O tecido que permeia todos os órgãos e é o principal responsável pela nutrição e respiração foi quase um desconhecido por séculos, e pode ser uma nova chave nos diagnósticos do futurofuture
O tecido que permeia todos os órgãos e é o principal responsável pela nutrição e respiração foi quase um desconhecido por séculos, e pode ser uma nova chave nos diagnósticos do futurofuture
O sangue é o sopro da vida ou apenas um tecido responsável por nutrir e oxigenar o corpo? Por séculos, sua composição, função e funcionamento foram um mistério. A medicina e a ciência já descobriram muito sobre ele, mas ainda há muito por desvendar. “A cada Era, surgia a certeza de conhecer tudo o que havia a respeito do sangue – mas só até um novo avanço relacionado ao tema mudar a história da medicina”, diz Dr. Celso Granato, infectologista e diretor clínico do Grupo Fleury.
Em todas as culturas, o sangue sempre foi percebido como um fluido fundamental para a existência, mas também como a essência da personalidade. “Sangue do meu sangue” e “sangue bom” são expressões que sintetizam essa noção de que o que corre nas veias define nossa identidade. “Tradicionalmente, o coração é entendido como centro da alma, e o sangue está profundamente associado. É ele que forma e dá substância ao corpo”, diz Dante Marcello Claramonte Gallian, doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), docente de História da Medicina e diretor do Centro de História e Filosofia das Ciências da Saúde (CeHFi) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
A força simbólica do sangue como elemento transmissor de vida é tão forte que o mito do vampirismo é um dos mais antigos e ainda fascina. “A figura do vampiro está presente na cultura ocidental desde tempos imemoriais, pagãos, voltou na Idade Média e depois novamente no século 19. Cria-se um arquétipo do vampiro: alguém que precisa da vida do outro para continuar vivo; a ideia de que a gente não é autossuficiente”, diz Gallian.
É uma noção tão atávica que nas cavernas de Lascaux, na França, há pinturas rupestres de animais com o coração desenhado. “A caça representa a sobrevivência, mas quem come a caça assimila também a força anímica: força, graça, esperteza, velocidade.” Para esses povos, o sangue conteria elementos da personalidade. “Hoje, sabemos que elementos do sangue estão ligados à própria herança genética, mas essa ideia era intuitiva nos antigos, que não separavam o físico e o espiritual. Imaginava-se, entre os gregos, que se um herói tivesse recebido o sangue dos deuses, teria características divinas no próprio sangue, como coragem, esperteza, sabedoria, beleza”, explica Gallian. Só no século 19, com o avanço da neurologia, ficou claro que sentimentos e emoções estão ligados ao cérebro, e não ao coração e ao sangue.
SÉCULOS DE DESCOBERTAS E INOVAÇÕES
As primeiras especulações sobre o coração e o sangue foram feitas cerca de três séculos antes de Cristo, por Aristóteles e Praxágoras, que associavam a circulação ao fluido vital. Praxágoras afirmou que as veias continham sangue e as artérias, ar – possivelmente porque, em cadáveres, as artérias se encontravam vazias. Depois, o físico Galeno (129 a.C. – 217 a.C.) diferenciou artérias de veias pela cor do sangue que corria em cada uma e demonstrou que as artérias também continham sangue. “Para ele, o sangue venoso era criado no fígado, enquanto o sangue arterial continha ar e vitalidade, sendo criado no coração”, explica Gallian. Galeno também acreditava que os alimentos eram ingeridos, processados pelo fígado e se tornavam sangue impregnado por substâncias espirituais. A partir daí, se formariam substâncias como a bile amarela e a bile negra, que, junto com o sangue e o muco, seriam os humores. Em equilíbrio, garantiriam a saúde do indivíduo.
Essa noção durou praticamente até o fim da Idade Média, até porque a dissecação de cadáveres não era bem-vista. O primeiro estudo consistente e capaz de confrontar a teoria de Galeno foram as descobertas do médico britânico William Harvey. Fazendo dissecações e vivissecções de diferentes espécies de animais, pela primeira vez ele descreveu corretamente os detalhes do sistema circulatório, da anatomia e movimentação do coração. O estudo “Sobre o movimento do coração e do sangue” foi publicado em 1628. Mas só quando Descartes incluiu a descoberta no Discurso do método, em 1637, a ideia foi melhor aceita.
No século 18, o desenvolvimento de lentes de aumento permitiu analisar pela primeira vez o sangue no nível celular. “O cientista holandês Antonie van Leeuwenhoek melhorou os microscópios. Ele chegou a construir por volta de 250 microscópios, com capacidade de aumento de até 200 vezes”, explica Dra. Maria de Lourdes Chaufaille, coordenadora de educação médica e assessora em Hematologia do Fleury Medicina e Saúde e professora da Unifesp. Assim foram descobertos os glóbulos vermelhos e a noção de que o sangue continha partículas.
As primeiras transfusões de sangue foram feitas em animais, obtendo mais sucesso que as eventuais tentativas com humanos. Nos séculos 18 e 19 foram feitas diversas tentativas de transfusão, mas o desconhecimento sobre propriedades do sangue fazia com que falhassem. O sangue coagulava, havia rejeição, reações adversas e muitos pacientes morriam.
Os tipos sanguíneos só foram descobertos séculos depois. Em 1901, o imunologista austríaco Karl Landsteiner descreveu os principais tipos de células vermelhas: A, B, O e, mais tarde, a AB. Até então, as transfusões eram praticamente uma roleta-russa. O procedimento evoluiu com as guerras: a primeira guerra mundial, em 1914, a Guerra Civil Espanhola, em 1936 (quando foi criado o primeiro banco de sangue), e a segunda guerra mundial, quando já se usava o conhecimento sobre grupos sanguíneos e fator Rh para realizar transfusões bem-sucedidas. “Depois da segunda guerra mundial, os saltos foram enormes”, diz Dra. Maria de Lourdes.
Foto: KRIZKNACK
CADA VEZ MAIS DE PERTO
Hoje, a composição e o funcionamento básicos do sangue são bem-conhecidos. “Ele é composto de três grandes grupos de células: hemácias (os glóbulos vermelhos), leucócitos (glóbulos brancos) e as plaquetas, que servem principalmente para bloquear sangramentos”, explica Dra. Maria de Lourdes. Atualmente, uma simples amostra de sangue já permite exames diagnósticos de uma infinidade de doenças metabólicas, infectocontagiosas, reumatológicas e genéticas. Entre os exames de sangue mais inovadores disponíveis, por exemplo, estão aqueles feitos a partir do sangue da gestante, que conseguem identificar o sexo do bebê e algumas das principais síndromes, como as trissomias dos cromossomos 18, 21 e 13 – uma inovação que carrega a marca do Fleury.
Com avanços da biologia molecular, da citometria de fluxo e da espectrometria de massa, novas tecnologias estão ampliando ainda mais a “lente de aumento”. “Há micropartículas no sangue que estamos descobrindo agora, e outras cuja função ainda não sabemos exatamente’, explica Dr. Alex Freire Sandes, especialista em hematologia do Grupo Fleury. Uma área extremamente nova e que ainda engatinha, o estudo dessas micropartículas (pequenas bolsas derivadas das células), presentes no sangue, pode possibilitar o desenvolvimento futuro de exames extremamente inovadores. Outro campo de pesquisa muito promissor é o estudo de moléculas de lipídios e proteínas por espectrometria de massa. “A lipidômica é um ramo recente, de cerca de dez anos, que estuda os lipídios nas células e tecidos. Existem cerca de 100 mil variedades de lipídios no sangue, nem todas com funções conhecidas”, explica Dr. Granato. “Nos próximos anos, esses padrões podem ser a base de novos exames e formas de diagnosticar.”
A metabolômica, estudando a interação entre essas partículas, promete desvendar no futuro a probabilidade de desenvolvimento de doenças graves bem antes de elas apresentarem sinais clínicos, algo que pode mudar nossa capacidade de evitar patologias, como o câncer ou doenças degenerativas – é um campo de estudos atuais do Fleury. “No caso do Alzheimer, por exemplo, estão mapeando as micropartículas no líquor cerebral, e os lípides e as proteínas no sangue de quem tem a doença, procurando padrões que indiquem quem tem maior potencial de desenvolver a patologia”, conclui Dr. Granato.
Médicos do Fleury Medicina e Saúde: Dr. Celso Granato, Dra. Maria de Lourdes Chaufaille e Dr. Alex Freire (da esq. para a dir.)
EXAMES DE PONTA
Conheça alguns dos exames mais inovadores oferecidos pelo Fleury a partir da coleta de sangue
Exames em oncologia: pesquisa de mutações gênicas para diagnóstico, prognóstico e orientação terapêutica do câncer, com foco em tumores sólidos, leucemias agudas e neoplasias mieloproliferativas.
Identificação de bactérias e fungos por proteômica: permite a rápida identificação de bactérias e fungos por meio do perfil proteico dos microrganismos, detectado a partir do método chamado espectrometria de massa.
Novos marcadores para o diagnóstico de doenças autoimunes: identificação de marcadores de doenças como síndrome nefrótica, esclerose sistêmica, Síndrome de Devic e lúpus eritematoso sistêmico.
Exame pré-natal não invasivo para detecção de alterações genéticas fetais (Harmony): identifica anomalias no número de cromossomos associadas a síndromes como a de Down, por meio da análise de DNA fetal presente no plasma das gestantes.
Sequenciamento completo do exoma para avaliação de doenças genéticas: o exoma é uma fração do genoma humano que contém material envolvido na produção de proteínas fundamentais para o funcionamento do corpo humano. O teste do Fleury é utilizado para a descoberta da causa de casos complexos de doenças ou anomalias.
Teste molecular para o diagnóstico da febre Chikungunya: pioneiro, o exame é capaz de identificar o RNA do vírus, em vez de detectar os anticorpos (que só são detectáveis a partir da segunda semana de infecção).
Com temas atuais e constantemente discutidos pela comunidade médica, o Fleury Med Podcast traz convidados renomados para lhe oferecer conhecimento médico de qualidade nas mais diversas especialidades.
Estão abertas as inscrições para o processo seletivo do Programa de Fellow em Dermatoscopia e Mapeamento Corporal 2025 do Grupo Fleury.
Conheça mais informações sobre o imunizante para VSR em bebês