As mudanças ocorridas no corpo com o passar do tempo não significam o fim da sexualidade após os 60 anos
Até 2025, o Brasil será o sexto país do mundo em número de idosos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Já são mais de 14 milhões de brasileiros com mais de 65 anos. As políticas para a terceira idade avançam, mas uma questão permanece tabu: o fim da sexualidade após os 60 anos. Faltam dados sobre o tema. “Não se pesquisa, não se fala”, diz a psicóloga Delia Catullo Goldfarb, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
O que os especialistas garantem é que as mudanças ocorridas no corpo com o passar dos anos dificultam a atividade sexual, mas não decretam o fim da sexualidade. “Os órgãos sexuais envelhecem, mas não param de funcionar”, lembra a psicanalista Marisa Feriancic, que pesquisou o tema “Sexualidade e velhice: um estudo das representações masculinas” em sua dissertação de mestrado.
Entre as mulheres, a redução da lubrificação vaginal é a alteração mais sentida, mas pode ser minimizada com o uso de géis. Nos homens, a diminuição da testosterona começa aos 30 anos e ocorre de forma lenta e gradual. Mas a excitação pode ocorrer mesmo com nível baixo do hormônio. “A testosterona não é a grande vilã”, diz Marisa. A libido pode ser influenciada por fatores como ansiedade, insegurança e preocupação com o desempenho sexual.
As dificuldades com a ereção foram um tema marcante entre os homens com quem Marisa conversou. “A disfunção erétil era o grande fantasma. Para eles, a penetração ainda era muito importante, mas a ereção já é mais lenta e o tempo entre uma e outra aumenta.” O uso de medicamentos pode representar uma nova esperança nesses casos, mas se torna um risco sem acompanhamento médico.
Sexo Maduro
Após os 60
Se o corpo envelhece, a sexualidade, por outro lado, se mostra mais amadurecida. “A sexualidade é mais do que as características biológicas. Se a reduzirmos somente a isso, ficamos com muito pouca coisa”, diz Delia Goldfarb. Já a possibilidade de receber e de dar prazer existe em toda a vida. “São olhares, desejos, fantasias.” Em cada fase, são diferentes manifestações e intensidades, que se apresentam de formas particulares. “Ele pode não ter, aos 80, o mesmo nível de urgência que tinha aos 18. Mas quem foi um bom amante aos 30 provavelmente será um amante requintadíssimo aos 80”, avalia Delia.
Essa realidade ainda é praticamente invisível para o restante da sociedade, até mesmo entre profissionais de saúde, que nem sempre incluem as questões sexuais nas consultas com os pacientes dessa faixa etária. Quando moram em instituições para idosos ou mesmo em casa de parentes, é comum que eles não tenham a privacidade respeitada. Em família, são vigiados pelos filhos, que frequentemente reprovam seus namoros. Na televisão, os idosos são estereotipados como “velho garanhão” ou a “vovozinha”. “A imagem da velhice ainda é ligada à morte e à finitude. E sexo é vida, é prazer”, lembra Marisa.
Idoso bem informado
O silêncio sobre o assunto dificulta os cuidados com a saúde sexual e as ações de prevenção contra as doenças sexualmente transmissíveis, entre elas o vírus HIV. Enquanto a incidência de casos notificados de aids se mantém estável nos últimos anos, ela só vem crescendo entre a população de 60 anos ou mais. Em 1998, essa taxa era de 4,9 casos para cada 100 mil habitantes. Em 2010, já chegava a 7. Esses números motivaram o Ministério da Saúde e a Secretaria Especial de Política para as Mulheres a lançar uma campanha de prevenção voltada para mulheres acima de 50 anos. Afinal, elas usam menos camisinha que os homens – eles têm 40% mais chance de usar preservativo do que as mulheres. Além disso, elas são mais vulneráveis: como a pele fica mais frágil com o envelhecimento, o atrito da relação causa mais lesões na mucosa, favorecendo a infecção.
A prevenção é um problema especialmente complicado nessa fase. Uma pesquisa do Ministério da Saúde mostrou que, a cada ano de idade, diminui em 1% a chance de o indivíduo usar preservativo. “Os idosos têm percepção baixa do risco para doenças sexualmente transmissíveis”, explica a médica infectologista Vivian Iida Avelino-Silva, do Serviço de Extensão em Atendimento ao Paciente HIV/Aids do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Nas entrevistas feitas para sua pesquisa, eles alegavam pensar que aids era “coisa de moleque, de jovem, de gays”.
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