Universo Colaborativo | Revista Fleury Ed. 29

Projetos inovadores que fazem bom uso da internet e tem alcance no mundo virtual e também no real

Da esquerda para a direita:
Simone Pereira (Health Unlocked), as irmãs Anna e Camila Haddad (Cinese.me), Negahamburguer (Beleza Real) e Roberto Pompeo (Bliive)

Projetos inovadores que fazem bom uso da internet e tem alcance no mundo virtual e também no real
Por Laura Folgueira

Hoje, quase todo mundo usa a internet para compartilhar notícias, fotos, conversas. Mas ela é também uma das melhores ferramentas para viabilizar ideias inovadoras, como as quatro que apresentamos aqui.

Health Unlocked
Em 2009, o médico inglês Matt Jameson Evans e o empreendedor chileno Jorge Armanet imaginaram como seria se pacientes tivessem mais informações disponíveis, deixando de depender apenas da opinião de um médico. Para fazer isso virar realidade, criaram o site Health Unlocked, onde qualquer um pode criar uma comunidade ou um tópico de interesse e conhecer pessoas e profissionais para trocar ideias sobre esse assunto, empoderando-se no cuidado de sua própria saúde e ganhando autonomia para conversar com profissionais, com apoio emocional da comunidade online. “O foco na área da saúde é ter pessoas mais capazes de tomar boas decisões e participar nas decisões de saúde. Já se foi a época em que as pessoas apenas ouviam orientações, não entendiam nada, mas balançavam a cabeça para concordar com tudo o que era dito”, acredita Simone Pereira, coordenadora de comunidades para o Brasil – onde o site desembarcou em 2013, conquistando 45 mil usuários e 50 organizações de saúde cadastradas.

Cinese.me
Não importa se você tem vontade de aprender a usar um programa de computador, se maquiar, entender filosofia e política ou debater sobre feminismo: tudo isso pode ser encontrado em um só lugar, o Cinese, uma plataforma de crowdlearning que promove encontros para compartilhar conhecimento, habilidades e experiências. Criada em 2012, a plataforma veio atender a um anseio das fundadoras Anna e Camila Haddad. “Eu estava questionando o sistema tradicional de educação, fechado, pouco flexível, que forma pessoas pouco questionadoras e nada protagonistas. A Camila, minha irmã e cofundadora do Cinese, estava estudando economia colaborativa em Londres como solucionadora de problemas contemporâneos”, explica Anna. Os 342 encontros já realizados pelos 5.594 usuários cadastrados são sempre presenciais – já que as fundadoras acreditam na importância fundamental do contato humano. Por lá, vale tudo: “Fomentamos todos os tipos de encontros, dos mais estruturados e fechados até os mais abertos e distribuídos. A ideia é ser um espaço para que tudo possa acontecer”.

Beleza Real
A beleza real e a aceitação feminina sempre estiveram na pauta da artista plástica Evelyn Queiróz – mais conhecida na rede como Negahamburguer. Para divulgar suas ilustrações sobre o tema, ela criou uma página no Facebook e um blog. “A internet é o veículo de mais fácil acesso da massa e nela você encontra de tudo, inclusive pessoas que usam essa ferramenta para dar opiniões sobre o corpo ou o comportamento do próximo. Mas a parte boa é que você pode distribuir amor gratuitamente, e é o que eu tento fazer”, explica. Esse amor vem em forma de desenhos de mulheres e homens que desafiam questões de gênero e aparência. Prova de que os usuários da rede se identificaram com o trabalho de Evelyn foi o livro Beleza real, publicado em fevereiro de 2014 com recursos de crowdfunding: 683 pessoas colaboraram financeiramente para o projeto acontecer. “Eu até tentei pelo método tradicional, mas a ideia não foi abraçada; então, recorri a um modo de arrecadação em que as pessoas fizessem parte tanto quanto eu.”

Bliive
A economia colaborativa – em que não se troca necessariamente dinheiro, mas produtos ou serviços – é o futuro dos países. É nisso que se baseia o Bliive, um “banco de tempo” criado em Curitiba em 2013. “Se o modelo econômico de hoje ruir, não temos nada para substituí-lo”, diz Roberto Pompeo, cofundador do website. Por lá, os mais de 13 mil usuários, distribuídos em 50 países, conseguem se comunicar e oferecer coisas como passeio com cachorro, ajuda com a mudança, consertos em casa e aulas diversas. Tudo é pago com a troca de um serviço por outro. O próprio criador, advogado, começou a oferecer seus serviços assim – em vez de cobrar em dinheiro, recebe do cliente algo que lhe pareça justo em troca. “A colaboração traz vários aspectos interessantes. Você pode fazer atividades nas quais não poderia investir por falta de dinheiro, como estudar inglês ou guitarra, e ainda garante um bem-estar psicológico importante”, diz.

“Você pode fazer atividades nas quais não poderia investir por falta de dinheiro, como estudar inglês ou guitarra, e ainda garante um bem-estar psicológico importante”, Roberto Pompeo, cofundador do Bliive.