Como flagrar a replicação do citomegalovírus a tempo de prevenir formas graves da doença viral | Revista Médica Ed. 4 - 2011

A monitoração do início desse processo por antigenemia ou PCR em tempo real permite o uso de terapia específica apenas nos casos necessários.

A monitoração do início desse processo por antigenemia ou PCR em tempo real permite o uso de terapia específica apenas nos casos necessários.

De modo geral, a maior parte da população adulta apresenta sorologia positiva para IgG contra citomegalovírus (CMV), denotando infecção pregressa. É conhecida a característica desse agente de manter-se latente nos tecidos do indivíduo após a infecção primária, o que explica sua capacidade de reativação na vigência de imunossupressão. Entre os pacientes neutropênicos, os receptores de transplante de células-tronco hematopoéticas (TCTH) são os de maior risco para doença grave por citomegalovírus. Esses indivíduos podem apresentar infecção primária – quando um receptor IgG-negativo recebe o enxerto de um doador IgG-positivo – ou, mais frequentemente, reativação de infecção latente. O início da replicação viral usualmente não causa sintomas, porém, se não for instituída terapia antiviral específica, é comum o desenvolvimento de manifestações clínicas, que podem variar desde um quadro febril inespecífico até infecções disseminadas graves. Dentre os sítios de acometimento visceral, o pulmão e o trato gastrointestinal são os mais frequentes. Ademais, a infecção ativa por CMV pode retardar a pega medular e aumentar a incidência de doença do enxerto contra o hospedeiro. Com base na grande morbimortalidade associada à doença por CMV no contexto de TCTH, o uso de profilaxia para essa condição tem impacto na sobrevida de tais pacientes. Entretanto, a medida esbarra na

s toxicidades inerentes ao ganciclovir – o antiviral de escolha contra o CMV – e seus precursores, especialmente em sua mielotoxicidade. Nos últimos anos, a literatura científica demonstrou que a monitoração da replicação viral em sangue periférico, seguida da instituição de terapia ao primeiro sinal de infecção ativa, antes do surgimento dos sintomas, é igualmente eficaz. Essa estratégia – denominada preemptiva – evita o uso desnecessário de droga antiviral, minimiza as toxicidades e permite que o momento inicial da replicação estimule a reconstituição da imunidade específica contra o CMV, o que é importante para prevenir as formas graves da doença.

A contribuição do laboratório na monitoração da replicação do CMV
Para monitorar a replicação do CMV, utilizam-se técnicas para a detecção de antígenos ou do DNA do vírus na corrente sanguínea. A antigenemia identifica, por meio de imunofluorescência, células polimorfonucleares do sangue periférico que expressam o antígeno pp65 do CMV. O método é quantitativo e fortemente correlacionado às manifestações clínicas, de modo que tem alto valor preditivo de infecção ativa e progressão para doença, além de permitir a avaliação da resposta terapêutica. Por outro lado, o emprego desse exame é restrito na presença de neutropenia importante (abaixo de 10 células/mm3), pois, nessas circunstâncias, a sensibilidade do teste fica comprometida. Recentemente, a PCR em tempo real para CMV mostrou-se igualmente útil para a constatação de infecção ativa. A técnica é bem mais sensível do que a antigenemia e, por ser realizada no plasma, não depende da contagem de neutrófilos. Por outro lado, tal sensibilidade requer uma avaliação cuidadosa do significado clínico de resultados com baixa carga viral, que, por vezes, podem não estar associados a sintomas relevantes. Assim, em imunossuprimidos, a cinética viral mostra-se mais importante que um resultado isolado para a decisão de início de terapia, isto é, a evidência de aumento da replicação por elevação da carga viral em exames seriados corrobora a hipótese de infecção em atividade.


Assessoria Médica
Dr. Celso Granato: [email protected]
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