Saudades do Toninho | Revista Fleury Ed. 19

Quando eu era criança, meu pai me levava para nadar. Eu estudava de manhã, mas dava tempo de ir até o clube, nadar e ir para a escola. Não tinha trânsito... Me lembro de contar os ladrilhos da piscina de manhã. Na minha infância, eu adorava piscina. Brincava de polícia e ladrão saltando do trampolim de cinco metros. Adorava mergulhar até o ralo do fundo para encontrar anéis e correntes de ouro que as pessoas perdiam na água.

Lembro que antes de aprender a nadar aprendi a mergulhar. Entrava na piscina segurando na borda, nadava por baixo dos pés das pessoas e subia perto da outra borda. Na Hebraica, onde eu nadava, havia um professor de natação que era mudo. Toninho. Ele me ensinou a pular do trampolim. A aula foi simples. Com seu braço direito, me pegou como um tronco de madeira. Cabeça para a frente, pernas para trás. Ele foi subindo pelos degraus do trampolim me carregando assim. Chegando lá em cima, me colocou na vertical, com os pés para baixo, segurou meus dois ombros e soltou como se eu fosse um prego.

Eu adorei. Passei o resto do dia e da semana pulando do tram-polim. O Toninho às vezes me via e dava ok. Mas eu competia mal. Me lembro de sair várias vezes carregado pelo Toninho com câimbras fortíssimas nos pés, sempre em último ou penúltimo. Batia pernas e não saía do lugar.
Era muito aflitivo.

Joguei mal futebol, joguei mal capoeira. Demorei anos pra entender que havia uma ligação entre tudo isso: encurtamentos nos músculos posteriores. Me lembro que, aos 21 anos, numa aula de alongamento, tive câimbra nos lábios, a classe toda riu.
Entrei no mérito de tentar encontrar uma vontade dentro de mim pra querer avançar onde me doía. Melhorei. A ioga ajudou muito. Mas até hoje acontece: perco o fio da meada, me distraio, paro tudo. Às vezes me dá saudades do Toninho.


HÉLIO ZISKIND é músico e se destacou ao compor temas para programas como Castelo Rá-tim-bum e Cocoricó