Viagem interior | Revista Fleury Ed. 13

Conheça a história de Manoel Morgado, um médico que descobriu sua real vocação depois de percorrer mares e montanhas da Ásia e da América Latina

“Desde muito pequeno queria ser médico. Também desde muito cedo viajar era uma grande paixão. Lembro com carinho da minha infância e das viagens de jipe com meu pai pelas estradas de terra do interior do Rio Grande do Sul, onde nasci. Os anos se passaram, fiz outras viagens pela América Latina, e elas me fizeram entrar em contato com culturas e modos de vida diferentes. Passei a cultivar o sonho de dedicar todo o meu tempo livre a essas experiências. Paralelo a isso, toquei minha vida profissional. Me formei na Escola Paulista de Medicina em 1980 e fiz residência em Pediatria. Mas, antes mesmo de começar a trabalhar como médico, decidi viajar por dois anos, pela Europa e pela Ásia. Na volta, passei cinco anos trabalhando em meu consultório e em diversos hospitais. Mas as longas horas de trabalho, plantões e a falta de contato com a natureza estavam me deixando infeliz.

Decidi, então, voltar a viajar. Em 1989, fiz uma viagem para o Nepal, sem data para voltar. Alguns amigos me admiravam. Outros me achavam meio maluco. Eu tinha uma vida organizada, um consultório com cada vez mais pacientes e estava comprando meu apartamento. Estava sozinho, largando meu País, minha profissão, meus amigos. Mesmo assim, fui. E nunca me arrependi. Foi a experiência mais importante, rica e decisiva de minha vida. Por um ano e meio, viajei pela Ásia em um ritmo extremamente calmo, lendo muito, conhecendo pessoas interessantes e entrando em contato com novas experiências. Também percorri de bicicleta a Nova Zelândia, o Taiti, a Ilha de Páscoa, o Chile, a Argentina, o Uruguai e o Brasil. Tinha descoberto minha vocação, meu estilo de vida. Os hotéis e as barracas me dão tudo o que quero e a liberdade de que tanto necessito. A constante mudança ensina desapego, e o estilo de vida corresponde ao que minha alma anseia. Três anos depois abri uma empresa pioneira de turismo no Brasil, quando viagens para a Índia e o Nepal ainda eram coisas com pouca procura.

E, durante estes anos trabalhando como guia de montanha em lugares remotos, meus conhecimentos médicos foram de valor inestimável para minha tranqüilidade e das pessoas que viajam comigo. Recentemente, ao guiar um grupo para uma escalada ao Kilimanjaro, o ponto culminante da África, diagnostiquei malária em um dos viajantes a 5 mil metros de altitude e iniciei o tratamento imediatamente. Nas montanhas do Nepal, com muita freqüência, atendo pessoas com “mal de altitude”. E, em algumas ocasiões, minha intervenção evitou o rápido desenrolar de complicações como edema cerebral ou pulmonar de altitude. No plano pessoal, saber que posso cuidar de mim e de minha esposa me dá muito mais tranqüilidade para subir uma montanha de mais de 8 mil metros ou velejar pelo mundo, como planejamos fazer nos próximos anos.De um modo geral sou uma pessoa muito saudável e raramente fico doente. Creio que, em parte, isso vem do meu estilo de vida saudável. Procuro me manter em forma com cerca de 100 dias por ano de caminhadas pelas montanhas ou então correndo 10 a 12 quilômetros por dia. Também como de maneira saudável, sempre que os hábitos alimentares do país permitem. Mas, mais do que tudo isso, creio que a saúde está intimamente relacionada com felicidade. E sou feliz.”

Quer saber mais sobre Manoel Morgado? Visite a página www.manoelmorgado.com.br. Lá, ele conta esta e outras histórias de viagens pelo mundo.