenciem mais”, acredita Daniel Marques Périgo, gerente de Sustentabilidade do Fleury. “Principalmente porque as crianças se espelham nos pais, nos exemplos deles.”

O consumismo exacerbado na infância gera dois grandes problemas: um social e outro ambiental. Afinal, crianças consumistas se tornam adultos consumistas, pessoas imediatistas e egoístas que querem apenas se satisfazer. Do ponto de vista ambiental, o consumo gera o aumento da produção de insumos, o que leva à escassez de recursos naturais e ao aumento do lixo. “Dos três Rs – reutilizar, reduzir e reciclar –, aquele de que mais se fala é o último. E precisamos falar mais do segundo”, lembra Isabella, do Alana.

Uma das campanhas do Instituto Alana tem como slogan “Pare. Pense!”, cuja ideia é mostrar que, antes de comprar, é preciso pensar. Para ajudar essa reflexão, foram elaborados diversos vídeos mostrando que a publicidade voltada para as crianças pode estimular bem mais que o consumismo. Pode levar a problemas como a obesidade, a erotização precoce, o alcoolismo infantil e o estresse familiar. “Como achar o equilíbrio? Manter a economia girando sem acabar com o meio ambiente e com os valores éticos e morais? Nossa luta não é contra o consumo, mas contra o consumo sem reflexão. Por isso, o importante é estimularmos o debate”, finaliza Isabella.