Taioba, orelha-de-padre e feijão-mangalô são nomes desconhecidos para muita gente, mas muito familiares para Neide desde a infância. “Tinha vizinhos de tudo quanto é canto do país. Eles trouxeram um mundo novo para mim, que eram esses outros ingredientes do Brasil. Daí, comecei a entender as diferenças regionais. Meus pais são da roça, então, cozinhar, plantar e colher sempre estiveram muito presentes na minha vida. Quando eu era criança, uma vez por ano a gente passava um mês no sítio dos meus avós, no Paraná. Chegando lá, eu nem entrava em casa, ia direto ver a roça, saber o que tinha, o que estava nascendo.”
Experimentar sempre
Cara feia à mesa? Nem de longe. “Sempre fui muito aberta a experimentar tudo, saber que gosto tinha.” Daí a se arriscar nas panelas, foi um pulo. “Mas nada do que eu fazia na cozinha era com permissão da minha mãe. Ela sempre cozinhou muito bem e gostava da comida dela, não queria que ninguém cozinhasse. Tudo o que eu aprontava era escondido, quando ela saía.” Esse espírito de experimentação levou Neide a explorar diferentes trilhas pela vida. Ela fez três faculdades: jornalismo, artes plásticas e nutrição, mas só concluiu a última. No caminho, transformou a curiosidade em ofício. Há dez anos, criou o blog Come-se, no qual compartilha suas descobertas sobre alimentos e técnicas culinárias genuinamente brasileiros. Ela também fala desses achados na coluna que escreve para o caderno Paladar, do jornal O Estado de S. Paulo. “Gosto muito da cozinha brasileira, quero saber o que as pessoas fazem, como fazem. Criei o blog para escrever mais livremente sobre ingredientes diferentes, para falar das coisas que eu aprendia e mostrar como fazer. Nunca estudei culinária, mas nunca tive medo. Sempre fui ousada. Descobri que jaca verde era comestível, e muitas flores e plantas também. A culinária indígena tem técnicas maravilhosas e super-requintadas, e a gente não conhece porque não vai pesquisar. A gente conhece os cortes em francês, mas não sabe o que é uma abobrinha batidinha, com cortes em forma de diamantes, a coisa mais linda, feita na mão porque antigamente não se usava tábua.”
Pergunta aqui, pergunta acolá
Com seu jeito “perguntadeiro”, Neide vai aprendendo novas receitas e cultivando novas amizades. “Se chego num lugar e me deparo com uma árvore no meio da rua que parece ser um fruto comestível, pergunto para um, pergunto para outro. Fico pesquisando até de madrugada, não paro enquanto eu não descubro. Um dia estava andando no meu bairro e vi uma senhora colhendo uma coisa. Perguntei o que era, mas ela não queria muito falar, só disse que era indiano. Eu falei que tinha uma caripata em casa, e no final essa árvore era filhote da muda da mãe dela. Daí, ela se abriu e começou a me explicar tudo sobre a moringa. No mesmo dia, eu estava na cozinha dela aprendendo três receitas, com a vagem, com a folha, com a flor. Todo dia, a gente aprende alguma coisa.” Para começar, não precisa ir tão longe. Basta observar o que tem de diferente na feira, no hortifruti. “Hoje, uma pessoa jovem não compra quiabo, jiló, almeirão, maxixe, porque não sabe fazer. As receitas dos livros são com cenoura, batata, pimentão. Ninguém ensina a cozinhar com jiló. Assim, a alimentação fica muito monótona: 90% do que comemos vem apenas de 20 espécies.”
Comer com o coração e com a razão
Cultivar esse olhar curioso sobre o que comemos é uma questão crucial para vivermos de maneira mais autêntica, reforça Neide. “Isso nos dá autonomia e liberdade para fazermos escolhas conscientes. Quer coisa mais libertária do que saber onde buscar a sua comida? O fato de saber e ter escolha dá soberania: eu vou decidir o que eu vou comer, e não a indústria.” Saber de onde vem a nossa comida também é essencial para fazermos escolhas que não são apenas boas para nós, mas também sustentáveis. “Quando comemos sempre as mesmas coisas, estamos favorecendo a monocultura, que causa uma deterioração do meio ambiente. O comer saudável não é só pensar na funcionalidade para o nosso corpo, e sim perguntar de onde está vindo a comida. Dizem que o sal do Himalaia é bom, mas em que condições ele é feito, como está ficando o Himalaia com essa exploração global? E quem planta a chia, a quinua, continua comendo, como sempre foi a tradição, ou será que está vendendo tudo e usando o dinheiro para dar comida industrializada para seus filhos?”, questiona. “Para mim, alimentação saudável é a que tem o máximo possível de alimento local, natural.”
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