Atleta com alteração no teste ergométrico: qual o próximo passo? | Revista Médica Ed. 3 - 2017

Atendi um atleta de 45 anos, assintomático, que realizou um teste ergométrico com resultado sugestivo de isquemia miocárdica, mas com desempenho físico excelente.

Atendi um atleta de 45 anos, assintomático, que realizou um teste ergométrico com resultado sugestivo de isquemia miocárdica, mas com desempenho físico excelente. Ele é corredor de longa distância e tem planos de começar a participar de competições. Que exame de imagem estaria indicado para prosseguir a avaliação desse paciente?

O coração do atleta pode apresentar um remodelamento caracterizado por hipertrofia do músculo cardíaco, decorrente de adaptações estruturais e funcionais do coração, secundárias ao tipo de treinamento físico, que pode ser predominantemente aeróbico ou de resistência, em ambos os casos, geralmente intenso e prolongado. Por isso, é relativamente frequente, no teste ergométrico, a presença de alterações da repolarização ventricular que têm possibilidade de se intensificar durante o exercício físico, tornando o exame sugestivo de isquemia, mesmo na ausência de obstrução significativa das artérias coronárias, além de arritmias complexas desencadeadas pelo esforço e de distúrbios da condução e do ritmo cardíaco.

Nesse contexto, métodos de Medicina Nuclear na área cardiológica podem ajudar a diferenciar as alterações consideradas secundárias ao treinamento excessivo da presença de doença arterial coronariana obstrutiva importante no atleta, especialmente naqueles com teste ergométrico sugestivo de isquemia.

A cintilografia miocárdica verifica a perfusão do miocárdio associada ao exercício, analisando indiretamente o fluxo sanguíneo e a reserva de fluxo das artérias coronárias de forma não invasiva após a injeção de uma substância que contém um isótopo radioativo. Dessa maneira, o músculo cardíaco é avaliado segundo seu território de irrigação, o que possibilita o estudo comparativo da perfusão das paredes anterior, septal, apical, lateral e inferior do ventrículo esquerdo nas fases de estresse e repouso.

  

Cintilografia mostra perfusão miocárdica preservada após o exercício e em repouso, sugerindo que as alterações no teste ergométrico não são de causa isquêmica.

 

Limiares ventilatórios sugerindo as frequências cardíacas adequadas para a prática esportiva. A injeção do radiofármaco pode ser realizada no 1º ou no 2º limiar ventilatório, dependendo do objetivo do exame, se para afastar isquemia em carga máxima, se para programa de reabilitação cardíaca. O importante é saber se a faixa de treino não está sendo programada em carga isquêmica

Também é possível associar a cintilografia ao teste cardiopulmonar. A combinação da análise da perfusão miocárdica e da função ventricular esquerda da cintilografia com a análise eletrocardiográfica, clínica, hemodinâmica e dos gases expiratórios obtida pelo segundo é de grande auxílio para liberar o atleta para a prática esportiva competitiva, assim como para auxiliar a programação física adequada do esportista que pretende iniciar ou retomar suas atividades de forma não competitiva, como procedimento de reabilitação cardíaca, de forma segura.

No caso de seu paciente, a cintilografia de perfusão miocárdica combinada ao teste ergométrico ou ao teste cardiopulmonar terá papel diagnóstico fundamental na diferenciação da causa das alterações observadas na avaliação inicial, podendo ainda ser de substancial ajuda para a programação de atividade esportiva contínua e a liberação desse atleta para participação nas competições.

Assessoria Médica
Cardiologia e Medicina Nuclear
Dra. Paola Emanuela P. Smanio
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Métodos Gráficos
Dr. Antonio Sérgio Tebexreni
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Dr. João Manoel Rossi
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