O Fleury convida você a refletir sobre essa questão, que encontra diversas respostas na Biologia e na Filosofia
No filme O Feitiço do Tempo, um apresentador de televisão, vivido pelo ator Bill Murray, viaja para uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos onde se vê obrigado a acordar todas as manhãs no mesmo dia, até aprender a refletir sobre os movimentos da vida. “Será que nos tornamos incapazes de sair da repetição?”, questiona a filósofa Marcia Tiburi, professora, autora de vários livros e integrante do time do programa Saia Justa, do GNT. Para ela, o movimento – entendido não apenas como deslocamento espacial, mas como transformação – nos fascina e aflige, mas é próprio de um mundo dinâmico. Na entrevista a seguir, ela fala sobre como podemos ver a transformação nos dias “apressados” em que vivemos com os óculos da Filosofia.
Fleury Saúde em Dia: O tema do movimento sempre despertou a atenção da humanidade?
Marcia Tiburi: Em termos de espaço, é só lembrar as viagens em busca de alimentos ou climas favoráveis nos tempos pré-históricos, aquelas em direção à conquista de novos mundos ou a vontade de ir à Lua. Quando pensamos na função de mudança social, podemos nos lembrar das ações revolucionárias na política ou nas artes. Anecessidade de mudança no espaço sempre esteve ligada ao tempo. Antes, éramos mais determinados pelo espaço. Hoje, pensamos que já dominamos o espaço porque temos algum controle do tempo: transportes rápidos, internet, mudança na expectativa de vida. As novas tecnologias e a internet, ao relativizarem nossa relação com o tempo, mudam também a maneira como nos relacionamos com o espaço.
Fleury: A partir dos filósofos da Grécia Antiga, o que sabemos sobre as preocupações em relação às transformações ao nosso redor?
Marcia Tiburi: Temos notícias pela Literatura e pela Filosofia de que os homens sempre se espantaram ou se comoveram, sofreram ou se alegraram com as mudanças. O tempo que chamamos de Modernidade, os últimos 500 anos, é que colocou em cena o novo. Apenas a partir daí é que a novidade passa a ser um valor. Tudo sempre dependeu do modo como cada cultura valoriza as inovações. Muitas vezes as novidades nos assustam, e então as rechaçamos ou desenvolvemos com elas uma relação ressentida ou rancorosa.
Fleury: Você citaria obras de arte que nos ajudam a entender (e suportar) as transformações? Como?
Marcia Tiburi: No filme O Feitiço do Tempo, um “homem do tempo” de uma TV vai a uma pequena cidade para noticiar o Dia da Marmota. Após ficar um dia ali, ele passa a ter seu dia infinitamente repetido. É uma comédia com profundo sentido crítico. O que seria o feitiço do tempo? Estamos sob ele? Tornamo-nos incapazes de sair da repetição? Sobre isso, o filme de Charles Chaplin Tempos Modernos é também essencial. Um exemplo mais sutil, das artes visuais, é a action painting, um tipo de pintura que mesmo sendo estática no quadro, guarda o sinal do movimento do pintor, seu processo, que ficou ali registrado.
Fleury: Como nós, em pleno século XXI – tempo de transformações aceleradas e comunicação instantânea –, nos relacionamos com as mudanças?
Marcia Tiburi: O aspecto mais essencial para pensar o que passamos hoje é o sequestro do tempo vivido e da experiência que se liga a ele: a vida foi vivida, mas não como algo que tenha sentido. palavra “experiência” tem relação com a capacidade de compreender o que vivemos, de elaborar. Nestes tempos apressados, nossa busca precisa ser por reconstituir o que nos é roubado pelo modo de vida e que nos dá a sensação de estarmos vazios. Para sair disso, só plantando dia após dia a vontade de fazer sentido.
Fleury: As novidades encantam, mas também assustam. Por que temos uma relação ambivalente com elas?
Marcia Tiburi: Mudar é elementar e inevitável, mas implica acaso, desconhecimento, aquilo que mais nos angustia. Nossa relação com o futuro é marcada pela inconsciência, pela inconsequência ou pelo pavor. Somos ansiosos porque temos um misto de esperança e de medo.
Fleury: A vivência do transcorrer do tempo e da morte são transformações difíceis de assimilarmos. A Filosofia pode nos oferecer ferramentas para lidar melhor com essas situações?
Marcia Tiburi: A Filosofia pode ser vista como uma “atividade” do pensamento em que se busca compreensão crítica dos fatos que vivenciamos pelo ato de perguntar e buscar entender. Então, antes de ajudar – no sentido de uma autoajuda – talvez até atrapalhe. palavra “ferramenta”, um instrumento usado para consertar, armar ou montar algo, também não cabe aqui. Filosofia é uma atividade – um movimento – que interfere no entendimento da vida como se ela se reduzisse ao “funcionamento” das coisas. Mas nem sempre é ruim ser incomodado por uma teoria que nos faz pensar. Para se envolver com Filosofia, é essencial um pouco de coragem. Talvez você tenha que desistir das ferramentas e ver como se arranja com outras coisas, como olhar o céu, ficar quieto, aprender a passear pela rua ou o que mais ajude a pensar na vida.
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