O que fazer quando a vida que se leva deixa de fazer sentido? Esse é um daqueles momentos em que a vontade de criar novos caminhos tem uma oportunidade de tomar forma.
O que fazer quando a vida que se leva deixa de fazer sentido? Esse é um daqueles momentos em que a vontade de criar novos caminhos tem uma oportunidade de tomar forma. Não por acaso, a música “O que é que é”, de Gonzaguinha, está há décadas na ponta da língua dos brasileiros: “a beleza de ser um eterno aprendiz” traz o otimismo em relação ao constante estado de mudança que é a vida, e reconhece que o caminho é tão bonito e prazeroso quanto o destino final. As histórias a seguir são apenas alguns exemplos de que, com vontade de mudar e valorizando os aprendizados da trajetória, é possível redesenhar a própria história e seguir em frente.
Eles largaram tudo e abriram uma pousada
Com o longo período de 25 anos trabalhando no mesmo lugar – uma renomada agência de publicidade paulistana, – vinha uma inércia que fazia com que Alexandre Lopes, com 43 anos em 2013, encarasse como naturais situações não tão confortáveis: exaustivas jornadas de trabalho de 15 horas, férias pela metade e a constante sensação de não ter tempo nem disposição para nada no dia a dia. “Meu horário de sair era 19h30, mas nunca em 25 anos eu saí a essa hora, era sempre 22h, 23h. Ainda bem que minha esposa trabalhava junto”, diz ele, um paulistano até então convicto de que, apesar dos altos e baixos, gostava do que fazia e conseguia ter um bom padrão de vida. “Não me imaginava fazendo outra coisa.”
Alexandre e sua esposa Erica Siccherolli faziam questão de aproveitar os poucos dias de férias que tiravam a cada ano, e foi essa intensidade que abriu as portas para uma grande mudança na vida do casal. Eles procuravam conhecer novos destinos do litoral brasileiro a cada ano e acabaram caindo em Arraial d’Ajuda, distrito de Porto Seguro, na Bahia. “Nos apaixonamos pelo Arraial. Foi o único lugar que repetimos nas férias, cinco vezes seguidas.” Ao final da quinta visita, na volta para São Paulo, imediatamente perceberam que já estavam cansados de viver como viviam. “Logo no primeiro dia, já ficamos trabalhando até 1h30 da manhã. Refletimos e reconhecemos que tinha alguma coisa errada. Ela me perguntou se eu me mudaria para Arraial e eu disse: sim, agora.” Assim, o que era um sonho distante de morar na praia quando chegasse a hora de se aposentar, passou a ser o plano A. “Aos 65 anos, eu não teria a disposição que tenho agora, provavelmente, não conseguiria desfrutar da qualidade de vida que o lugar proporciona como consigo agora”, pondera ele. A decisão de mudar para Arraial D’Ajuda foi discutida rapidamente e tomada em menos de um mês.
Além de abrir mão de estar em terreno conhecido e de conquistas que já tinham alcançado, o plano inevitavelmente incluía assumir riscos: eles arrendaram uma pousada – atividade com que os dois publicitários não tinham experiência alguma. Ele se surpreendeu com a facilidade que tiveram para se adaptar. “A mudança foi para melhor, então foi fácil. O medo atrapalha muito a tomar esse tipo de decisão, mas quando você chega, vê que era mais fácil do que imaginava”, avalia ele. “Não precisa ficar três anos pensando antes de tomar uma decisão, não dá para ter medo do seu medo”, reflete.
Da sala de aula ao divã
O ano era 2003 e Cristina Monteiro, então com 42 anos, nutria certo medo pelo fim do ciclo que se aproximava. Ela trabalhava desde os 14 anos, foi professora de inglês por 28, e a aposentadoria estava prestes a chegar. “Era medo de uma vida que não tem nada a ver comigo, já que eu sempre fui muito ativa.” Se, por um lado, ela sentia o peso da rotina intensa de aulas com três filhos, por outro, sabia que tinha muita energia para continuar trabalhando. “Eu nunca dei muita atenção ao que as pessoas falavam sobre como deveria ser a vida, mas, conforme nos aproximamos dos 50, a sociedade começa a sinalizar que agora é ladeira abaixo”, reflete.
E, de fato, não se apegou à vida doméstica quando deixou o emprego no colégio Bandeirantes. Cristina conheceu, por intermédio de uma amiga arquiteta, um marceneiro, do qual se tornou sócia. “Por cinco anos, toquei uma marcenaria. Fui ter contato com madeira e com projetos de design de interiores.” Durante esses anos, com auxílio da terapia, ela amadureceu as percepções que tinha sobre si mesma, e chegou a uma conclusão valiosa: estava sentindo falta de gente, de contato mais profundo com as pessoas. “O contato que eu tinha com os clientes não era como no papel de professora, em que eu ouvia as questões dos alunos.” Assim, aos poucos, convenceu-se de que, mais do que os interiores de casas, lhe interessavam mesmo os interiores das pessoas, e seria na psicanálise que colocaria a muita energia que tinha.
Assim, em 2008, aos 48 anos, começou a graduação em psicologia. O desafio foi grande. “Ouvi muita gente dizendo que eu deveria buscar uma especialização, em vez de fazer disciplinas como língua portuguesa de novo e conviver com um monte de moleques”, afirma ela. No entanto, Cristina encontrou na faculdade muitas pessoas em situação semelhante, fazendo psicologia como segunda graduação. “Ao fazer uma graduação mais velha, você tem chance de conhecer pessoas que também estão lá porque de fato querem, que vêm de outra realidade, e isso é enriquecedor”, diz ela, que encontrou nos novos colegas seu principal grupo de amigos até hoje – além de seu atual sócio no consultório onde atende em Pinheiros.
Hoje, olhando para trás, Cristina consegue ligar os pontos e enxergar quanto era evidente seu interesse por esse universo. “Quando eu era professora, sempre que sobrava um tempo, eu fazia um curso, e por acaso todos eles eram ligados à psicanálise”, lembra. “Mas não caio na bobagem de ficar pensando: ‘E se eu tivesse feito psicologia como minha primeira graduação?’ As coisas acontecem conforme a vida acontece.”
O hobby que virou perspectiva profissional
Luis Fernando Parisi, hoje com 29 anos, é filho de arquiteta e, naturalmente, interessou-se pela atividade que a mãe exercia: quando criança em São José do Rio Pardo (SP), acompanhava-a nos canteiros de obras e gostava de brincar nos softwares de projeto. Ele se formou arquiteto em 2012, na PUC-Poços de Caldas, fez pós-graduação em arquitetura comercial e passou a trabalhar em uma empresa que construía adegas. Até então, uma trajetória relativamente previsível e confortável. “Eu gostei do curso que fiz e gostava da profissão.”
Quando saiu da empresa, em 2015, passou por um tempo difícil, procurando por emprego. Foi quando reencontrou um interesse que andava apagado: a culinária. Ele já tinha feito alguns cursos rápidos de culinária italiana, mas até então como hobby. Surfando na onda daquele momento, Luiz começou a fazer e vender hambúrgueres artesanais congelados. “Participei de alguns eventos e me surpreendi com a receptividade e o retorno”, conta. Mas o mais importante é que ele sentiu prazer em fazer aquilo. “Fazer hambúrguer, para mim, não era trabalho nenhum, era diversão, e comecei a achar que seria também um bom caminho profissional.”
A partir daí, Luis passou a investir na ideia de aprender de fato a cozinhar e tomou coragem parar começar a graduação em culinária profissional em Calgary, no Canadá – país que já conhecia e para onde adoraria voltar. Hoje, depois de um ano e meio no curso, Luis passa cinco horas por dia na faculdade, trabalha na cozinha de restaurantes e eventos à noite e ainda acumula a função de zelador do prédio onde mora. O volume de trabalho não o abala. “Faço tudo o que eu tenho que fazer relaxado, trabalho muito, mas saio feliz. Eu saí do Brasil uma pessoa totalmente estressada, que ficava brava com qualquer coisa e agora eu não tenho isso”, diz ele, que perdeu oito quilos, voltou a se exercitar e a dormir melhor. “Estar cozinhando traz 70% do sorriso do meu rosto.
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