Saiba como tratar bem da sua voz

O Brasil está em segundo lugar no ranking de incidência de câncer de laringe no mundo, um problema de saúde que traz muitos impactos para a sociedade.

Estatísticas indicam que 40% da população economicamente ativa dependem da voz como instrumento de trabalho. Não apenas cantores ou locutores de rádio, mas muitos profissionais dependem da voz para desempenhar suas funções. “Quando o tumor é detectado nos estágios iniciais, a chance de cura é de cerca aproximadamente 90%”, informa Cláudia Eckley, otorrinolaringologista do Fleury Medicina e Saúde.

Fatores relacionados a hábitos como beber, fumar e alimentar-se mal contribuem para o surgimento do câncer de laringe. A voz reflete o estado geral de saúde do indivíduo. Assim, dormir e comer bem, preferir alimentos leves à noite, para evitar que o estômago esteja muito cheio antes de dormir, são as melhores atitudes para proteger a saúde, de forma geral, e a voz, em especial.

Segundo Cláudia, as agressões à voz podem ser divididas em dois tipos: externas e internas. Sob essa ótica, o cigarro e o álcool são as duas principais agressões externas, sem falar de outras drogas inalatórias, como a cocaína, por exemplo. Dos fatores internos, o refluxo gastroesofágico  é o principal. “O suco gástrico refluído causa inflamação crônica e, se perdurar ao longo do tempo, pode trazer consequências graves à voz e até levar ao câncer”, explica a médica.

Prevenção
A literatura médica recomenda que se evite o abuso vocal. E quanto mais sofisticada for a demanda (no caso de um cantor de ópera, por exemplo), a voz precisa ser mais limpa e mais eficiente. Por isso, gritar, falar alto, ficar em ambientes com ar condicionado, ar seco ou frio são atitudes prejudiciais. “Quem tem esses hábitos precisa beber mais água para hidratar as cordas vocais, que vibram melhor em condições favoráveis de umidade. Caso contrário, fica aquela sensação de garganta arranhando”, esclarece a especialista.

Gengibre e bala de hortelã
Não se deve fazer uso de gengibre, balas de hortelã ou colutórios orais com o objetivo de  “melhorar a voz”. Esses produtos têm efeito anestesiante e temporário. “Com o uso constante, podem mascarar os problemas reais”, adverte Cláudia.

Diagnóstico
Ao notar que está com um ou mais sintomas como rouquidão, dor, alteração na voz, engasgos frequentes e dificuldade para engolir, Cláudia recomenda  que se procure um médico otorrinolaringologista. “Ele saberá identificar o melhor teste para o diagnóstico preciso do problema”, avalia.

Hoje, o exame com fibras óticas é feito com o paciente acordado, somente com anestesia local. Em poucos minutos, identifica-se a presença de qualquer alteração na região. “É um exame indolor, pouco incômodo e rápido, que possibilita ver e filmar a laringe, em detalhes. O teste permite classificar as lesões, e as mais graves exigem biópsia para conclusão do diagnóstico”, comenta.

Tratamento
Segundo Cláudia, se a lesão for benigna, o tratamento pode ser conservador, como reeducação da voz, com um profissional de Fonoaudiologia. Outros casos podem demandar cirurgia.

Nos estágios mais avançados há chance de cura, porém o tratamento é mais agressivo e pode trazer sequelas. A reabilitação pós-remoção de câncer avançado de laringe pode ser eficiente, e o paciente pode aprender até mesmo a falar novamente, ainda que com dificuldade. “Por isso, a prevenção é tão importante”, conclui a otorrinolaringologista.